O sabor adocicado do meu Vanilla Latte aquece o ambiente nesta manhã fria, o vapor se debate embaçando as paredes de plástico do copo. Levanto os olhos para Benjamin à minha frente, afastando o canudo dos lábios. Ele está tão nervoso que nem ao menos deu um gole em seu espresso mesmo segurando a caneca com ambas as mãos.
— O que faremos? — pergunta, vez ou outra olhando para os lados.
Dou de ombros, voltando a beber mais um pouco. Ben está discutindo o que fará a respeito da chantagem que está sofrendo porque sua colega nos filmou no ginásio. Eu deveria estar tão preocupada quanto ele, mas a garota não é uma ameaça para mim. O vídeo em si não vale como uma prova concreta, uma professora e um aluno sozinhos em um vestiário cabem em milhares de histórias.
— Namore ela.
Ele franze a testa, como se minhas palavras tivessem saído do nada num choque súbito. Benjamin fica sério, abaixa a cabeça e toma um gole do espresso mantendo o rosto diante do vapor que sobe dançando e desaparece logo em seguida como se nunca tivesse existido.
— É. Imagino que não tenhamos outra escolha.
Benjamin se comporta como uma criança emburrada, mantendo o silêncio entre nós. Não estou no meu estado normal, aposto que pensaria em algo mais eficaz para lidar com Scarlett Hoover, mas o encontro que tive com Eros mexeu comigo de uma maneira única.
Eros.
O cupido.
O deus.
O homem.
Estaria eu na mesma posição de Psiquê? Não que eu seja uma princesa como naquelas histórias antigas, estou muito longe disso. Mas posso dizer com segurança que fui flechada por aqueles olhos negros, me capturando viva para os confins de desejos proibidos.
No final, talvez, ele não tenha semelhança alguma com o ser mitológico, é apenas um homem que está jogando comigo um jogo perigoso utilizando de cartas ácidas para sua vitória inevitável.
— Meu irmão está melhor.
A voz de Benjamin me traz de volta para o agora, desintegrando as diversas visões que flutuavam acima da minha cabeça, desmanchando tal qual o vapor que nos separa.
— Ótimo — lhe entrego um sorriso de canto, me afundando no sabor do Vanilla Latte.
— Jogamos ontem, eu sou péssimo nisso. Podemos tentar um dia...
Observo a boca dele sem conseguir captar o som. Benjamin já não é capaz de me trazer de volta, não consigo tirar o deus grego da minha mente, pois sua flecha foi além do tecido das minhas roupas, rasgando facilmente minha carne, quebrando os ossos em um zunido estridente, dilacerando cada nervo.
Sua flecha se afundou em minha alma.
Eros.
O cupido.
O homem.
O deus.
Soando perfeitamente numa poesia efêmera que me faz lembrar do verdadeiro poder.
Estou competindo em um jogo de cartas ruins, mas não me importo.
Perdendo ou ganhando, ele será meu.
Certa vez, Clive Staples Lewis, referido como C. S. Lewis, escreveu:
"Uma das coisas que eros [amor] faz é apagar a distinção entre dar e receber. Quem contabiliza crédito e débito não ama."
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Atualizado até capítulo 110
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