Entorpecida pelo cheiro de rosas, me encontro enrolada no edredom em posição fetal na cama. Me levanto em roupas de dormir e vou até a sala levando essa manhã como qualquer outra. Atravesso a sala amarrando os cabelos, e logo fico parada diante do sofá.
Benjamin se encontra numa posição desconfortável com os braços cruzados e as pernas tortas. Não esperava que ele fosse voltar. Me agacho ali acariciando seu cabelo escuro, até mesmo desacordado continua alerta com os músculos de seu rosto se contorcendo a cada toque meu. Ele arregala os olhos antes de se espreguiçar.
— Está melhor? — pergunta, massageando minha mão.
Faço que sim com a cabeça ainda enterrando meus dedos em seu cabelo.
— O que quis dizer com "limpar a bagunça"?
Benjamin se senta aguardando um minuto para responder minha pergunta, bate em sua calça tirando uma sujeira inexistente, boceja de forma demorada, me encara com preocupação.
— O diretor desmaiou, eu só inventei uma história qualquer. Ele parece não lembrar do que aconteceu.
A inverdade é absolutamente nítida em cada palavra, mas não discuto, ele estava lá para me ajudar quando mais precisei.
— Certo... — fico de pé incomodada com a permanência que seus olhos estão grudados em mim.
— Você deveria pensar antes de ficar com homens desse tipo. — Ele fica reclinado ao levantar o queixo.
— Sei me virar, Benjamin, eu sou a adulta aqui.
— Pois não parece — Benjamin se levanta abruptamente e abre os braços aumentando a voz. — E se eu não tivesse esquecido o celular? Você seria estuprada ou morta...
Por não ter palavras para retrucar seu argumento, me mantenho em silêncio engolindo meu orgulho e dou as costas para ele, indo preparar o café da manhã na cozinha.
Alcanço o pote de manteiga de amendoim no alto do armário, depois busco a geleia de morango na geladeira retornando a sala onde estão os pães. Começo a preparar o primeiro. Ainda sinto o peso do diretor Foster contra mim, sua força rasgando minha blusa, o pânico se alastrando. Se não fosse o Benjamin, eu... Não estaria aqui agora se ele não estivesse lá.
— Desculpa, senhorita Griffin. — Ele se apoia na beirada da mesa jogando seu torso para frente.
Compartilhamos um momento de troca de olhares por alguns segundos.
— Sou só a senhorita Griffin quando estamos na sala de aula, Benjamin, pode me chamar de Mary.
Ele abaixa a cabeça soltando um suspiro longo, os músculos de seus braços expostos parecem se comprimir.
— Até mais...
— Me faça companhia para o café da manhã. — Falo rápido o bastante para ele não ter tempo de me dar as costas.
Benjamin encara a mesa, tão hesitante quanto da primeira vez que esteve aqui com seus medos tão escancarados.
— Minha companhia custa sua prisão, é melhor pararmos por aqui.
Com uma postura firme assumo o peso das minhas palavras para convencê-lo a ficar.
— Se eu me arrisco tanto é porque consigo arcar com as consequências.
Ele fica calado, aperta a nuca e se junta comigo no preparo do café da manhã. Assisto o trabalho de suas mãos ao preencher a fatia de pão com manteiga de amendoim, seus dedos estão calejados e há cicatrizes em seus antebraços. Aos poucos vou ficando curiosa para saber de onde esse garoto saiu.
Mas por enquanto vou digerir meu orgulho agradecendo a ele silenciosamente. Benjamin tem razão, eu deveria tomar mais cuidado no terreno em que piso. Já estive envolvida em problemas por seduzir as pessoas erradas, mas nada muito grave.
Continuamos trabalhando em cima da mesa, em silêncio.
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Atualizado até capítulo 110
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