Khan se aproximou da cama como uma sombra. Não conseguia ver o rosto dele, e isso a deixou ansiosa. Seu coração saltava em seu peito, e estranhamente o sentia ficar dormente. Agora que estava deitada, percebia que tudo a sua volta rodava. Seu estômago ardia levemente, e sua boca começava a ficar seca.
Algo estava acontecendo com ela, e sem saber o motivo, tentou esticar a mão direita para chamar Khan.
Seu peito apertava, não... Conseguia respirar.
Voltando a acender a luz do quarto, ele correu até ela, chamando por seu nome. Não conseguia vê-lo, sua visão estava turva.
Arfando, tentava buscar ar, mas falhava. A mão quente de Khan no seu rosto foi a última coisa que sentiu antes de desmaiar.
...
Cambaleando, Khan foi até a porta e a abriu com dificuldade. Andou pelo corredor usando as paredes como apoio, para se manter em pé. Maldição! Como tinha esquecido daquilo?!
Seus pulmões estavam apertados, não conseguia respirar direito. Se continuasse daquele jeito, perderia a consciência.
Ao fim do corredor, viu uma empregada passando. Tirando força de onde não tinha, conseguiu chamar a atenção dela.
— Vo...Cê...
O ouvindo, a mulher virou. Vendo seu estado, parou abruptamente, levando a mão ao peito.
— Senhor...
— Chame... O médico. Agora!
Usou o último fôlego que lhe restava.
Caiu no chão tentando buscar ar, mas mesmo respirando pela boca, não foi suficiente. Ouviu os passos da empregada ecoando no piso de mármore, mas o som desapareceu logo depois. Não soube quando perdeu a consciência, mas quando acordou estava deitado no sofá da sala, cercado por seu pai, sua mãe, Huan e o médico.
Assustado, levantou de uma vez, sendo atacado por uma vertigem que por pouco não o fez vomitar naqueles que o observavam.
— Vai devagar. – Seu irmão o orientou, sentando do seu lado esquerdo. O encarou confuso, sentindo a boca encher de saliva. Sentando no seu lado direito, sua mãe começou a passar a mão direita em suas costas.
— Jovem mestre, olhe para mim. Siga a luz. – Ying chamou sua atenção. Em pé na sua frente, o médico colocou uma luz em seus olhos e Khan seguiu sua instrução. – Os reflexos estão normais, mas a mente pode ficar lenta. Está melhor que ela.
— O que aconteceu? – Seu pai se pronunciou. Khan o olhou tentando lembrar. A mente estava confusa.
— Não ouviu o médico? Deixe-o respirar um pouco! – Sua mãe o deu uma bronca. Wei se calou. Estava impaciente.
Sentado à sua frente com as pernas cruzadas, o “velho” vestia um pijama acetinado inteiramente preto, mas agia como se tivesse de terno. Classificar Wei como velho era falta de cortesia de Khan, já que considerava a idade do pai e não sua aparência.
O homem o encarava sério, os olhos castanhos escuros afiados, prontos para o julgamento.
— Se ele está bem, não precisa mais de médico. Ying, deixe-nos a sós.
— Sim senhor. – O médico fez uma reverência, e se retirou da sala.
— Quando pretendia contar que está ligado a garota? – A pergunta dele pegou Khan desprevenido. Olhando para o irmão, recebeu seu olhar de lamentação.
— Tive que contar, você quase morreu. – Tentou se justificar. Respirando fundo, Khan passou a mão esquerda pelos cabelos. A sessão de interrogatório se iniciaria, e não estava preparado para ela. Ainda tentava organizar os acontecimentos em sua mente.
— Mentiu para todos, teve a cara de pau de mentir até mesmo para os Anciãos.
— Não é mentira. Ela... Consigo senti-la. – Afirmava aquilo em voz alta pela segunda vez, e ainda se sentia estranho em ter que admitir.
— Quando descobriu estar ligado a ela?
— Na noite em que a trouxe da estação de contêineres. – Seu pai lhe lançou um olhar mordaz. Tinha estado perto da morte naquela noite também.
— Quando se tornou tão irresponsável?! – O questionou, ríspido. – Se os Anciãos tiverem conhecimento disso, será seu fim como Cabeça de Dragão! O que aconteceu hoje?
— Antes de voltarmos... Huan descobriu que a dama de companhia de Aiyê tentaria envenená-la. – Revelou, buscando as memórias.
— E?
— Pedi que trocasse o veneno pelo meu sedativo.
Wei respirou fundo.
— Essa foi a única ideia que teve? – O inqueriu incrédulo, sem esboçar uma única expressão.
— Não queria tumultuar a cerimônia.
— Então, está me dizendo que preferiu correr o risco, mesmo sabendo da ameaça a vida de sua esposa, e da sua?
— Resolveria tudo de forma sigilosa antes da cerimônia começar, mas...
— Mas?
— Cheguei atrasado. – Confessou, escondendo o fato de que também tinha esquecido da traição da maldita empregada. Estava tão inebriado em Aiyê, que havia esquecido de tudo.
O silêncio cobriu a sala.
— É dessa forma que pretende proteger sua família? – Perguntou entre dentes.
— Não senhor.
— ENTÃO PROVE, LIANG KHAN! De nada lhe adianta estar em êxtase por sua esposa, se o que sente lhe cega! Nunca baixe a guarda, se mantenha vigilante até mesmo quando estiver no quarto com ela! Não importa onde esteja, não perca o foco! Faz ideia da merda que fez?! Aquela empregada jogou todo o líquido no chá de sua esposa!
Wei gritava tentando manter a postura inabalável, e todas as emoções que antes ele escondia eram lançadas a Khan. Raiva, indignação, decepção...
Khan ouvia o pai de cabeça baixa, se condenado enquanto concordava mentalmente com cada vírgula que o homem dizia. Na tentativa de salvar Yê, ele, era quem a havia envenenado. Como não tinha cogitado essa possibilidade? O que estava acontecendo com ele, afinal? Devia ter acabado com aquela empregada quando ainda estavam dentro do avião. Não daria espaço para erros, e teria se livrado do problema, não importava o que Aiyê pensasse dele depois.
Aliás, porque se importava com a forma que ela o veria? Desde quando isso era importante?
Levando a mão esquerda até o rosto, fechou os olhos. Sua cabeça doía.
— Será necessário muito para manter sua irresponsabilidade fora do conhecimento de todos, e não moverei um único dedo para ajudá-lo! Carregará o sangue em suas mãos sozinho! – Finalizou sua sentença. Khan cerrava o maxilar, furioso consigo.
— Querido, ele já entendeu. – Sua mãe tentou acalmá-lo, mas a raiva do homem era a mesma de Khan.
Precisava acordar, tinha mais inimigos do que podia contar. Covardia era a principal característica deles.
— Vamos. – Wei levantou do sofá e olhou para a esposa.
— Não! – A mulher foi incisiva. Erguendo uma das sobrancelhas, o homem a encarou. – Ficarei com minha nora. Agora que perdeu a única pessoa que conhecia, se sentirá sozinha. E você... – Disse, dando um tapa no ombro de Khan, o fazendo olhá-la. – Dê um jeito naquela empregada, não quero voltar a vê-la!
— Sim senhora. – Afirmou seco.
Olhando para ele de soslaio, Shu Ian saiu da sala, indo em direção ao quarto onde Aiyê estava. Ouviu o filho mais velho perguntar ao mais novo onde estava a empregada, e pelo tom que usou, teve certeza de que ele a havia entendido.
Aquela garota precisava entender onde estava, e quais eram as consequências para o que havia feito.
Entrou no quarto ainda decorado para a noite de núpcias e sentiu seu coração apertar. Uma noite que deveria ser perfeita tinha sido completamente estragada, e a importância dela se perdido. Haveriam questionamentos severos, e embora os motivos fossem fortes, as especulações se espalhariam como fogo em palha seca.
Khan teria que se esforçar para exterminá-las, mas o que viu nos olhos do filho adotivo a deixou receosa. Embora a cerimônia tivesse revelado a todos que ele a desejava, parecia que algo o impedia de ceder.
Talvez fosse a estranheza da situação, afinal, Aiyê o fazia sentir coisas que nunca havia sentido antes, e ela nem conseguia imaginar como deveria ser isso para ele. No entanto, conhecendo o filho que havia criado, sabia que isso não o assustaria, pelo contrário.
Khan adorava ir contra as regras, embora tentasse negar. Wei era quem sempre o obrigava a ficar na linha. Sim, obrigava, porque ele encontrava sempre uma forma de burla-las. Seu filho era como uma força da natureza, incontrolável, buscava o caos onde quer que fosse. Seu vínculo com o Daemon tornava tudo pior.
Teria que esperar para descobrir, pois ele só diria a ela quando não suportasse mais sentir sozinho.
Sentando na poltrona perto da cama, observou Aiyê dormir tranquila, depois de ter tido duas paradas cardíacas. Recebendo o medicamento que Ying havia injetado em sua veia, ecoando no quarto, sua respiração na máscara de ventilação era o único som evidente.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Delha Ribeiro
Tou gostando muito da sogra dela me parece uma boa pessoa 👏👏👏👏
2024-04-04
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Delha Ribeiro
Tadinha 🥹🥹🥹🥹
2024-04-04
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Delha Ribeiro
É assim que acontece o amor meu querido 🥰 nos importamos muito, com o que pensa de nós, a pessoa que amamos 🤭
2024-04-04
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