Achei engraçado quando Benjamin saiu de fininho da cama para não me acordar enquanto eu fingia estar dormindo. Ele parecia muito um gato assustado, mas tenho que agradecer a esse felino, porque sinto minhas energias renovadas apenas por dormir com outra pessoa.
No momento, estou no Silo Restaurant aproveitando um descanso após meu trabalho. Eu preferiria estar deitada em meu sofá encarando o teto enquanto deixava meu corpo vegetar, mas minhas antigas colegas estragaram meus planos. Diana e Chloe saíram da Florida só para me arrastar até um restaurante e me entupir de álcool.
Conversamos sobre o passado, os bons tempos. As duas admitem que se aproximaram de mim no tempo da faculdade devido à minha popularidade. Dois copos de cerveja foram o suficiente para a sinceridade crescer nelas. Não posso culpá-las, afinal, sei bem o tumulto que causei naquela época. Fosse para me sair bem em uma matéria ou para conquistar privilégios, eu usava meu talento de persuasão. O mesmo talento que faz o diretor Foster me ligar o dia todo e correr atrás de mim.
Flagro Diana e Chloe com suas cabeças viradas para um canto específico do restaurante, na mesa próxima ao urso empalhado sobre duas patas ao lado da janela. Ali está um homem sozinho saboreando seu vinho em plena elegância.
— Eu vou arriscar. — Diana joga seus cabelos para trás, fazendo seu drama tradicional.
— Ele parece ser muita coisa pra você, amiga. — Chloe brinca dando mais uma mordida em seu hambúrguer com batatas fritas. — O que será que um gato desses faz aqui sozinho?
Continuo observando o estranho, o preto cai tão bem nele, dando um destaque surreal para seus ombros largos e seus braços fortes. Desisto de brincar com o diretor Foster, encontrei minha próxima presa.
— Ah, não, Mary. Eu vi primeiro. — Diana se levanta, já que entreguei minhas intenções.
— Mas a escolha é dele, afinal. — Levanto a cabeça para encará-la, uma mecha ruiva fica no meio do meu rosto.
— Nossa Mary fria como de costume. — Chloe dá uma risadinha traiçoeira enchendo três copos nanicos com uísque.
— O que está fazendo? — Diana põe as mãos na cintura, curiosa.
— Ok, quem virar mais rápido ganha. — Ela empurra os copinhos para nós duas.
Um sorriso visita meu rosto sério com aquela brincadeira tão boba. Viramos o uísque ao mesmo tempo, mas sou a primeira a terminar antes mesmo que as duas joguem a cabeça para trás.
— Ah, não... — Diana faz uma careta de cachorro abandonado olhando para mim.
— Coisas da vida, minha cara — Chloe dá tapinhas nas costas dela, voltando sua atenção para seu hambúrguer.
Deixo as duas e faço caminho até minha presa. Quanto mais me aproximo, mais claro fica a imagem dele se distanciando de uma presa fácil ao lado de um predador natural empalhado não muito distante dele. O homem e o urso são um pouco parecidos. Acho que estou sendo desafiada, ele não é uma presa.
Sem dizer uma única palavra, me sento de frente para ele, fazendo tudo bem devagarinho para que ele perceba meus detalhes, meu vestido vermelho com aberturas laterais, sendo propositalmente provocante.
— Como posso ajudá-la? — o homem abre um sorriso, talvez seja seu sorriso mais charmoso, expondo levemente seus dentes, suas presas.
— Me respondendo uma pergunta — apoio as mãos na mesa, fazendo meus anéis refletirem a luz, mantenho contato visual retendo sua atenção. — Por que um homem tão bonito está sozinho?
Ele nem ao menos pisca com a minha isca.
— Creio que já não estou mais sozinho. — Retruca, me devolvendo o mesmo olhar. Isso mesmo, ele é um maldito predador assim como eu. Este homem é perigoso.
Um corte simples de cabelo e uma barba alinhada, ele não precisa de muito para ser atraente, não precisa de muitas armas para começar uma guerra comigo aqui mesmo no restaurante. Saberemos agora quem possui mais poder.
— Então, queria companhia?
Um sorriso ligeiro é tudo o que ele me oferece.
— É sempre bom ter alguém com quem conversar — de repente ele acena para Diana e Chloe me pegando de surpresa. — Suas amigas parecem tristes porque você ganhou a aposta.
Pelo visto ele está com vantagem, pois acabei de baixar a guarda. Diana está nos assistindo com os dedos cruzados enquanto Chloe come as batatas fritas como se estivesse no cinema.
— Estava nos ouvindo, mesmo dessa distância? — recupero meu foco.
— Por dois motivos — ele gesticula de forma graciosa durante sua explicação. — Você tem um ótimo gosto para vestidos e o segundo é que as três estavam me encarando. Estou certo?
Não posso evitar um sorriso de canto, parece que estamos empatados nessa guerra. Então, nem mesmo um predador nato pode fugir de mim.
Eu sempre soube usar a sedução para conseguir qualquer coisa, se eu quero, eu consigo.
— Você implantou uma escuta na nossa mesa? — deixo meus cabelos por cima do ombro enquanto exponho meu pescoço para ele.
Ele deixa sua risada baixa escapar, não consigo explicar direito, mas fiquei arrepiada com isso. Já não estamos mais empatados no jogo do poder.
— Foi apenas uma dedução.
— É ótimo nisso. — Fico vulnerável mais uma vez diante dele.
Agora estou sem armas, mesmo que eu tenha boas cartas para jogar, este homem me superou.
— Como se chama?
Ele se inclina, alisando sua barba perfeitamente desenhada para responder:
— Como você me chamaria?
Recolho as mãos de cima da mesa.
— De muitas coisas...
O homem prende seu olhar em mim, analisando meu corpo de cima a baixo através da mesa transparente. Estou me sentindo nua, como se ele tivesse a habilidade de ver através do tecido do meu vestido e explorar cada canto meu.
— Então estamos empatados. — Isso é tudo o que sai de sua boca, ele toma outro gole de vinho, encarando o urso ao lado da janela. Ambos são idênticos; predadores implacáveis.
Por ora, me retiro de sua mesa sem dizer mais nada ao aceitar minha derrota. E isso não é algo ruim. Agora tenho um desafio ainda maior. Jamais irei levantar minha bandeira branca enquanto o jogo ainda estiver rolando.
Diana se levanta, pasma.
— Mary, essa não é a parte em que você vai para a casa dele?
— Talvez ele não curta garotas. — Chloe balança a cabeça.
— Posso me esforçar mais da próxima vez.
Olho por cima do ombro, nossos olhares se chocam porque ele esteve me analisando desde o momento em que dei as costas. O homem ergue a taça, eu faço o mesmo como se estivesse aceitando o desafio dele "me surpreenda".
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Atualizado até capítulo 110
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