— O colega de vocês não virá hoje?
Minha pergunta obriga a turma a quebrar sua concentração na tarefa de trigonometria e dedicar a atenção para mim. A cadeira de Benjamin está vazia, nem mesmo o vi participando das outras aulas. Queria agradecê-lo pela noite passada. Me encontrei com o diretor Foster essa manhã, capturada pelo sentimento de medo, mas ele me tratou como qualquer diretor trataria uma professora.
Charles levanta a mão, um pouco tímido, algo inesperado vindo dele.
— O assunto está circulando pelo colégio, ontem ele se envolveu com uma gangue e por algum milagre conseguiu voltar vivo.
Como se o garoto fosse portador de habilidades mágicas, ao citar o nome de Benjamin, ele entra na sala carregando a mochila em apenas um dos braços, uma postura ameaçadora e uma energia amarga. Benjamin se joga em sua cadeira, fazendo um barulho estridente enquanto a sala permanece em silêncio. Ele cruza os braços, me encarando.
— Tive um contratempo, pode continuar.
Com um leve aceno com a cabeça, retorno para a aula com as explicações, está difícil ficar concentrada agora. Até mesmo os colegas dele parecem ter dificuldades, pois estão tão curiosos quanto eu. Benjamin tem alguns machucados rasos no rosto, o que é impressionante para alguém que enfrentou uma gangue.
O tempo se estende até o fim da minha função. As cabeças preenchendo o espaço diminuem até que eu esteja sozinha, rodeada por cadeiras e mesas vazias, pressionada a observar meu pior aluno dormindo sobre sua mochila. Mando uma mensagem para ele pedindo para me encontrar na enfermaria, depois o deixo sozinho com seu sono.
...
O papel está repousando em meu colo. As paredes brancas me encaram de volta, fazendo perguntas das quais não sei bem as respostas. Por que está fazendo isso, Mary? Porque é divertido, talvez seja divertido porque é errado. O que você ganha com isso se nem ao menos o considera um homem digno de tê-la, Mary? Ele nem mesmo é um homem, é um garoto, um GAROTO.
Enrolo uma mecha ruiva em meu dedo, percebendo a minha falta de credibilidade ao não ter a resposta certa. A porta da enfermaria se abre quando Benjamin entra com uma expressão meio perdida unindo as sobrancelhas.
— É verdade o que estão dizendo? Você se envolveu com gente criminosa?
— Machucaram meu irmão. — Ele é um poço de seriedade com as mãos escondidas no moletom.
— Está doendo? — chego mais perto dele, tocando seu rosto.
— Faz cócegas — diz ele num tom brincalhão.
— Não é hora para brincadeira. — Deixo minhas palmas coladas em suas bochechas, filtrando seus olhos brilhantes.
— Vou ficar bem, não precisa se importar com isso — Benjamin segura meus pulsos com delicadeza, depois segura as longas mechas do meu cabelo, por algum motivo ele gosta muito deles. — Eu nem sabia que você se importava, sendo sincero.
Uno as sobrancelhas, tombando a cabeça para o lado.
— Está mesmo me pintando como uma bruxa fria?
— Não ironicamente, eu te vejo assim. — Ele lança seu sorriso ingênuo.
Me sento na cama hospitalar mais uma vez.
— Obrigada por ontem, você me salvou. O que fez com o diretor Foster? Ele nem olha mais na minha cara.
Dou tapinhas no espaço ao meu lado, ele se senta cruzando as pernas na altura das canelas.
— Deve ter ficado traumatizado com meu chute. — Benjamin dá risada como se estivesse acabado de contar uma piada.
Giro os olhos, soltando um suspiro.
— É impossível ter uma conversa séria com você.
Dois minutos embargados em silêncio se infiltram entre nós ainda causando alguma harmonia.
— Sou só uma criança para você, certo? — pergunta, mostrando sua melancolia ao encarar seus pés. — A última opção da prateleira.
Faço uma breve massagem, bagunçando seu cabelo.
— Colocando dessa forma, parece que sou a vilã da história.
— Não estou reclamando — explica. — Só queria continuar sendo sua última opção para te fazer companhia quando se sentir só...
Seguro a nuca dele e calo sua boca com a minha, deixando-o surpreso, pois demora muito para agarrar minha cintura e me trazer para seu colo, descanso meus braços em volta dos ombros dele.
— Então vamos assinar um contrato.
— Como assim? — Benjamin franze a testa.
Rapidamente pego o papel e balanço na frente dele. Uma folha branca com termos em textos curtos e espaços para nossas assinaturas.
— Os requisitos do contrato são: 1° você em momento algum pode recusar meus convites sem um motivo importante. 2° você definitivamente não pode ter sentimentos por mim, e vice-versa — faço uma pausa beijando o canto de sua boca. — 100% prazer e 0% de sentimentos.
— Não posso quebrar esse contrato... Não estamos levando muito a sério?
Dou de ombros.
— O que me diz?
Benjamin sorri mais uma vez, abandonando minha cintura e me abraçando com vontade.
— Já assinei mais de uma vez.
Fazemos uma troca de beijos bobos, a enfermeira está ocupada em seu horário de almoço, então temos mais um tempinho para trocar mais alguns beijos bobos.
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Atualizado até capítulo 110
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