O casamento Yorubá estava mais para uma festa do que para uma cerimônia de fato, o que dava um contraste no mínimo engraçado entre os parentes de Khan e Aiyê. Enquanto os orientais se mantinham sentados, contidos e sérios, os Nagôs dançavam, cantavam e tocam instrumentos com muita animação.
Khan assistia a tudo se perguntando quando chegaria ao fim. A seu lado, Aiyê se continha. Percebia que a vontade dela era estar com os outros, mas, a postura que tomara desde o conhecimento de um traidor entre eles, a deixou de certa forma intimidada. Havia grudado nela, e enquanto muitos podiam olhá-lo e interpretar seu comportamento como marcação de território, ele na verdade estava evitando que ambos morressem.
Para piorar, Huan tinha lhe avisado que o grupo que havia deixado para cuidar das invasões dos demônios em Beijing, estava tendo dificuldade devido a aparição de um Daemon. Os amigos de Beleth estavam adivinhando a ida de Aiyê.
Não queria apressar as coisas, mas, diante as muitas situações adversas, não teve outro jeito. A despedida foi rápida, nem mesmo tiveram tempo para trocar de roupa. Seu pai foi na frente, pois Cheng comunicou que se juntaria primeiro ao grupo em Beijing. Teria ido junto, se não tivesse que manter os olhos no traidor.
Antes de subir no jato, Aiyê o fitou por um breve momento. A expressão dela lhe passava irritação, e Khan não soube precisar se era por estarem indo antes do combinado, ou se era porque tinha estado perto dela, impedindo consequentemente que outros se aproximassem. Afinal, seu humor tinha piorado novamente, e a carranca que apresentava afastava até os conhecidos.
No banco de trás, discutia com Huan a estratégia que o grupo precisava usar para mudar a situação. Porém, nada parecia funcionar.
— Apenas esqueça. Eu irei. – Disse impaciente.
— Mas, a cerimônia...
— Será feita quando eu retornar.
— Os Anciãos verão isso como desrespeito. Ontem mesmo você homenageou nossos antepassados.
— E o que os velhos gagás sabem? Se eu não fizer nada, Beijing será tomada. Preciso resolver tudo sozinho! – Finalizou a discussão. – Leve Aiyê para casa, e não se afaste dela em momento algum.
— A noiva terá que se arrumar.
— Aquela velha vai estar com ela.
Huan riu.
— Sim, a Anciã Nuwa é quem irá prepara-la.
— Deixe meu traje preparado, não sei se dará tempo para um banho.
— Ficou louco? Vai entrar no Jardim dos Dragões banhado em sangue?
Khan respirou fundo. Estava pouco se fodendo para aquelas convenções.
— Os dragões não ligam para isso.
— Como acha que ela vai ficar, se te ver banhado em sangue da cabeça aos pés? – Huan perguntava, apontando para Aiyê, gesticulando sem parar. O olhava indignado.
— Ela já me viu pior.
— Vai tornar isso um costume?
Khan passou a mão esquerda pelos cabelos. Seu irmão tinha razão, a violência tinha se tornado corriqueira em sua vida desde os quinze anos. Não era o mesmo para Aiyê, que sequer conseguia imaginar uma forma de matar alguém.
— Tá! Já entendi! Serei rápido. Satisfeito?
Huan o encarou.
— Tenha cuidado, use apenas o suficiente.
— O suficiente, sempre é muito. – Pontuou. Deveria se preparar, sentiria dor durante toda a cerimônia, enquanto tivesse que ficar perto de Aiyê.
Huan voltou para o tablet. Monitorava o grupo em Beijing por vídeo. Khan foi deixado no aeroporto internacional de Beijing, e de lá pegou um carro até o ponto da invasão, o qual ficava na Cidade Proibida.
Assim que chegou, viu a barreira que haviam erguido envolta do palácio. Ele poderia ser totalmente destruído se aqueles filhos da puta desejassem, mas, a barreira o ergueria novamente, como se nada tivesse acontecido.
— Yang! – Gritou, logo que avistou o líder do grupo que havia escalado. Ao ouvir sua voz, ele se virou em sua direção de imediato. – Que merda tá acontecendo aqui?!
— Senhor! – Fez uma reverência rápida. – Aquele desgraçado é o problema! Se regenera muito rápido, e enquanto deixamos ele ocupado, os demônios menores estão roendo a barreira como ratazanas!
Khan observou o Daemon de dois metros brincar com seus soldados. Estava em sua verdadeira forma. Bestial. Continha mais de um par de olhos, assim como mais de um par de chifres, que mais se pareciam espinhos. Exibia uma forma mesclada a humana, o que indicava que era um Aspecto Obsessor.
O corpo de pele azulada, brilhava exibindo pontos que lembravam as estrelas. Vê-lo com aquela característica incomum o fez lembrar de quando viu Aiyê no contêiner. A pele dela era sua própria galáxia. O que aquilo queria dizer? Não havia tempo para pensar naquilo.
— Mande os soldados para os outros demônios.
Sem precisar ouvir mais nada, adentrou na barreira. Assim que pisou dentro dela, a atenção do Daemon se voltou para ele, dando chance para os soldados fugirem. Sem arma alguma, Khan se aproximou e o encarou. Sua postura austera demonstrava superioridade a aquele que enfrentava.
— Elith. – O chamou por uma das variações do nome de Beleth. – Finalmente decidiu aparecer!
Khan o entendia perfeitamente, já os soldados que assistiam à situação só ouviam um amontoado de sons desconexos. O Daemon falava em uma língua antiga, há muito perdida, a qual nem mesmo Khan, que hospedava um caído, deveria conseguir entende-la e fala-la de forma fluente.
Ter a capacidade disso sempre lhe fora um mistério.
— O que você quer? – Perguntou entre dentes.
— Você... Morto.
Khan riu.
— Tente.
Teleportando para perto dele, o Daemon o atacou com uma espada curta, mas Khan defendeu o golpe apenas com o braço esquerdo. A força que ambos colocaram fez o chão rachar, e a frente do palácio e as escadarias ruíram.
O Daemon colocou mais força e Khan se teleportou para o lado esquerdo dele, para não ser esmagado. Aproveitando a distração, acertou um chute no rosto dele, fazendo-o cambalear.
Erguendo a mão esquerda na direção dele, pronunciou:
— Almane (banimento).
Recebendo o impacto gravitacional, o Daemon foi arremessado a metros de distância, destruindo o primeiro pavimento do palácio no caminho. Sendo igualmente arremessado para trás, Khan caiu em cima dos destroços da escadaria. Levantando, bateu a poeira de sua roupa e caminhou na direção em que o Daemon havia caído.
Vendo-o se mexer, parou de andar.
— Não... Não, não, NÃO! SUAS MÃOS IMUNDAS! – Gritou, avançando nele novamente. Tendo soltado a espada, o ser juntou as mãos em forma de martelo e o golpeou. Porém, a ação foi parada ainda no ar.
Uma barreira gravitacional cobria Khan, impedindo que fosse tocado. Erguendo o rosto, o encarou.
— O único ser imundo que vejo aqui, é você. – Cuspiu.
Estava sem paciência para aquele desgraçado. Aiyê não estava perto, então ele poderia usar o quanto quisesse de energia. Seu corpo queimaria mais tarde, ainda assim, não se importava.
— Profano! Virão todos atrás de você!
— Mande quantos puder.
Pegando um pedaço de telha do chão, Khan o enfiou na própria mão esquerda. Apontando a mão para a cabeça do Daemon, riu. A partir de seu sangue, um símbolo havia se formado em sua palma, e a simples existência dele fez a gravidade envolta deles mudar.
Os restos do castelo levitavam como se fosse nada além de meras penas de pássaro.
— Ainfijar dakhili (Explosão interna).
Paralisado, o Daemon apenas sentia seus ossos, carne e pele sendo esmagados. Um segundo, foi o que bastou para que o seu corpo fosse completamente reduzido a um amontoado de sangue.
Os destroços caíram logo depois.
No fim, Huan estava certo. Ele voltaria banhado de sangue para casa.
As palavras do Daemon ecoaram em sua mente.
Profano...
Essa palavra o definia bem. Sua existência e os seus atos eram uma grande hipocrisia. Protegia a humanidade, pisava em solos sagrados, recebia bençãos de Deuses...
Casava com um anjo.
Não merecia nada disso, mas reivindicava como se fosse seu por direito.
Olhando para o céu, observou as estrelas por um breve momento. O que diabos estava fazendo pensando naquelas merdas? Tinha uma cerimônia de casamento para comparecer.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Delha Ribeiro
😱😱😱😱😱o anjo é a Ayê?🤔 Né isso?
2024-04-04
1
Delha Ribeiro
Eitaaaaa 🔥🥵
2024-04-04
1
Delha Ribeiro
Eita muito feio😰😵😵😵😵
2024-04-04
1