Elizabeth Alencar

Sentamos e enquanto eu falava sobre os museus que visitei, os desfiles e óperas, tudo o que ele queria ouvir, pensava em um jeito de dizer o que realmente importava para mim. Estava decidida a morar na Europa só precisava de coragem para contar-lhe meus planos.

Sustentei um meio sorriso e me levantei.

Meu pai estava sentado na cadeira de vice presidente do meu irmão e sustentava um semblante nada satisfeito, como se soubesse onde aquela conversa iria chegar. Pensei em ser mais direta e dizer logo o que pretendia, mas isso não funcionava com o sr Escobar. A opinião dele sempre prevalecia no nosso meio, por isso precisava mostrar-lhe que já posso cuidar de mim mesma sozinha. E principalmente, que  conseguia estar na frente do marketing da revista mesmo estando longe.

— Pai, estava pensando... — Suspirei colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha. — Esse tempo que passei longe foi...

— Foi algo que não acontecerá novamente, Elizabeth!— Ele suspirou, abotoando o paletó com a elegância de um magnata.

murchei, como se estivesse levado um tapa na cara ou um banho de água fria.

— por que não?

— Os motivos você conhece bem.

— Aquilo nao vai acontecer novamente !Eu estava em uma fase ruim!

— E quem me garante que essa fase não vai voltar?

— Eu! minhas palavras não servem para o senhor?

— Assim como me prometeu que nunca mais subiria naquele terraço?

– É diferente!

– Diferente como? Vai trocar o terraço da mansão  por um prédio em Paris? Quem vai estar lá para te supervisionar?

— Não preciso de babá, fiquei quatro meses sozinha e nada me aconteceu.

— Isso não quer dizer nada!

— Não sou mais uma criança!

— Mas se comporta como uma! — Fala exaltado se levantando  — Chega desse assunto, está completamente fora de questão você morar sozinha em outro país.

— Mas papai...

Ele levantou a mão ao passar por mim, e colocou o dedo indicador nos meus lábios...

— Não, discuta com o seu pai só eu sei o que é melhor para você!

Ele deixou um beijo na minha testa e saiu.

Não consiguir falar ou ir atrás. Como uma boa menina permaneci calada o vendo sair com sua pose de magnata, o qual ninguém, além do meu irmão, ousava contrariar.

A porta se fechou e a única coisa que conseguir fazer foi me jogar no sofá e encostar o meu rosto na palma da minha mão.

Sustentar minhas decisões na frente do Escobar era muito difícil. Me recordo da primeira vez que tentei assumir o controle do meu destino. Foi dentro dessa revista quando os trabalhos de modelos começaram a aparecer. Eu sempre gostei de posar para fotos, desfilar. Vivia nas passarelas experimentados os modelos do Victor, nosso estilistas. Ele sempre tinha um modelo exclusivo para mim. Mas quando a brincadeira começou a virar meu sonho tudo foi por água baixo quando decidir contar para o meu pai. E desde então ele vem tomando qualquer decisão sobre a minha vida. Da roupa que eu uso até a faculdade que eu fiz por escolha dele.

Mais tarde, mesmo sentindo a cobrança do corpo devido as muitas horas de voo no jatinho da família, encontrei Eleonor no corredor da revista e, enquanto caminhávamos ate o ateliê, ela foi me atualizando sobre os últimos detalhes do desfile da " Le charme", revista de moda criada em 1986 pelo senhor Escobar Alencar que acontecerá no sábado.

— Seu pai me mata se não sair tudo como planejado! — Ela entrelaçou o braço no meu abrindo um sorriso amarelo.

— Tenho certeza que fez tudo o que estava ao seu alcance, Elen. — confortei chamando pelo apelido carinhoso que usava quando criança.

— Anos como assistente pessoal dele e ainda não me acostumei. Minhas pernas  tremem antes de cada evento como esse.

— Não tem porque ficar nervosa, papai reconhece o seu valor mesmo sem demonstrar. Isso aqui não é nada sem você!

— Gostaria de acreditar nisso, mas conhecendo o Sr Escobar, no dia que algo der errado ele não vai pensar duas vezes antes de me demitir. Mas muito obrigada pelo apoio, como sempre um doce de menina! Não sei como sobreviveu ao furacão e ao mal humor da família  Alencar.

Toquei sua mão que permanecia em meu pulso. Gosto muito da Elen. Quando criança minha vida se resumia em ir a escola, aulas de ballet, piano, inglês e passar tardes e noites enfiada na revista. E várias vezes contava com a Elen para brincar de esconde- esconde. Deixava essa mulher e Dora, minha babá,  louca durante os desfiles quando me escondia em baixo de alguma arara ou até mesmo dormia em algum canto escondida.

Muitas vezes ela foi minha referência de beleza já que não tive uma mãe em casa a quem me espelhar. Gostava dos seus cabelos curtos com a nuca levemente a mostra e sua autoconfiança em sustentar os poucos cabelos brancos que se destacavam no loiro claro dos fios.

Quando eu era menor Elen dizia que quando eu crescesse iria brilhar na passarela devido minha altura e meu corpo magro, sonhei com isso a vida toda. Com desfiles, fleshes... muitas e muitas viagens... mas hoje trabalho apenas com marketing da revista, esse foi o jeito que o meu pai conseguiu para me manter debaixo dos olhos dele e bem longe das passarelas.

Abri um pequeno sorriso quando entramos na sala do Vitor, nosso estilista.

— Não aceito! Pode falar o que quiser, mas se não usar o vestido que desenhei exclusivamente pra você nunca mais me chame de amigo!

— Não seja exagerado, Victor — Elen o repreendeu antes dele se chocar contra o meu corpo.

— Exagerado? Eu? Nunca! Desenhei o vestido dos sonhos para a minha menina usar nas duas próximas datas mais importantes da elite  e sabe o que ela fez?

— Se eu dizer que sim você cala a boca? — Elen perguntou cruzando os braços.

— Não! — Ele afirmou segurando nos meus braços para me olhar dos pés a cabeça — Estava no desfile da Dior. Sabe o que é isso? Me traiu.

— Não é bem assim, Victor! Eu sou do marketing fui apenas para criar conteúdo e trazer tendências — Me justifiquei

— Sei— Sussurrou e me deu as costas parando diante de uma fila de vestidos que estavam enfileirados em capas plásticas. — Espero que seu manequim não tenha mudado.

— Não engordei se é isso que quer saber.— Afirmei

Elen revirou os olhos e cochichou no meu ouvido

— Não ligue para ele! Está de TPM.

— Eu ouvi! — Ele gritou tirando um vestido verde musgo de dentro da capa plástica e colocando sobre a mesa.

— Não me importa! — Elen rebateu— Tenho que ir, o dever me chama. Liz se não gostar do vestido não hesite em negar. Conhece o Victor ele é todo melodramático, mas tem um coração de ouro, vai entender

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Comments

Renata Marcelina

Renata Marcelina

Algo me diz que mesmo o Escobar sendo ruim, o psi do Jonh fez algo muito sério contra ele no passado, por isso ele agiu da forma que agiu, erradamente na minha opinião. Pois não podia ter feito o que fez com uma criança que não tinha ninguém

2024-04-06

1

Elen ❤️

Elen ❤️

estou gostando da história, como sempre a autora é perfeita em sua escrita.

2024-03-27

0

Andreia Cristina

Andreia Cristina

menina vc já é de maior mais é tratada como uma criança perca esse medo e vai viver seus sonhos

2024-03-05

1

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