O choque que teve com a ação dele a deixou paralisada. Sabia que todos tinham os olhos voltados para eles, e por um momento sentiu seu rosto queimar em vergonha. Pensou em afastá-lo, mas isso seria interpretado de forma ainda pior.
Khan agia por puro instinto, e seu sangue era o culpado. Temeu que isso fosse acontecer quando a Anciã lhe informou que precisaria dele para o ritual. Segundo ela, assim como os dragões a testariam, Khan também seria testado em relação a ela naquela noite.
Não fazia ideia de que tipo de teste ela se referia, mas naquele momento tomou consciência. Eles queriam saber se Khan sentia algo por ela, mas até mesmo aquele resultado estava sendo manipulado por meio do sangue dela. Se não tivesse sob efeito dele, Khan jamais a teria beijado. Ele não a via daquela forma, não sentia nada, e comprovar isso fez o peito de Aiyê arder em raiva.
Sentia nojo de si mesma, e por vezes agradecia por ficar isolada. Não importava que sua alma fosse celestial, seu sangue sempre a faria se sentir suja.
Tinha perdido as contas de quantos haviam perecido por causa dela, por causa daquela atração asquerosa que seu sangue emanava através de seu corpo.
Sentia as lágrimas ameaçarem a cada beijo que recebia de Khan, e imóvel, apenas aceitava de forma submissa o desejo dele. Suplicava mentalmente para que parasse, mas ele estava insaciável.
De súbito, como se tivessem ouvido seus pedidos desesperados, sentiu ser encharcada. Parando de beijá-la, Khan se colocou em sua frente, fazendo uma barreira com seu próprio corpo na tentativa de evitar que algo a atingisse. Seus olhos varriam seu rosto e corpo, a procura de algo que ela desconhecia.
Não conseguiu manter contato visual por muito tempo. Se sentia suja. Quando ele descobrisse que agia daquela forma por causa de seu sangue, estaria perdida. Nenhum homem aceitaria ser tratado como brinquedo de uma mulher, pior ainda um Descendente Primordial, cujo o ego refletia sua honra.
Pega de surpresa, se encolheu percebendo só naquele momento o que tinha lhe dado um banho. Os seres que antes estavam na montanha, agora se encontravam na água. Serpenteavam de forma rápida, circulando a sua volta, movimentando o lago. A carapaça branca azulada vez ou outra emergia, deixando um caminho.
Se aproximando, um deles trouxe a cabeça perto de Aiyê e tocou sutilmente com o focinho em seu braço. A água por pouco não alcançava seu pescoço, então qualquer movimento brusco a faria ser engolida. Tentando se manter calma, observou os olhos azuis acinzentados brilhantes. Finos chifres dourados eram exibidos na cabeça dele, e embora sentisse seu coração disparar, Yê teve vontade de tocá-lo.
Tirando coragem de algum lugar, levou a mão esquerda até o ser. Deslizou de forma delicada as pontas dos dedos sobre a quitina pontuda, e em reação a seu toque a serpente fechou os olhos. A seu lado, Khan não tirava os olhos dela. Aiyê sentia os olhos castanhos avermelhados analisando cada movimento seu. Não parecia mais tão afetado pelo efeito de seu sangue, talvez o banho o tivesse despertado um pouco.
Igualmente se aproximando, a outra serpente empurrou a que Yê tocava para tomar seu lugar. Ela riu, levando a mão até o outro. Passou os dedos contornando onde deveria ficar a sobrancelha do ser. Em reação, ele piscou.
Todos a assistiam admirados pela proximidade que os seres haviam tomado, assim como pelo cuidado que mostravam ter ao estar perto dela. Era como se Aiyê fosse familiar deles. Alheia a tudo, ela apenas apreciava a companhia calma que os seres lhe transmitiam.
Uma onda sutil surgiu na água, chamando a atenção dos dragões. Agitados, eles se afastaram e nadaram em direção as montanhas novamente. Yê lamentou a partida deles, agora que não sentia mais medo, queria ficar mais tempo com eles.
Alertando a todos, um trovão azul cortou o céu fazendo a ilha inteira tremer. Com a atenção voltada para as montanhas, Khan se aproximou, colocando o braço na sua frente. Cumpria com sua palavra de não deixar nada lhe acontecer.
Descendo das montanhas, uma serpente enorme mergulhou no lago, porém, não se aproximou. Olhando fixamente para Aiyê, parecia aguardar algo.
— Le... Leve-a até ele. – O cerimonialista gaguejou, dando o comando a Khan.
— “A levarei até ele.” – Lhe avisou, se abaixando, com a intenção de pegá-la no colo.
— “O que?! Porque?” – O questionou confusa, recuando um passo.
— “Ele está aqui para vê-la, mas não vai se aproximar. Não pode recusar um Rei.” – Afirmou.
Rei? Então, aquele dragão enorme era o rei daquela montanha? Olhando para o dragão por um momento, voltou a fitar Khan. Ele a observava com curiosidade.
— “Tudo bem.” – Aceitou. Pegando-a nos braços, Khan caminhou até o enorme ser. Aiyê sentia o vento da respiração dele tocar seu rosto conforme se aproximavam. Era frio, e estranhamente cheirava a alfazema.
Branco azulado como os dragões menores que tinha tocado, ele tinha longos fios dos dois lados de seu focinho, que lembravam bigodes. Acima de sua cabeça, dois pares de chifres dourados e pontiagudos se projetavam em forma de galhos. Yê sabia que devia sentir medo daquela criatura, mas naquele momento só conseguia admirá-lo.
Hipnotizada, olhava cada mínimo detalhe existente nele, e jamais esqueceria aquela visão diante de seus olhos. Sendo seu quarto o único lugar que conhecia, nunca se imaginou viver e ver tal obra divina. Era mais do que digno chama-lo de Rei, sua presença era majestosa, imponente, mas também divina.
Via a aura celestial dourada cobri-lo por inteiro, irradiando de seu enorme corpo, como se fosse o próprio sol. Não se sentia digna de estar diante dele, era minúscula diante a existência dele, e não era pura como sua alma insinuava. Mas, agradecia pela oportunidade. Afinal, quando teria outra? Provavelmente nunca mais.
Parando a alguns metros do Rei Dragão, Khan o encarou e aguardou. Aproximando a grande cabeça, ele a cheirou. Sentiu cócegas com o vento, e riu fechando os olhos. Jogando algo sobre seu colo, o majestoso Rei se afastou de Aiyê e fitou o céu, fazendo um som que fez seu coração tremer.
Acolheu o presente em suas mãos admirada. Era uma concha grande, em tom perolado, com alguns espinhos espalhados sobre seu formato incomum, que se parecia uma montanha. Nunca tinha visto aquele tipo de concha e estava encantada. Retornando ao cerimonialista, Khan me colocou no sobre a areia do lago novamente.
— O que ele lhe deu? – O homem lhe questionou, mas não o tendo entendido, olhou para Khan.
— “Mostre a ele seu presente.” – Informou.
Erguendo a concha entre suas mãos para o cerimonialista, ele a encarou com os olhos arregalados. Todos pareciam surpresos, e receosa, Aiyê olhou para os lados, vendo os membros do clã sussurrar uns para os outros.
Não fazia ideia do que aquilo significava.
Pegando a concha de suas mãos, o homem a ergueu e começou a falar. Yê não entendia nada do que ele dizia, também não conseguia ler seus lábios, pois ele não falava sua língua. Apreensiva, olhou para Khan e puxou o tecido da roupa dele, chamando sua atenção.
— “O que ele está dizendo?” – Perguntou ansiosa. Encarando-a, ele repetiu o que o cerimonialista havia dito.
— “O presente divino é uma concha-rainha. Hoje, os membros do clã tomam conhecimento de que estamos diante de uma Deusa Espiritual. Eis seu presente e reconhecimento.” – Aiyê voltou a olhar para o homem, e recebeu sua concha de volta.
Khan ocultou dela a última parte do anuncio do cerimonialista, estava em choque. E enquanto a observava admirar a concha, ouvia os murmúrios de admiração dos membros do clã.
— Alegra-te, Rei Vaiśravana! Casaste essa noite com a filha de Yanluo. – O cerimonialista o felicitou satisfeito com o sucesso da cerimônia, mas o jovem Descendente estava perdido em seus próprios pensamentos.
Yanluo... O Rei do inferno Chinês.
Agora tudo fazia sentido. Assim como Beleth, que procurava um sentido na sua existência tomando as almas humanas, Khan também havia reconhecido nela uma forma de se sentir vivo. O único problema, era que o preço cobrado era alto demais.
Estava disposto a pagá-lo?
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Delha Ribeiro
E de que forma será esse pagamento?
2024-04-04
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Delha Ribeiro
Gente que lindo 😍
2024-04-04
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Delha Ribeiro
Eitaaaa ela se sente mal por achar que ele si beija ela por causa da atração? É isso?🤔
2024-04-04
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