Os olhares dos Descendentes os perfuraram como balas assim que pisaram no hall do prédio. Cochichos vindos de todos os lados, inundaram o lugar. A força da presença deles, unida ao número, causava tanto admiração quanto intimidação. E sem conhecer suas identidades, a curiosidade também instigava uma tentativa de aproximação.
— A Ordem os dá boas vindas. – Noah, o primeiro despertado dentre os Sacerdotes, tinha ido recepciona-los pessoalmente. Com um sorriso gentil nos lábios, estendeu a mão direita para cumprimentar Huan. Sem demora, seu irmão respondeu a saudação.
Era ele quem estava à frente daquela missão, e isso se devia ao fato de um deles ter sido morto naquela noite. Não cansariam até encontrar o culpado e o produto que haviam perdido. Os Sacerdotes eram considerados seres “agraciados pela luz de Deus” na terra, matar um deles, era o mesmo que matar um anjo.
Noah era um homem aparentemente gentil e receptivo, mas era observador e afiado como uma lâmina. Qualquer passo em falso na sua presença seria suficiente para uma retaliação. Branco amarelado, cabelos loiros como ouro, magro e alto. Tudo nele era chamativo, mas os olhos, esses eram a fonte da desgraça de qualquer ser que ousasse subestimá-lo. O tom frio de azul acinzentado não escondia a cobiça na direção dos membros do Fantasma Negro, e isso incomodava Khan.
Seu desejo era de ter controle total sobre eles, mas sem um bom motivo para isso, apenas o alimentava, esperando por uma oportunidade. Ou mesmo criando uma.
A seu lado, estava Trinity. A terceira dentre os Sete. A Descendente era ruiva, tinha o rosto cheio de sardas, e os olhos verdes não paravam um segundo, conferindo cada detalhe deles.
— Estou ansioso para conhecer o grupo que atuará junto do Fantasma Negro. – Huan comentou, olhando para os soldados atrás de Noah.
— Hoje os Corvos irão supervisionar o grupo que irá com vocês, eles ainda são jovens, e alguns mais empolgados que outros... Conto com sua paciência. – Explicou, se saindo da responsabilidade. Era uma missão visivelmente suicida.
— Não se preocupe, quase todos os membros do Fantasma Negro são tolerantes. – O quase em ênfase que seu irmão se referia, pertencia a Khan.
— Ótimo, sinto que todos se darão muito bem. Vamos conhecê-los?
— Claro!
A alegria na face de Noah embrulhava o estômago de Khan. Infelizmente, teria que aturá-lo até o fim daquele trabalho.
Antes de saírem, Trinity se aproximou de Cheng e parou na sua frente.
— Arma bem interessante, essa sua. Me mostre uma bala dela. – Exigiu, estendendo a mão. Rabbit continuou imóvel.
— Não recebo ordens suas. – A resposta foi em mandarim, e ela não o entendeu. Rindo sem graça, Huan o olhou.
— Mostre a ela. – Ordenou entre dentes, também em mandarim. Obedecendo de imediato, Cheng tirou o projétil do pente estendido e entregou a ela. Após conferi-la, a devolveu como se não tivesse visto nada demais.
Khan quis rir, mas a curiosidade incomum dela pela arma, lhe deixou com uma pulga atrás da orelha. Uma maga interessada em armas de fogo? Besteira! Era bem provável que tivessem achado algo no rio Hudson, mas sem uma arma compatível, não teriam como acusa-los. Não eram o único esquadrão com armas próprias.
Seguiram para o subsolo, onde ficava a base de treinamento da Ordem. O lugar era bem maior que o deles. Pudera, eles não treinavam ogros, orcs ou mesmo metamorfos.
Os deixando com o grupo que iria na missão com eles, Huan acompanhou Noah e Trinity para uma base abaixo de onde estavam. Totalmente desinteressados em socializar, cada um seguiu para um ponto de interesse.
Cheng foi para o centro de tiro, seguidos de muitos outros. Yang não parecia interessado em nada, então se juntou a Khan e ficou encostado na parede em um canto qualquer. Por mais que seu silêncio e seu comportamento em se distanciar de todos deixasse claro suas intenções, nem todos eram espertos o suficiente para entendê-lo.
— Ei! Uniforme interessante! Você não matou um dragão pra fazer ele, né? – Um dos membros do grupo que a Ordem havia escolhido, se aproximou de Khan. Sentado de forma desleixada na mesa a sua frente, o garoto de cabelos verde lima devia ter no mínimo dezoito anos. Os olhos alaranjados brilhantes com pupilas verticais, e as escamas que trazia no rosto e no pescoço, denunciavam que era um draconiano.
— Não mato dragões... – Confessou. – O que não significa que não posso matar você. Vaza daqui!
— Uau! Era pra sentir medo? Que tal um duelo? Vamos ver quem pode matar quem.
Hermes riu.
— Garoto, é melhor ouvir ele.
— Não esquenta, eu me garanto. – Afirmou, encarando Khan com um sorriso largo.
— Não sei nada sobre esse uniforme, mas você... Você é especial. Eu sinto. – Em algum momento que não tinha percebido, outra garota havia sentado na mesa. O cabelo preto com mechas roxas, totalmente liso, passava de sua cintura. Vestia um vestido curto e apertado. Os olhos de estranho tom rosa fitavam Khan com desejo.
De forma atrevida, ela esticou a perna direita na direção dele. Deslizando o pé em suas pernas, subiu em direção ao membro de Khan. Segurando o tornozelo dela antes que chegasse nele, a apertou. Ela gemeu.
— Ah, você gosta de dominar? Pode me amarrar se quiser. – Ela ergueu os braços na direção dele, simulando já estar presa. – De quem é esse cheiro doce nojento que sinto em você? Não gosto dele!
Irritado, Khan aumentou a força no aperto e ouviu o osso do tornozelo estalar. Ela gemeu novamente, mas dessa vez de dor. Não sentia a atração que ela exalava, mas conseguia vê-la. A fumaça rosa tomava o corpo dela inteiro, mas se dissolveu assim que a dor parou de ser excitante.
Ela tinha conseguido sentir o cheiro de Aiyê nele, como? Não havia estado com ela depois do episódio do envenenamento, e não tinha provado do sangue dela. Não que se lembrasse.
— EI, BABACA! SOLTA ELA! – Outro deles resolveu se meter. Pela aparência, era irmão gêmeo da garota que ele segurava.
— Leve sua irmãzinha daqui, antes que eu quebre todos os ossos do corpo dela. – Ameaçou, jogando a perna dela pra longe.
— Você vai fazer o que?! – O garoto se aproximou a passos largos.
Com a respiração oscilando, ela o encarou. Estava com raiva. Khan devolveu a mesma intenção em seu olhar, e mesmo que soubesse que era impossível que o vissem através daquele capacete escuro, sabia que ela conseguia vê-lo.
Assim que seus olhos se encontraram, os dela se arregalaram. De imediato, se encolheu, desviando o olhar.
— Deixa pra lá, não vale a pena. – Tentou convencer o irmão.
— Esse imbecil quase quebrou sua perna!
— Deixa pra lá, Liam! – Foi enfática. Evitava olhar para Khan novamente.
— Consegue andar? – Perguntou preocupado. Ficando de pé, a garota testou.
— Consigo. Agora cala a boca, e volta pra mesa. – Dando as costas, os dois seguiram de volta para a mesa onde estavam antes.
— Onde estávamos, antes daquela vadia chegar? – O draconiano se manifestou novamente. Khan respirou fundo. Desencostando da parede, parou na frente dele.
— Vaza... Daqui! – O tom de sua voz mudou, ficando cacofônica. Estava perdendo a paciência.
Surpreso, e sentindo a pressão da intenção assassina de Khan, o draconiano se esgueirou e saiu da mesa. Estava prestes a ir embora, quando Huan voltou e chamou a atenção de todos.
— Que maravilha! Estão se enturmando? – Perguntou rindo.
— Tá me achando com cara de babá?! Que merda é essa?! – Khan gritou em mandarim, apontando para os garotos.
Rindo de nervoso, o irmão se aproximou dele. A postura parecia relaxada, tinha as duas mãos nos bolsos da calça social. No entanto, por dentro, a tensão o tomava. Sabia que aquela situação era merda, mas não tinha o que fazer. Estavam claramente sendo testados, precisavam seguir o script.
— Sei que está cansado e irritado, mas tente ser menos tempestuoso, sim? Estamos sendo testados. – Sussurrou a última frase, dando um sorriso forçado.
— Saber não tira a porra do peso, tira?! – Khan o encarou. A vontade que tinha era de arrebentá-lo na porrada, e para não realizar seu desejo ali mesmo, passou por Huan esbarrando em seu ombro.
Seria um verdadeiro massacre.
Não se importava que os membros do Fantasma Negro morressem, eram todos adultos, e possuíam experiencias em missões anteriores. Mas, aqueles moleques... Não faziam ideia da merda em que haviam se metido!
Passando os olhos sobre eles, Khan bufou, cruzando os braços. Todos adolescentes, recém chegados a Ordem. Era visível pela forma que olhavam para tudo em volta... Não possuíam experiência alguma em batalhas reais!
Aquele maldito Sacerdote pretendia foder com eles de vez!
Se aproximando do draconiano, Huan riu.
— Você é bem confiante, mas, aconselho usar melhor a cabeça. Por um acaso faz ideia de quem é ele? – Perguntou, apontando para trás, onde Khan estava.
— Preciso saber? – Questionou, não dando a mínima. Huan riu novamente.
— Não sei dizer se você é só ignorante, ou burro mesmo. O nome dele é Tiger. General Tiger. Já ouviu falar? – Diante sua pergunta, o garoto arregalou os olhos e voltou a olhar para Khan.
— É ele mesmo?! O Tiger?! Aquele Tiger que massacrou centenas de orcs sozinho na rebelião da Áustria?! – O garoto falava com um tom de admiração, os olhos brilhavam de empolgação.
— Sim! O único! – Huan deu um largo sorriso. – E sabe a melhor parte? Ele tinha apenas um ano a menos que você naquela época. Então, faça um favor a si mesmo... Tenha amor a sua vida, não o irrite, ok? – Avisou, dando dois tapinhas nas costas do garoto, voltando para onde Khan estava.
— Agora tudo faz sent... – O íncubos foi interrompido, recebendo um murro no braço, dado pela própria irmã.
— Cale a merda da boca!
Khan ouvia tudo o que eles conversavam, e só conseguia sentir mais raiva.
— Respire fundo, precisamos de você equilibrado para liderar o grupo. Não importa os problemas que tenha em sua vida pessoal, aqui você é o pilar deles. Deixe o peso na consciência para mais tarde.
Se limitou a ficar em silêncio. Seria mais um trabalho que se arrependeria de liderar. Tantas mortes, tanto sangue em suas mãos... Mesmo que seu corpo fosse purificado pelas águas divinas, ele ainda permaneceria sujo.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Delha Ribeiro
nogenta é tu 😡
2024-04-04
1
Delha Ribeiro
saí daí sua doída 🤨
2024-04-04
1
Delha Ribeiro
A agora sabe não é ?🤭🤭🤭🤭
2024-04-04
1