O talismã que preparava segundos antes, foi totalmente destruído pelo golpe, e igualmente reagindo ao ataque elétrico, seu corpo inteiro tremia.
Sua pele ardia, sua roupa estava quase inteiramente queimada, e ele sentiu uma euforia que até então desconhecia, lhe consumir.
Era a primeira vez que sentia a sensação da dor em seu corpo. Desde que se lembrava nunca foi capaz de ter sensações físicas, o que o tornou imparável diante de qualquer batalha que se envolvia.
Seu organismo se regenerava a nível celular, constantemente se aprimorava, se adaptando a cada novo elemento que entrasse em contato. Por isso os Anciãos do clã o haviam proibido de participar dos treinos com os demais soldados. Não existia um único ser com quem ele pudesse rivalizar, mas aqueles feiticeiros tinham conseguido lhe impressionar.
Novamente um raio cortou o céu em sua direção, e ainda que sentisse os efeitos do anterior, Khan conseguiu desviar. A força do ataque foi tamanha que abriu um buraco no teto do contêiner, expondo boa parte do que se escondia em seu interior.
Com a respiração ofegante, sentia sua energia sendo drenada. Tanto, que precisou firmar as pernas para não cair de joelhos na caixa de metal.
— O que é isso? - Sussurrou para si mesmo, enquanto olhava para seu corpo. Sua temperatura havia aumentado drasticamente, era como se seu sangue tivesse se tornado fogo líquido. A água da chuva, assim que entrava em contato com sua pele, gerava uma fumaça, evaporando de imediato.
Notou ainda que sua visão estava turva, e seus sentidos comprometidos. Era bombardeado com todos os estímulos à sua volta de uma só vez, focando em tudo e em nada ao mesmo tempo. A sensação de estar fora do controle o fez cerrar o maxilar.
Algo estava acontecendo, e não saber o que era o deixava furioso. Voltando a olhar para os feiticeiros a sua frente, Khan ouviu o grito de Huan.
— SAI DAQUI!
Não tinha tempo para perder com aqueles malditos, nem para ficar preocupado com o que lhe acontecia, precisava tirar daquele lugar o ser que tinha ido recuperar!
Olhando pela cratera que o raio havia criado no metal, avistou uma figura pequena, encolhida no fundo do contêiner. Ouvindo mais dois tiros, foi o sinal que precisava para pular dentro do contêiner.
Assim que adentrou, um cheiro doce e suave invadiu seus pulmões. Se sentindo estranho, Khan deu dois passos, mas parou quando se encontrou inundado por sensações físicas que ele desconhecia.
Calando tudo o que ele conseguia ouvir e sentir do lado de fora do contêiner, sua mente estava em completa paz. Como se estivesse em outra dimensão. Somente nesse momento se deu conta que o motivo por trás dos sintomas que lhe inundavam era a garota que precisava resgatar.
Sua essência Daemon* soou um alerta que não conseguiu decifrar, e por algum motivo ele sentia um forte desejo de tocá-la.
Beleth, o Daemon com quem Khan compartilhava o corpo e a alma desde seu nascimento, era um caído. Ele sentia seu asco toda vez que esbarrava em um Descendente Celestial. No entanto, a reação da essência dele naquele momento era diferente.
Ele estava fascinado.
O observando do escuro, ela não demonstrava medo, mas Khan temeu se aproximar. Se sentia estranhamente vulnerável. Seu corpo emitia sensações confusas, o deixando inquieto.
— Estou aqui em nome de seu pai. Não temos muito tempo, precisamos partir. – Afirmou, falando em Yorubá, a língua mãe dela.
Imóvel, a garota continuou a encará-lo. Tinha o rosto coberto por um véu. Inclinando a cabeça um pouco para o lado esquerdo, Khan ergueu uma das sobrancelhas.
— Consegue entender o que eu digo? – A questionou.
Erguendo ambas as mãos, ela escreveu algo no ar, que Khan não conseguiu entender.
Maldição, era só o que faltava!
Passando a mão esquerda pelos cabelos, ele a viu se levantar e caminhar em sua direção. Assim que a luz da lua iluminou o rosto dela, e o par de olhos amendoados dourados foram revelados através do fino tecido que cobria seu rosto, ele se viu hipnotizado.
Curiosos, os olhos cor de ouro percorriam seu rosto sem pedir permissão. Rendido, Khan não ofereceu qualquer resistência. Pelo contrário, se afogava no mar dourado diante de si, e de certo modo sentia uma inquietação prazerosa por tê-los sobre ele daquela forma.
Vestida da cabeça aos pés com uma roupa de tecido fino na cor branca, ela estava adornada por vários acessórios dourados, destacando ainda mais sua pele negra escura avermelhada. Esta por sua vez, emitia um brilho próprio, como se partículas das próprias estrelas a tivessem escolhido para ser seu universo particular.
Movido por uma força magnética irresistível, Khan levou a mão esquerda até o véu e o removeu, expondo o rosto delicado. Sem saber o motivo, ousou tocar na pele de textura aveludada e macia. Assim que a sentiu, um arrepio incomum se espalhou por todo seu corpo, acordando-o uma terceira vez.
Sem se importar com o que ele fazia, ela apenas o assistia. Khan não fazia ideia do que estava fazendo, mas não conseguia controlar suas ações. Queria apenas aplacar aquele desejo de senti-la.
Se inclinando na direção do rosto dela, estava a centímetros de alcançar seu objetivo quando foi parado. O golpe que o terceiro raio causou os jogou para o fundo do contêiner, fragmentando o metal no ponto do ataque.
Abraçando a garota, Khan a ergueu em seus braços caindo de joelhos no metal. O sangue correu quente por suas costas, a dor provocada pelos ferimentos que os estilhaços do ferro haviam feito em sua carne, consumiam seu corpo. Porém, a falta de energia era o que mais lhe preocupava.
Não tendo a recuperado desde o momento em que foi atingido pelo primeiro raio, sentia ela se esvaindo cada vez mais rápido.
Precisava evitar que ambos tivessem contato com o contêiner, ou fritariam. No entanto, seu corpo ameaçava sucumbir. Não lhe restava mais nenhum talismã para usar como teleporte, pois haviam queimado junto de sua roupa.
Estava na merda!
Olhando para a garota, notou que ela tinha um corte superficial na bochecha. Ela tinha sido atingida, em algum momento, por um pedaço de metal. Khan sentia sua bochecha arder, mas não tinha como nada ter atingido seu rosto, uma vez que estava de costas.
Só então notou o que acontecia. A encarando, observou os olhos dourados o encararem assustados.
Como aquilo era possível?!
— O que você é? – A questionou, mesmo sabendo que ela não podia ouvi-lo.
Mais do que nunca precisava sair daquele lugar!
Existia apenas uma maneira, mas ela sugaria o que ainda lhe restava de energia. Odiava ter que recorrer a aquilo, mas não tinha escolha. Se algo acontecesse a garota, seria seu fim.
Respirando fundo, proferiu:
— Bawaabat Aldam. (Portal de sangue).
Seu sangue jorrou de seu corpo tão rápido que, sequer teve tempo para reagir. Formando uma poça abaixo dele e da garota, como se tivesse vida própria, o líquido os engoliu.
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Atualizado até capítulo 117
Comments
roseli rosa martins floriano
será que agora o efeito dos remédios vai passar e ele vai sair do controle, como o Naruto e a raposa de nove caudas
2024-12-04
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roseli rosa martins floriano
se realmente ela estivesse perto dele como diz a história ela também recebeu o impacto do ráio
2024-12-04
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roseli rosa martins floriano
O ser dói criado para destruir o único ser que ninguém co seguia então ela é a perdição de Khan.
2024-12-04
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