Elizabeth Alencar

Os dedos do meu pai apertavam o meu braço com força.

Depois que desci da sacada encontrei ele me procurando no corredor da mansão.Foi só ele me ver que o desprezo e a frieza tomou conta dos seus olhos.

— Não é o que o senhor está pensando! — Me apressei em me explicar.

— Esse corredor só tem uma saída.

— Para a sacada, eu sei!

— Elizabeth !— Ele advertiu, visivelmente alterado

— Eu estou aqui não estou?

— Olha como fala comigo!

— Só estou tentando dizer que não é nada do que está pensando só precisava de ar!

— Você tem a mansão inteira, o jardim, a varanda do seu quarto... por que a sacada? O que pretendia fazer?

Revirei os olhos

— Independente do que eu pretendia, nada aconteceu!

Uma expressão perplexa enrugou a testa dele.

Ele negou, esfregando as têmporas com as pontas dos dedos enquanto seu olhos recairam sobre o meu corpo.  Todos os meus pelinhos se arrepiaram conforme seus olhos passearam por cada parte do vestido.

— E isso ai? Onde pensa que vai vestida assim? — Perguntou com sua voz alterada.

Parece que o assunto da sacada foi logo substituído pela minha escolha de roupa.

Ele desviou o seu olhar para o final do corredor e antes que eu conseguisse ver algo meu pai segurou o meu braço e me puxou para dentro da biblioteca.

Escobar estava agitado e furioso. Sua postura não denunciava isso, mas os olhos inquietos e como respirava enquanto trancava a porta deixava óbvio que algo mais o perturbava além do meu suposto sumisso e minha vestimenta. 

Encarei minhas mãos quando ouvi seus passos se aproximando. Esperava que,

só dessa vez, ele fosse pegar leve com seu sermão e suas explicações rotineiras de como devo seguir suas ordens.

Ele encarou a minha coxa onde começava uma fenda que deixava minha perna direita a mostra.

Tentei esconder, virando de costa, mas foi ainda pior.

– Você parece não saber qual é o seu lugar!

— Não!  mas o senhor jamais me deixa esquecer!

— Você é minha filha, Elizabeth!

— Um fardo que levarei para o resto da vida!

— Não tenho tempo para discutir com você.

— Seus convidados estão esperando, acertei?

Mal terminei de falar e ele me virou de frente para ele batendo as minhas costas contra a parede.

— Nossos convidados! — Corrigiu friamente. — Onde foi que eu errei, Elizabeth? Sua mãe teria vergonha da filha rebelde que se tornou.

Minha mãe... neguei sentindo meu coração se agitar conforme o peso daquela frase mexia com todos os meus sentimentos.

Respirei fundo, controlado a respiração.

Meu maior medo desde pequena era  decepcionar a mulher que morreu para que eu viesse ao mundo e meu pai sabia disso e usava esse meu lado vulnerável para controlar minhas vontades.

Ele tocou no ponto que mais me doía, e sabia disso, principalmente ao ver as lágrimas escorrerem dos meus olhos.

— Oh minha filha, sinto muito tocar na memória da sua mãe, mas você não me deu escolhas. Precisa se conformar que não pode ficar cinco minutos sozinha! Olha essa roupa tá parecendo uma prostituta barata vestida assim. Suba, vá e troque esse vestido coloque o que seu pai escolheu e todos ficaremos felizes.

Ele abriu um sorriso quando abaixei a cabeça como uma boa menina e me afastei controlando a raiva.

— Elizabeth — Virei-me para encará-lo antes de sair.— De quem foi a ideia de usar esse vestido?

— Eu trouxe de Londres! — menti, para proteger o Victor.

A ideia de colocar o vestido era apenas para experimentar, depois que as minha ajudantes saíram do meu quarto desfiz toda a produção e coloquei o vestido que Victor fez especialmente para mim, e nunca me senti tão bem... ele ficou lindo...perfeito. me senti outra pessoa. Tão diferente do vestido que o meu pai escolheu para mim, um preto, sem graça que mais parecia de uma viúva, solitária.

— Pois queime, não quero vê-la vestida assim novamente.

Deixei ele sozinho e quando estava subindo as escadas para me trocar fui abordada por alguns convidados que me puxaram para o jardim, meu pai assistiu a cena com a mesma cara de ódio com que me abordou minutos atrás.

O vestido de Victor além do decote nas costas tinha uma fenda que deixava a minha perna totalmente a mostra, mas não era isso que o incomodava, era só pelo simples fato de ser uma escolha exclusivamente minha e não dele.

— senhorita, Elizabeth! Você está deslumbrante e a pergunta que nao quer calar; nasce uma nova Liz depois de hoje? — Um dos fotógrafos perguntou quando chegamos no jardim.

Me encolhi quando meu pai me puxou pelo braço diminuindo nossa distância.

Os dedos dele continuaram no meu braço, apertando um pouco mais enquanto a atenção dos presentes se concentravam em mim e na minha aparência. 

No fundo, entre os muitos convidados estava um par de olhos frios me examinando. A pouco ele espanjava um sorriso controlado e seus olhos transmitia o mesmo calor que presenciei na sacada, mas agora não conseguia encontrar nada em seu olhar, nenhum vestígio do homem que me abraçou e me acolheu em seus braços  calando todas as vozes dentro da minha cabeça. Enquanto estava em seus braços minha mente silenciou... pela primeira vez, eu conseguir escutar a mim mesma.

— Responde, Liz! — Cesar falou tocando minhas costas por trás do meu pai.

Continuei sem reação até o meu pai tomar a frente.

— Minha filha só está vestida assim para a divulgação da nova coleção da revista Le charme! É só uma prévia do que esperar no final de semana— meu pai falou — Não se atreva aparecer assim novamente, Elizabeth!

Sussurou no meu ouvido após seu discurso improvisado.

Minha vontade era de correr e me esconder em qualquer lugar.

Felizmente, a atenção não recaiu sobre mim novamente, todos ficaram  impressionados com o poder de persuasão do meu pai enquanto explicava sobre a nova coleção da revista.

Era impressionante como ele conseguia manipular todos a sua volta inclusive eu. Com o passar dos anos, aprendi a ser exatamente o que ele queria. Sabia falar no momento certo, vestir o que ele achava adequado, se portar exatamente como uma dama da alta sociedade.

Pensando nisso, estava surpresa por conseguir autorização para passar alguns  dias em londres sem ninguém de sua confiança por perto, porque era assim, onde eu estava sempre tinha alguém para guiar os meus passos. E sinceramente aqueles foram os melhores dias da minha vida.

Daria tudo para voltar no tempo e reviver aquela viagem e tudo para ficar longe e não precisar sorrir ou posar como boa moça quando na verdade só queria fugir. 

Desfiz o meu sorriso e me agachei para afrouxar as sandálias que estavam começando a apertar os meus tornozelos quando um homem se aproximou para cumprimentar o meu pai.

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Comments

Andreia Cristina

Andreia Cristina

pobre menina não tem voz pra enfrentar esse homem q não merece srt chamado de pai

2024-03-07

2

Andreia Cristina

Andreia Cristina

pobre menina não tem voz pra enfrentar esse homem q não merece srt chamado de pai

2024-03-07

0

Charlotte Peson

Charlotte Peson

Aí Elizabeth será que vc irá sair de inferno para entrar em outro?? ou Jhon irá se entregar a esse amor!

2024-03-05

2

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