Os cooperadores na maioria das vezes são garotos emocionados com a vida do crime, desesperados por dinheiro, então a função deles é fazer coisas básicas. Então, estou confuso com o padrão das missões que são enviadas a mim. Na última vez, precisei bater naqueles carinhas da gangue e agora aqui estou supervisionando traficantes.
— Por que mandaram uma criança? — resmungou o velho sentado no capô do carro. O nome dele é Dony, o responsável pela administração das drogas.
Estamos numa estrada deserta cercados por uma vegetação fraca e árvores de galhos finos, com o vento soprando em nossas peles. A escuridão pode engolir tudo, exceto os faróis da picape.
— Quem eles geralmente mandam? — pergunto, protegendo minha cabeça do frio com o capuz do moletom.
— Homens largos e altos. — O velho bufa espalmando o capô.
Não queria estar aqui, era difícil me encarar no espelho quando recebia missões mais simples, agora vou vomitar toda vez que perceber meu reflexo.
— Tentando fazer uma grana extra, garoto? — Dony fica de pé, braços cruzados e cara feia, franzindo a testa enrugada. — Vou te dar um conselho, saia dessa vida de merda. O dinheiro não vai compensar.
— Obrigado, senhor. — Aqueço minhas mãos esfregando uma na outra.
Bem que eu queria, seria um sonho poder viver como um adolescente normal com problemas normais e não um maldito criminoso. Mas é um sonho idiota, pois dificilmente conseguirei pagar minha dívida quando chegar aos 20. Sou um mero peão sendo puxado de um lado para o outro. Às vezes penso se teria coragem de fazer outra escolha caso pudesse voltar no tempo, então lembro de tudo e tenho a certeza de que fiz a escolha certa. Não foi por mim, foi pelas pessoas que amo.
Três anos atrás, minha família entrou em uma crise financeira, quebrando completamente. Meus pais estavam sem emprego e mais ninguém podia nos ajudar, estávamos sem opções e o desespero batia na porta. Foi quando ele apareceu pela primeira vez. Um tio que nunca vi antes, o irmão do meu pai. Ele queria ajudar, mas meu pai quase o espancou.
Meu misterioso tio era um criminoso sujo. Meus pais não estavam a fim de se envolver com o dinheiro imundo dele.
Porém, ele me abordou e fez uma proposta irrecusável, oferecendo uma alta quantia pedindo algo em troca: minha alma. Meu pai me mataria se soubesse, mas meu tio arquitetou um plano onde eu roubei seu dinheiro para tentar um jogo da sorte. Foram semanas e semanas de confusão, tendo que explicar a mesma história, mas deu tudo certo.
Os três estão bem, felizes.
Se o preço a ser pago é continuar sendo um maldito peão, que assim seja.
Ao longe, avisto um veículo se aproximando com certa velocidade, os faróis parecem olhos bravos. O veículo para a dois metros de distância da picape. Três homens saem de lá carregando sacolas pesadas. Seus olhos se afundam em seus rostos pálidos.
Dony vasculha sua picape retornando com bolos de notas da mesma grossura que barras de ouro.
Um dos zumbis carregando duas sacolas sorri para mim, ele tem dentes de prata.
— Qual é, Dony? Fala pra esse teu chefe que a segurança precisa melhorar. Cê acha que se a gente quisesse foder com tudo, esse pirralho mudaria alguma coisa?
— Você tem um ponto.
Dony dá de ombros, trocando o número absurdo de notas pelas sacolas. O velho pega três sacolas e eu pego o restante.
Pego a última sacola na mão do zumbi tagarela, mas ela ele não a solta.
— Qual é sua função dentro da organização?
O encaro com calma.
— Um cooperador.
O zumbi larga a sacola, risonho.
— É melhor seu chefe abrir o olho, Dony.
O velho acena sem se importar ao voltar para picape. Eu o sigo. Colocamos as sacolas no banco traseiro.
Dony dá a ré.
Finalmente estou voltando para casa.
Preciso dormir.
Meu celular vibra, fecho os olhos torcendo para não ser mais uma missão.
É a professora substituta.
"Estou me sentindo sozinha hoje... Pode me fazer companhia?"
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Atualizado até capítulo 110
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