Elizabeth Alencar

— Ela vai amar! — Victor Afirmou — Este vestido é uma mistura da inocência e sensualidade que existe na nossa menina. Vai deixar qualquer homem babando. Além do mais a cor combina com os olhos de jambo que se destacam no delineado natural dos contornos dos olhos dela. É perfeito. Veja você mesmo. — Ele parou de falar e fixou os olhos no meu cabelo — Adorei o cabelo.

Meus olhos se encheram de deslumbre quando me aproximei da peça. O tecido de camurça reluzia um efeito de sensualidade inrustida e modéstia, e enquanto deslizei os dedos fascinada pelo decote discreto, me peguei pensando no homem que o Cesar falou.

Quem era ele?

Um velho barbado?

Não!

Cesar nunca faria isso comigo.

Ele sabia que odiava os velhos babões que andavam com o meu pai.

E se fosse um príncipe, e se me apaixonasse por ele? Seria mais fácil nossa convivência.

Não, jamais me apaixonaria por alguém capaz de comprar uma mulher. Porque foi isso que ele fez tentou me comprar.

— me comprou... — Resmunguei

— falando sozinha de novo? Esquece, você vive resmungando! As costas é o up do vestido — Victor falou me tirando do meu desvaneio. Ele virou as costas do vestido com tanta delicadeza que pareceu uma joia precisosa.

Duas corrente de pedrinhas de diamantes formavam um lindo arco invertido nas costas nuas.

— O decote? — Engoli em seco, fascinada.

— Não é lindo? Feito especialmente para você!

— Escobar vai te matar! — Elen falou ao meu lado

— Ainda está aqui? Pensei que já estivesse ido. — Victor cruzou os braços.

— Ainda bem que fiquei para colocar um pouco de juízo na sua cabeça. Pode refazer. Liz nunca usaria algo tão... enfim, algo como esse vestido.

— Só por causa das costas?

— É indecente, Victor! Ate parece que nao conhece Escobar. ! — Elen dispara, falando baixo e olhando para os lados. — Esquece.

— É puritana, menina? — Ele me perguntou neguei sem dizer nada— Nem puritana nem uma senhora de idade para vestir sempre como velha!

— Escobar vai matar ela e fazer destroço de você.

— Que inferno, Elen! Quantos anos ela tem? Doze? Está mais do que na hora dela decidir o que vestir e tomar as próprias decisões.  Liz é linda e todos devem vê-la radiante e não como criança.

— Não cabe a você decidir, Victor!

— Cabe a quem então?

— Ei!! Eu estou aqui— Sussurrei e eles dois me olharam — não precisam brigar por minha causa. Realmente não é apropriado, mas muito obrigado por pensar em mim desse jeito. O vestido é realmente lindo.

— Ficaria ainda mais lindo em você! — Ele faz biquinho e cruzou as mãos em frente ao corpo. — De qualquer jeito vou mandar entregar na mansão e se amanhã mudar de ideia estará no seu guarda roupa esperando só o seu corpinho lindo para deixa-lo mais perfeito.

Aceitei, sem jeito. Me afastei olhando para a peça depois de me despedir.

Confesso que algo naquele vestido e o homem que ainda nao tinha um rosto ficou na minha cabeça durante o resto do dia. E durante todo o trajeto até a mansão José, o nosso motorista, teve que chamar minha atenção várias vezes enquanto me perdia em pensamentos olhando pela janela do SUV

— Está pensativa, menina Liz! — José falou quando o farol fechou e seus olhos encontram os meus no retrovisor.

— só cansada da viagem, jose! Cheguei cedo e fui direto para a revista — Afimei me concentrando para lembrar o que ele dizia. — E sua esposa, está se recuperando da cirurgia?

— Sim, mas a senhorita conhece aquela cabeça dura. Vive falando que não aguenta ficar na cama e blá-blá-blá... Ela quer vir trabalhar de qualquer jeito, mesmo o médico dizendo que não é apropriado para a recuperação.

— Não deixa, jose! Por mais que eu sinta a falta da Dora a recuperação dela é mais  importante. Vou me programar para fazer uma visita. Dora deve estar mesmo entediada para querer voltar para a mansão.

— Voce sabe de quem ela sente falta. Dora ama você, Liz e sua companhia nunca é entediante

Dora é minha babá.

Sim, ainda tenho uma babá ou podem chamar de uma supervisora para que eu não me atire do penhasco. Ela sempre está ao meu lado só não foi comigo para Paris porque precisou fazer uma cirurgia de emergência.

— Seria ótimo uma visita, menina.  Ela vai ficar muito feliz.

O farol abriu e ele voltou a atenção para a avenida. Encostei a cabeça no vidro e voltei a olhar pela janela.

Quando cheguei na mansão murmurei um adeus baixinho para o José e subi para o meu quarto arrastando uma pequena mala de mão que levei de viagem. Um alívio me ocorreu quando não encontrei ninguém que precisasse sustentar um sorriso ou uma conversa no corredor ou na escada.

Não que eu não gostasse das pessoas que trabalhavam para nós, mas estava cansada demais e algo durante aquele dia sugou tanto a minha energia que após tomar um banho quente fui direto para a cama

Antes de fechar os olhos encarei a decoração do meu quarto.

Frisei o balanço suspenso dourado que raramente conseguia me sentar, a não ser para reproduzir uma foto ou outra. Os vários livros de romance na estante que a muito tempo não conseguia ler. O quadro de pintura na sacada que deixei inacabado antes de viajar. Esses eram os poucos objetos que eu realmente me identificava dentro daquelas paredes. O resto eram coisas de quando eu era criança e que nunca fui capaz de me desfazer.

Por que?

Porque me sentia presa naquela outra realidade.

Porque me sentia uma pessoa sem voz enquanto as vozes na minha cabeça dominavam os meus pensamentos. foi só eu voltar para essa mansão que o que eu pensei ter deixado para trás voltou com força.

Aquele quarto rosa não me deixava esquecer que me perdi...

me encolhi quando o barulho da minha mente começou a ficar mais forte ... vozes sem sentindo que não consigo controlar. Vozes que estão aqui dentro por vários anos me dizendo o que devo ou não fazer. Essas vozes fazem parte de mim, no início era insuportável, não conseguia controlá-las, as vezes pensava em desistir e apenas ouvi-las...

Ainda estava encolhida com a cabeça coberta quando o meu pai entrou no quarto para me desejar boa noite.

Apertei os olhos com forças e fingir estar dormindo

Não queria escutá-lo, a voz dele deixava as vozes na minha cabeça mais agitada.

também não queria ouvir ele falando sobre a viagem e os motivos que me prendia dentro do castelo de Ouro. Era assim que minhas colegas da escola chamavam a mansão, isso quando não estava me zoando de filhinha de papai por ter tudo que elas cobiçavam... O que elas não sabiam era que me faltava a liberdade de viver minha própria vida!

— Boa noite, Liz! — Sussurou deixando um beijo sobre o edredom rosa.

Permaneci com os olhos prensados, estava tão cansada que cai num sono profundo.

Dormir que perdir o horário do café da manhã.

— Onde está Cesar e o papai? — Perguntei ao José  enquanto descia as escada.

— Os dois saíram bem cedo, menina !

— Foram para a revista? Não sabia que iriam trabalhar hoje.

— Acredito que não! O senhor Alencar me dispensou e pediu que eu ficasse a sua disposição. Já o senhor Cesar saiu bem antes.

— Entendi.– Afirmei assim que me aproximei — Não vou sair hoje, por isso pode tirar o dia de folga.

Ele assentiu caminhando comigo até a cozinha

— Estarei por aqui se precisar. — Falou antes de sair e me deixar sozinha.

O sol estava lindo do lado de fora e decidir tomar café no jardim 

Depois de muito tempo sem atualizar minhas redes sociais postei uma foto dos meus pés na beirada da piscina. Como sempre, em poucos segundos, choveram comentários e milhões de pessoas curtiram o meu pôster. 

Quando a tarde chegou, o entra e saí dos organizadores da festa na mansão ficou  insuportável e imediatamente subi para o meu quarto, mas acabei me arrependendo ao entrar e dar de cara com os funcionários que o meu pai contratou para me ajudar a me vestir.

O Meu quarto parecia um brechó de luxo com várias araras e vestidos de grifes.  Tinha maquiagens, escovas, acessórios espalhados na cama e quatro moças paradas em linha reta no canto do quarto.

— Podemos começar? — Uma delas falou  caminhando na minha direção.

Ela tocou minha mão e ainda estava sem reação quando deixei que me puxasse até o banheiro.

Eu nunca me acostumaria com aquilo!

Minha vontade era de gritar, mas como sempre minha voz ficou presa na garganta.

Me sentia oprimida e não sabia se era o certo me sentir assim, afinal eu tinha tudo. Mas por que me sentia tão vazia? como se não tivesse nada dentro de mim?

— Está se sentindo bem, senhorita Liz?

— Hum?

— Está chorando!

Estava olhando para o espelho enquanto as lágrimas escorriam dos meus olhos.

Estava me sentindo um boneco enquanto uma levantava o meu braço para tirar a alça do pijama que ainda estava vestindo. A outra preparava a banheira e a terceira mexia em meu cabelo com um olhar de desgosto.

— Nao é nada!— Falei engasgada e continuei encarando minha imagem sem encontrar vestígio da mulher que disse que seria quando deixei Paris

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Comments

Elen ❤️

Elen ❤️

tem tudo e não tem nada.

2024-03-28

1

DALILA

DALILA

vera , como sempre você arrasa.

2024-03-16

1

Andreia Cristina

Andreia Cristina

meu Deus que angustiante ver essa pobre menina rica não poder espressar suas vontades isso é muito frustante

2024-03-05

0

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