Meus pais denunciaram os delinquentes que maltratei, provavelmente estão atrás das grades por não serem importantes dentro da gangue. Com certeza os dois também sabem que fui eu quem quebrou as pernas e os braços de alguns deles, apenas não tocamos no assunto.
Com John de volta em casa após receber alta, posso ficar mais tranquilo. Estamos jogando há duas horas esparramados na sala; ele completamente aberto no sofá comendo salgadinhos, e eu estirado no chão.
— Eu sabia que você era forte, mas não ao ponto de espancar uma gangue sozinho — John fala enquanto faz movimentos suaves com os dedos nos botões do controle. — Valeu, brother.
— Você faria o mesmo por mim. — Ergo o controle como se isso fosse me ajudar, meu personagem está sendo massacrado, esse filho da mãe é muito bom.
— Vai sonhando. — Bagunça meu cabelo ao vencer pela décima vez.
Dou uma cotovelada no sofá em um tom brincalhão.
— Só estou te deixando ganhar...
— É uma dívida ou algo assim, não é? — John se senta ao meu lado dentro do seu pijama, alguns curativos decoram seu rosto.
— Que papo é esse? — jogo o controle em cima do sofá.
— O irmão do papai... Eros — John fala o nome como se fosse impronunciável. — Você está endividado com ele.
Não posso ver meu próprio rosto no momento, mas diria que ele deve estar pálido.
— Não fale o nome do demônio em voz alta — retomo minha postura. — E como você sabe disso?
John me entrega seu sorriso cansado.
— Sempre gostei de me esgueirar pelos cantos, vamos deixar isso pra lá — meu irmão leva as mãos atrás da cabeça como se não tivesse tocado em um assunto proibido. — Agora conta esse seu lance com a professora.
— Acordou possuído pela fofoca hoje, cara?
— Desembucha, filhote.
— Já beijei ela algumas vezes, só isso.
John solta uma gargalhada bem alta. Me sinto bem ao vê-lo inteiro de novo após passar pelo que passou, essa é a maior qualidade dos García, a resistência.
— O cara está literalmente se metendo em um problema gigantesco e fala "só isso".
— Não é pra tanto, ninguém vai descobrir.
Uma mensagem inesperada de Scarlett invade meu celular com um pedido de socorro tão aleatório que minha reação demora um pouco para assumir meu corpo.
— Aí, maninho, preciso sair.
— É a professora?
— A Scarlett, uma amiga.
— Você é o rei delas ou algo assim? — ele ri se entalando com os salgadinhos.
Logo em seguida pego a bike nos fundos e pedalo até a casa dela a 14 minutos de distância. Eu ainda sou o alvo dos Gray's, será que ela vai ser a próxima vítima? Esses desgraçados são muito covardes. Deveriam me atacar de frente.
Freio na frente da casa dela, desço da bike e vou até a área de seu quintal dando a volta. Scarlett está no último degrau da porta dos fundos usando roupas de dormir que cobrem completamente seu corpo, e pantufas também, o que é a parte menos estranha da situação.
Seus olhos sérios se fixam em mim enquanto deixo a bike deitada sobre a grama.
— Ficou muda? — limpo o suor da testa sentindo minhas panturrilhas queimarem. Essa desgraçada me chamou até aqui e nem mesmo está correndo perigo.
Scarlett não me responde, pelo menos não com palavras. Ela ergue o celular maior que a palma de sua mão, cuja tela mostra um vídeo trêmulo onde Mary e eu estamos saindo do vestiário no ginásio.
— Você me seguiu, sua pilantra? — tento pegar o celular da mão dela, mas a maldita recua.
Ela esbanja o sorriso de uma vencedora orgulhosa.
— Não quer que eu espalhe isso, quer? Amaryllis Griffin pode ir para a cadeia.
— Somos colegas... é isso que você faz com seus colegas? — engulo em seco, fui atingido num ponto muito fraco.
— É exatamente por isso que estou te livrando do problema que tanto quer se envolver — Scarlett se encosta na porta fazendo uma cara inocente. — Vou parar vocês dois antes que o pior aconteça, não quero te ver nas notícias: "Professora substituta trepa com aluno".
Passo as mãos pelo cabelo totalmente frustrado, começo a andar em círculos buscando uma solução rápida. Se algo assim vazar vai ser um desastre dos grandes, e a pessoa mais prejudicada será a Mary.
Olho por cima do ombro para Scarlett, ela é lenta, mesmo sendo uma ex-líder de torcida, não tem agilidade o bastante para fugir. Posso quebrar o celular dela.
Ah, não, isso pegaria mal. Além de que ela já deve ter o vídeo salvo em outros lugares.
Estou ficando sem opções.
— Eu deveria te matar agora! — grito para ela, expulsando minha frustração.
— Só estou tentando te salvar. — Ela cruza os braços numa tranquilidade absurda.
Deixo os ombros caídos sem ter mais o que fazer.
— Ok, o que quer fazer?
Scarlett puxa o canto dos lábios, revelando um sorriso vitorioso que nunca vi antes, contendo tamanha felicidade. É tão sincero que me faz ficar com um pouco de medo.
— Ah, nada de mais, lindinho. Apenas seja meu namorado e eu mantenho o segredo guardado.
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Atualizado até capítulo 110
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