Logo que voltou da visita ao templo, Aiyê foi realocada em um quarto na mansão, junto dos demais membros da família. Era a primeira vez que isso lhe acontecia, e ela estranhou tanto que nos primeiros dias até desejou voltar para seu quarto no subsolo.
Sendo autorizada a andar livremente, foi surpreendida pelos empregados que, mudando o comportamento comumente hostil em relação a ela, agora quando a viam, lhe cumprimentavam de forma respeitosa.
Desconfiada de tanta “boa ação”, decidiu fazer sua própria pesquisa. E, usando sua dama de companhia fiel, Iniko, descobriu o motivo. Os rumores corriam por todos os cantos da mansão, não havia um único empregado que não tivesse conhecimento de seu noivado com o favorito a herdeiro da família Liang. A primeira dentre as três maiores famílias de magnatas da China.
Embora fosse filho adotivo do líder do clã, Khan havia se destacado e ultrapassado os dois filhos legítimos de Wei Liang ainda em sua adolescência. Se Iniko não tivesse lhe dito pessoalmente essa informação, Aiyê não teria acreditado. Como ele poderia ser um filho adotivo, se era idêntico ao pai?
Poderiam haver muitas informações escondidas, mas, as que eram espalhadas em massa no mundo dos Descendentes Primordiais, não mudavam. Khan havia se tornado uma máquina de fazer dinheiro dentro da família. No mundo humano ele era conhecido por ser o prodígio da família, tendo iniciado no ramo da indústria armamentista com seus próprios produtos aos dezoito anos de idade.
Contudo, seus méritos não eram admirados apenas no mundo humano. No mundo dos Descendentes, ele e seu grupo era o principal nome quando se tratava de obter sucesso em qualquer que fosse a missão. Não existiam limites para seus feitos, se fosse bem pago, Khan o faria sem remorso.
Aiyê, na ignorância que sua criação de prisioneira havia lhe dado, não fazia ideia da importância de tantos títulos e status, mas, em seu coração sentia que não era coisa boa.
A força e habilidades inatas de Khan eram altamente reconhecidas, sendo que até mesmo os Sacerdotes da Ordem o procuravam quando não tinham escolha.
Saber disso fez Aiyê imaginar o que seu pai teria feito se a Ordem o tivesse contratado primeiro. Certamente ela teria sido eliminada sem piedade. Chegar a essa conclusão fez um calafrio subir por sua espinha.
Ao mesmo tempo em que admiravam e cobiçavam Khan e sua força, a Ordem deveria odiá-lo, desejando todos os dias sua destruição. Essa era a forma que eles lidavam com o que não conseguiam controlar ou obter. Salvá-la e escondê-la deles traria grandes consequências a Khan e seu clã, se sua traição fosse descoberta. Mas, nem mesmo a ousada Rainha se atreveria a delatá-lo. Não com o histórico de Khan, e com o poder que a família Liang possuía em cada canto do mundo.
Os Descendentes que nunca haviam feito um pedido ao grupo de Khan, rezavam para não se tornarem vítimas no futuro. E aqueles para quem ele já tinha realizado algum tipo de trabalho, o tratavam como um amigo. Nenhum ser em sã consciência o desejaria como inimigo.
Essa era a segunda informação que Iniko havia lhe trazido, Fayola estava furiosa. Tendo imaginado que Khan não passava de um mero soldado, teve um choque ao descobrir depois da reunião com o Rei que, na verdade, ele era o futuro herdeiro do clã Sun Yee On, uma das principais sociedades da Tríade Chinesa.
Agora fazia total sentido ela ter ido até seu quarto naquela tarde. Suas ameaças, no fundo, eram um desejo para que tentasse se rebelar, negando-se a aceitar o noivado. Se fizesse isso, provocaria um conflito que provavelmente resultaria em tragédia. Conhecendo sua personalidade combativa, Fayola contava fielmente com isso.
Esperar por sua morte era muito para ela, sua impaciência a deixava cada vez mais impulsiva. “A praga do reino” deveria ser extirpada, caso contrário, ele nunca prosperaria.
Não se importava com a forma que Fayola e suas filhas lhe viam, mas sentia o coração apertar por saber que ela não era a única a pensar daquela forma.
Após ouvir os rumores por trás de Khan e suas ações, foi impossível não sentir medo. Achou que o ser obscuro que ele escondia dentro de si, fosse a única coisa com a qual deveria se preocupar. No entanto, novamente o destino manifestava seu desejo de se realizar. Ele era calmo, mas não sabia até onde podia confiar na calma dele. A sensação que teve quando conversaram, foi que além de controlador, ele era extremamente imprevisível.
Como uma tempestade no verão, escondendo desastres irreparáveis.
Seria a primeira vez que veria seu noivo, depois daquelas duas longas e cansativas semanas. Após sua avó saber de que família Khan vinha, havia chamado as sacerdotisas e todas, sem exceções, discorreram por horas sobre os cuidados que deveria ter como esposa de um Descendente tão perigoso.
— "Não o deixe perceber o poder que seu sangue possui."
— “Cative-o na primeira noite, e ele lhe será devoto.”
— “Seja maleável e graciosa, e ele não lhe negará nada.”
— “Não o questione.”
— “Não demande atenção.”
— “Não lhe negue nada.”
Aiyê se sentia desvanecendo aos poucos. Estava perdida. Khan tinha sido enfático, não desejava que ela realizasse as obrigações do casamento, e isso significava que ela não possuía nada que o agradasse. Uma coisa era encantar o ser dentro dele, que certamente só desejava se alimentar dela. Outra completamente diferente era encantar um assassino nato.
No momento em que disse aquilo, ele traçou uma linha entre eles. Uma da qual Aiyê nunca poderia ultrapassar.
Passou o dia inteiro no quarto após isso, odiaria ver os risos de satisfação de suas irmãs e de Fayola, enquanto se extasiavam diante sua nova desgraça. Sairia do ninho das cobras para a boca do tigre.
Ouvindo o sino no corredor, sentiu seu corpo inteiro arrepiar. Aquele som específico significava visita.
Indo até a porta, Aiyê a abriu e se deparou com uma das damas da Rainha. Sua respiração vacilou, e seu coração disparou.
— “Vim avisar Vossa Alteza que seu noivo acaba de chegar no Reino. Ele visitará os templos até que os demais parentes cheguem. Até lá, esteja pronta.”
Sem esperar que respondesse, a mulher lhe deu as costas sem sequer lhe fazer uma reverência. Era chegado o momento, as cortesias dos empregados não precisava mais ser direcionadas a ela. Aiyê era, a partir daquele momento, uma estranha para seu próprio reino. Não pertencia mais a ele, e não tinha como fugir.
Fechando a porta, tentou regular a respiração. Esperaria sua avó e as sacerdotisas, elas trariam seu vestido e a ajudariam a se arrumar.
Se olhando no espelho uma última vez, Yê suspirou. Mais uma vez, caminhava rumo ao fim de sua liberdade, e consequentemente de sua vida.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Delha Ribeiro
Aí que dó 😭😭😭 😔😔mas no fim vai dá bom ☺️☺️☺️☺️
2024-04-03
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Delha Ribeiro
Tadinha gente quanta pressão psicológica a bichana sofre tomará que ele trate muito bem ela,🥹
2024-04-03
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Delha Ribeiro
Tadinha e ela vai cair logo nesse mundo 🥹
2024-04-03
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