Está um pouco quente hoje, uso o tempo de caminhada até chegar em casa para pensar um pouco e chego à conclusão de que preciso de umas horas de sono, porque aquele sofá me destruiu. Paro em frente à residência dos García, a única casa com brasileiros por aqui.
Abro a porta esperando encontrar o pessoal saboreando o café da manhã.
No entanto, fico petrificado ao ver meu pai andando de um lado para o outro na sala com o celular colado no ouvido. Nossos olhos se cruzam e ele vem até mim segurando meus ombros. Bernardo García na maioria das vezes é silencioso, um pouco enigmático, mas agora demonstra seu desespero fazendo minha pele formigar.
— John está no hospital. Sua mãe está com ele — diz ele rápido demais para que eu possa acompanhá-lo na mesma velocidade.
— O que aconteceu, pai? — engulo em seco com medo da resposta, é assim que você vive constantemente quando se envolve com coisas ruins.
A testa do meu pai fica toda enrugada.
— Uns garotos machucaram ele.
Meus punhos cerram automaticamente com minhas unhas se afundando na pele, não paro mesmo após sentir um pouco do líquido quente no espaço entre os dedos. É claro que viriam atrás da minha família, eu agredi alguns membros deles como um anúncio de guerra.
— Vamos ver seu irmão.
— Não — preciso falar baixo, porque se deixar só um pouco dessa raiva vazar, vou acabar destruindo alguma coisa. — Mais tarde vejo ele.
Meu pai fica boquiaberto com a minha resposta.
— Qual parte de que seu irmão foi gravemente ferido você não entendeu?
— Pode ir, pai. — Dou as costas para ele indo em direção ao banheiro.
Tiro as roupas e me jogo debaixo do chuveiro com as mãos espalmadas na parede enquanto a água bate em minhas costas. A queimação se prolifera ardendo por cada músculo, sinto o coração batendo na minha cabeça. Agora estou até mesmo tremendo, isso é insano.
O homem que me treinou disse certa vez que humanos têm seu instinto selvagem na maioria das vezes adormecido, não existe exceção, todos eles possuem alguma porcentagem de violência, a maldade existe desde o nascimento, a questão é que ela se apresenta de formas diferentes em cada pessoa.
Ele também disse que... Esse outro lado meu é como um copo transbordando. Agora entendo.
Enrolo a toalha na cintura, caminho até o quarto caçando minhas roupas. O celular faz alguns barulhos irritantes dentro da calça, o tiro de lá quase esmagando o aparelho. Há uma mensagem na barra de notificações
"Estamos esperando... "
Abro rapidamente a mensagem tirando o cabelo molhado da frente dos olhos.
"Estamos esperando você, covarde. Seu irmão foi apenas o começo."
Recebo a localização logo em seguida. É em uma estrada deserta, fica a trinta minutos daqui. Uma calça e uma regata são tudo que preciso. Corro para o quintal de casa, pegando minha bicicleta antiga um pouco danificada. Preciso pedalar o mais rápido que puder, mesmo que quebre as pernas.
...
Pulo da bicicleta deixando-a se embolar na pista. O local é nada mais nada menos que uma vegetação seca e pálida se alastrando para todos os lados numa manhã de sábado, árvores secas com galhos vazios me observam assim como o grupo de delinquentes a cerca de vinte metros de distância.
Com as mãos escondidas nos bolsos, me aproximo deles com passos largos. Sete garotos cochicham entre risadinhas enquanto me aproximo, há uma mulher também, ela é magra com o físico definido e um rosto duro usando roupas masculinas.
— Aí, seu bosta, achou mesmo que sairia ileso depois de bater na gente? — gritou um dos moleques.
Essa confusão vai ficar ainda mais complicada porque eu estou prestes a fazer uma declaração de guerra contra os Gray's machucando os cachorrinhos deles. É a consequência por estar endividado, nem mesmo posso pedir reforços, minha dívida apenas aumentaria se tornando inalcançável. Por outro lado, não posso permitir que minha família seja um alvo.
A queimação ainda está se multiplicando dentro de mim.
— Gostou do presente? Seu irmão irá lembrar de mim para o resto da vida.
É uma queimação insana. Avanço como um louco bêbado para cima do grupo sem perder os olhos da mulher. Ela insinua a postura de uma boxeadora com muita tranquilidade. Nós dois nos socamos ao mesmo tempo, minha cabeça vai para trás com o golpe em meu queixo. Meu soco passa de raspão na bochecha dela. A mulher recua com a mão no rosto.
Já levei socos piores, pela reação dela não estamos no mesmo nível. Os garotos ao fundo começam a gritar o nome dela.
"Lilian!"
A mulher se aproxima em alguns pulos sem perder a postura, ela começa a socar em locais onde não consigo revidar a tempo. Lilian é rápida por seu físico e tamanho.
Não queria me perder dessa forma. Saí de casa com intuito de deixar todos em coma, mas agora a queimação despareceu.
Continuo recebendo os socos dela, pelo menos até meu punho direito acertar a têmpora dela com o dobro de sua velocidade. Lilian cambaleia e tropeça em si mesma caindo feito uma árvore podre. Lilian está consciente, mas não por muito tempo. Ela vai levar um bom tempo para se recuperar.
Os garotos estão em choque, parecem em dúvida do que fazer. Então optam por me atacar todos de uma vez.
Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete.
Sou o único de pé aqui.
Os moleques nem se esforçam para se levantarem de novo, infelizmente eles machucaram meu irmão.
Não há ninguém nas redondezas.
Se tiver alguém a alguns quilômetros de distância, essa pessoa será capaz de ouvir os gritos deles, pois estou quebrando algumas pernas e alguns braços.
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Atualizado até capítulo 110
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