Ele entrou na sala de interrogatório extremamente calmo, e Huan sabia que aquilo não era um bom sinal. Khan era temido pelas ações tempestuosas, mas muito mais pela sua falsa calmaria. Quando resolvesse se manifestar, deveriam esperar qualquer coisa.
Sentou na frente da empregada sem dizer uma única palavra, cruzou as pernas e pegou o frasco que ela havia usado para colocar o veneno. A culpa o consumia, mas naquele momento se sentia anestesiado. Pensava no que faria com a garota a sua frente.
— Eu me pergunto, o que a fez achar que sairia ilesa? – Questionou sem olhar para ela, analisava o vidro vazio que tinha em mãos.
— O plano nunca foi sair ilesa. – Ela disse fria.
— Oh! Então deve estar preparada para as consequências.
— Não precisará fazer nada, eu direi tudo com prazer. – Confessou rindo. Khan olhou para ela pela primeira vez, o olhar continuava cansado, como se ainda tivesse sob efeito do que tinha bebido na cerimônia. Mas não estava, aquela era sua essência Daemon transbordando.
Descruzando as pernas, ele se inclinou sobre a mesa, chegando mais perto da garota.
— E porque eu deveria apenas ouvi-la? Adoro uma trilha sonora.
Surpresa, ela piscou.
— Mas... Eu direi tudo. – Sua voz diminuindo a cada palavra. Khan riu.
— Não se engane, tiraria as respostas de você de um jeito ou de outro. Eu sempre consigo o que quero. Huan...
Seu irmão entrou na sala, segurava um copo com um líquido tão claro como água. Porém, era espesso, e parecia conter óleo, pois emitia uma mistura cores.
— Beba. – Disse de forma amigável. – Não se preocupe, não é veneno. Matá-la assim seria decepcionante.
Olhando para ele por um momento, ela fitou o copo. A respiração tremulava.
— Beba. – Mandou, o tom amigável sendo substituído por um áspero.
Com os lábios tremendo, ela pegou o copo com ambas as mãos. Estavam presas por braceletes que inibiam o pouco da magia que possuía. Não conseguiria fazer nada contra eles, mas fazia parte do procedimento.
Após beber, o efeito foi imediato. Piscando, ela engoliu em seco. A garganta seca, como se o que tivesse acabado de beber não fosse capaz de satisfazer sede alguma.
Olhando em volta, parecia assustada. Via algo que eles não viam.
— O... O que me deram pra beber? – Os questionou apreensiva.
— Prepare-a... – Khan disse a ignorando, ao mesmo tempo em que se levantava. – Vou pegar minhas ferramentas.
O que estava por vir não seria nada bonito, e embora estivesse acostumado, Huan não gostava de ser espectador. Seu irmão parecia se divertir, mas na verdade só queria descontar a frustração. Faria qualquer coisa para se sentir menos culpado, se é que isso era possível.
Fez o que o mais velho lhe pediu. Aproveitando que a garota estava atordoada, a levou até a sala que Khan normalmente usava para aquele tipo de trabalho. Prendeu as pernas, os braços e cabeça dela na cadeira e saiu. Não ficaria lá, o cheiro se tornaria insuportável conforme o tempo passasse.
Enquanto colocava as luvas e passava os olhos pelas ferramentas, Khan ponderava sobre o que faria. Queria que ela sentisse dor, as mais variadas formas delas, mas também a mesma que tinha sentido de Aiyê. A pontada fina provocada pelos pulmões se fechando, o ardor no estômago e na garganta como se tivesse sendo derretido por ácido.
Ácido...
Levou os olhos até o pote de vidro em que guardava um dos melhores, e sorriu. Seria a cereja do bolo.
Escolheu seus alicates preferidos, e por fim pegou um cutelo. Vestiu seu avental e rumou para a sala em que sua convidada lhe esperava.
Depois de arrumar as ferramentas na mesa ao lado da cadeira em que a garota estava, Khan estalou os dedos na frente dos olhos dela, chamando sua atenção.
— Olá... – Só se dando conta da presença dele naquele momento, ela piscou surpresa. As pupilas dilatadas revelavam que estava alta. – Como sou um cavalheiro, darei a você as primeiras palavras. Fique à vontade para começar.
Ela passou a língua pelos lábios e piscou algumas vezes. O corpo tremia levemente sobre a cadeira.
— Se não disser nada, terei que iniciar. – Pegando o cutelo, foi até ela e a encarou. – Não dirá nada?
O encarando com ódio, ela tinha o maxilar travado. Khan respirou fundo. Era sempre assim.
Sem tirar os olhos escarlates dos dela, ergueu o cutelo e deu um único golpe, decepando a mão esquerda dela. O grito estridente ecoou dentro da sala, e como se não tivesse ouvindo nada, Khan pegou o pote de sal da bandeja e jogou sobre o braço dela.
O sangue havia respingado em seu avental, em seu braço e na calça branca, a única peça que usava. Não tinha trocado de roupa desde o corrido, sequer tinha se importado em fazer isso. Aquele dia parecia interminável.
Fazendo uma poça em seus pés descalços, o líquido vermelho escorria devagar para o ralo no canto da sala.
Com a boca travada novamente, ela gemia tentando controlar a dor.
— Daqui pra frente as coisas só vão piorar, então, aconselho que pense melhor.
— SEU BASTARDO DESGRAÇADO! O QUE QUER DE MIM?! – Gritou desnorteada.
— Que me diga seus motivos! Falou que me contaria tudo, esqueceu? – Perguntava como se conversassem sobre amenidades. – Quem deu a ordem para envenenar minha esposa?
— Ninguém! Eu fiz por puro prazer de ver aquela vadia morrer!
Pegando um dos alicates da bandeja, Khan puxou a mesa em que suas ferramentas estavam e deu a volta na cadeira onde a garota estava. A mesa facilmente maleável, por conter rodas em seus “pés”.
— Certo. E porque a odeia tanto? – Perguntou, pegando o dedo indicador dela.
— Ela é uma praga! Destrói tudo! Rouba tudo! Se não fosse por ela, eu ainda estaria em Ilé Ifè, e não teria perdido Daren!
Ela olhava fixamente para o teto, perdida em sua própria raiva. Levando o alicate até a unha do dedo indicador dela, ele a puxou, arrancando de uma só vez. Novamente o grito estridente dela invadiu a sala.
— O que o príncipe Daren tem com tudo isso?
— ELA! TUDO É SOBRE ELA! Ele me dispensou, disse que não era mais útil. Falou na minha cara que nunca sentiu nada além de nojo de mim! Tudo porque quer ela...
Khan, que procurava outra ferramenta, parou ao ouvir a última frase. Histérica, Iniko começou a rir. O riso passou para uma gargalhada, ela tossia e ria ao mesmo tempo. Estava fora de si.
— Você foi enganado general, todos nesse lugar foram! Não casou com uma Iluminada, mas sim com uma puta!
Pegando outro alicate, Khan voltou a ela e cortou dois dedos de uma vez. Iniko se tremia inteira na cadeira. De dor, de raiva. Gritava desesperada, mas logo parava e voltava a rir. Ela estava se divertindo, e Khan também queria participar da festa.
Pegando o frasco com o ácido que havia separado, abriu a tampa e sugou o líquido com um conta gotas.
— Sua raiva é genuína, mas, não está se vingando da pessoa errada? Afinal, foi Daren quem te usou e te jogou fora, como se fosse lixo.
Iniko parou de rir.
— Ele só fez isso por causa dela! Como uma cadela no cio, atrai todos os machos onde quer que vá.
— Interessante. E Daren, sem conseguir conter seu desejo imundo pela própria irmã, a persegue, como o animal que é! – Elucidou ao pé do ouvido dela, pingando o líquido inteiro do conta gotas em sua perna.
O grito foi demorado, pois o ácido seguiu queimando e derretendo não apenas sua pele, mas também sua carne, deixando um buraco em sua coxa.
Ainda que estivesse calmo, Khan sentia o incomodo daquela revelação lhe consumir. Por isso Daren lhe era hostil. Queria a própria irmã inteiramente pra ele! Sentia seu sangue ferver, só de imagina-lo tocando em Aiyê.
Rangendo os dentes, voltou a encher o conta gotas.
— Sabe... Se tivesse usado esse líquido, teria um efeito mais rápido. – Revelou.
— O... O que é isso?! – Iniko perguntou, tremia de forma descontrolada. A sala estava fria, e ela ainda vestia as roupas finas com que tinha saído de Ilé Ifè. No entanto, também tremia de dor.
— Isso? – Mostrou o frasco para ela. – É saliva de Chan Chu, uma espécie de sapo bem comum por aqui. Primeiro ele queima tudo com o que entra em contato, depois corrói, sem deixar qualquer vestígio de existência. – Finalizou, vendo o pavor tomar o rosto dela.
— Daren vai acabar com você. – Disse entre dentes. Khan riu, mas o sorriso sumiu com a mesma velocidade com que apareceu.
— Quero muito que ele tente! Porque depois do que me disse, o desejo que tenho é de afundar a cara dele na saliva desse sapo.
— Não vai ficar assim... O Rei não vai deixar...
— Acha mesmo que alguém se importa com você? Olhe em volta, veja a situação em que está.
Piscando, ela engoliu em seco.
— Espero que ela corroa as paredes da sua mente, assim como faz com todos... Que fique louco, e seja engolido pelo desespero!
Khan olhou fundo nos olhos de Iniko.
— Está me jogando uma praga? Tenho um segredo pra te contar... – Aproximou o rosto do dela. – Já sou amaldiçoado. O que vier a partir de agora, é brinde.
Pingando todo o líquido do conta gotas no mesmo lugar em que já havia pingado, assistiu o líquido chegar no osso da coxa dela, e simplesmente desaparecer com boa parte dele. Iniko continuou gritando, mas ele não ficou na sala para ouvir.
Do lado de fora, tirou o avental e as luvas e jogou tudo no chão. Estava imundo.
— Senhor... – Avistou dois guardas vindo no corredor. Huan vinha logo atrás deles.
— Joguem ela no tanque, e tudo o que tiver sujo de sangue. – Mandou, estendendo a mão para pegar a toalha que seu irmão trazia. Sem parar de andar, ambos seguiram voltando pelo mesmo corredor.
Khan limpava o que podia, mas o sangue havia secado em algumas partes.
— A Ordem entrou em contato novamente. Marquei um encontro, não podemos continuar ignorando o pedido deles. – Sem olhar para o irmão, perguntou:
— Quando partimos?
— Em uma hora.
Olhando de esguelha para Huan, respirou fundo, o devolvendo a toalha. Aquele maldito dia não tinha fim!
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Delha Ribeiro
kkkkkkkkkk gostei 🤣🤣🤣🤭
2024-04-04
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Delha Ribeiro
Eita é outro que vai pagar muito caro😱😠
2024-04-04
1
Delha Ribeiro
Aí que raiva dessa mulher e agora também do "irmão"
2024-04-04
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