Capítulo 19 | Croissants

Os dias arrastaram-se até que o coração de Anastácia pudesse se aliviar por completo, batendo em ritmo controlado apenas quando Melany despertou. Dez dias após a medicação, apesar da garota estar fraca pelo longo tempo acometida pela doença, apenas ser capaz de sentar-se na cama era uma grande vitória.

Anastácia estaria mentindo se dissesse que suas preocupações tinham se esvaído por completo. No entanto, era bom saber que Melany observava Anastácia ler enquanto claramente julgava os gostos da curandeira. Uma verdadeira vitória tê-la em seu estado natural.

— Ana, estou entediada. Eu quero sair! — Melany reclamou, quando ignorada, seu tom tornou-se triste, carregado por dramatismo desnecessário.

— Ao menos leia para mim!

— Esse livro não. — Anastácia não desviou o olhar das páginas, suas pupilas rapidamente passando pelas linhas.

— Por que?! Vossa Graça o faz! — Com força, Melany bateu nos lençóis.

— Não este livro! Aqueles romances de mistério sim. E, vamos, é apenas porque você é uma coisinha manipuladora! — Anastácia furiosamente fechou o livro, irritada aos montes pela interrupção. — Vamos, qual o acordo de vocês dois? Deve haver alguma barganha. Dê com a língua nos dentes e hoje mesmo você sai para um passeio.

— Não há acordo. — Melany virou o rosto para a parede, pela feição de irritação, ela desejava destruir o concreto a força.

— Então não sairá! — Anastácia declarou, abrindo novamente o livro e tentando retornar sua atenção às páginas.

Melany tinha se tornado mal acostumada! Estava sendo assim desde aquele dia; toda a tarde, pelo mesmo horário, Arthur visitava o hospital e agia como o irmão mais velho da garota. E, bem, ele tinha dom para isso. O dom de não enxergar maldade na pequena criatura. Às vezes era fofo de ver a mais nova manipulando-o para que trouxesse doces, detalhe que, a propósito, Anastácia não reclamava. As padarias eram longe de seu trabalho e quando saia estavam fechadas ou os doces esgotados. De todos, Anastácia realmente apreciava os croissants, apenas de pensar, seu estômago chegou a roncar. Ela tentou distrair a fome voltando-se para o livro, mas falhou miseravelmente.

Provável que Arthur demoraria com suas guloseimas, estava mais cedo do que o comum, mas isso não impediu seus olhos de brilharem no minuto em que a porta do cômodo foi aberta. Para a infelicidade de Anastácia, era uma das sete curandeiras as quais treinara.

— Senhorita Lilac? — A mulher perguntou.

— Sim?

— Tem uma visita esperando-a em frente ao hospital.

Anastácia levantou-se. Ela bateu a saia do vestido, alinhando o tecido antes de andar em direção a porta.

— Estranho… — Anastácia murmurou, confusa. — Pode ficar de olho em Melany até eu retornar? Mas, cuidado, ela está mal humorada.

A enfermeira sorriu e assentiu, permitindo que Anastácia pudesse seguir os corredores. A princípio, ela pensou que não poderia ser o Duque, sua presença sequer era avisada à ela. Estava tornando-se irritante escutar os murmúrios das paredes sobre Arthur ter um suposto interesse em Anastácia, bobagem! Os fuchiqueiros sequer sabiam que o motivo era, provavelmente, garantir que Anastácia não fizesse algo ilegal com a mercadoria que já era ilegal.

Ao contrário da expectativa da curandeira, assim que cruzou a grande porta de madeira da entrada do hospital, ela deparou-se com Arthur. Atrás do Duque, estava a carruagem que conhecia tão bem, mas, para sua infelicidade, sem croissants.

— Milorde, veio ver sua cúmplice de sabe-se lá o que?

Arthur sorriu com o cinismo na voz de Anastácia.

— Não. Vim buscá-la. — O Duque deu de ombros enquanto abria a porta da carruagem para Anastácia.

— Não mesmo! — Antes que percebesse, as palavras escaparam dos lábios.

Ela se recusava a acompanhar Arthur seja para onde fosse, não com ele vestido de forma tão casual e, em parte, perfeita.

Dias atrás Anastácia tinha notado: o Duque Montague, perfeitamente vestido, com nenhum mísero fio vermelho escapando pelo topete, era demais, mas completamente aceitável. Ela conseguia desviar seu olhar, pois ele assemelhava-se a uma pintura: bela, mas inanimada e intocável. Perfeito para que não ousasse pensar demais. Já que não era capaz de encará-lo por longos períodos, era mais fácil de disfarçar. Porém, o Arthur a sua frente ela simplesmente não conseguia.

O cabelo deixado ao vento, caindo levemente sobre a testa; ao invés do típico conjunto formal, ele vestia apenas a camisa fina e frouxa, as mangas brancas e longas longe de marcar seus músculos como o colete costumava fazer. Tudo aquilo junto a calça e bota pretas deveria ser uma afronta à moda! Como em uma sociedade rígida ao extremo com vestimenta ele ousava sair de casa daquele jeito? Para a sorte dos olhos da curandeira, ele ousava.

Sem palavras, Arthur ergueu uma das

sobrancelhas, aguardando um motivo, uma explicação por estar sendo rejeitado.

— Estou trabalhando, milorde! — Anastácia suspirou, pelo que? Ela não desejava saber. Certamente não era por uma paisagem ruim.

Encarando-a fixamente, Arthur permaneceu durante minutos, até que, não suportando mais o silêncio desagradavel, um ronco surgiu entre os dois. De imediato, as bochechas de Anastácia ganharam uma tonalidade rosada. Sem discutir mais, ela correu para dentro da carruagem, ignorando a mão estendida.

Para não rir, Arthur se viu sem opção além de morder seu lábio inferior enquanto seguia para dentro do transporte. O Duque havia arquitetado diversas formas para convencer Anastácia a seguí-lo, mas nunca pensou que seria tão fácil.

— Vamos passar na confeitaria para pegar o pedido. — Arthur comentou, casualmente.

Anastácia ignorou a diversão na voz do Duque. Então ele era esse tipo de pessoa. Ao pensar, imediatamente seus lábios curvaram-se em um sorriso.

— Onde exatamente estamos indo?

A pergunta de Anastácia não foi respondida, ao contrário, Arthur puxou as cortinas das janelas, cobrindo por completo a visão do caminho.

— É segredo? — Anastácia, novamente, não obteve resposta. Irritada, um bico se formou nos lábios carnudos. — Pode responder?

— Eu respondi com silêncio, Ana.

Anastácia bufou.

— Pois o silêncio será a única resposta que lhe darei, Vossa Graça!

Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1 | Um estranho muito irritante
3 Capítulo 2 | Um estranho muito irritante - parte II
4 Capítulo 3 | Uma estranha muito familiar
5 Capítulo 4 | Os irmãos
6 Capítulo 5 | A raiz da coincidência
7 Capítulo 6 | Enfim, a coincidência
8 Capítulo 7 | Aquele labirinto de folhas
9 Capítulo 8 | O verde pode ser uma cor viciante
10 Capítulo 9 | Problemas de terceiros, ou não
11 Capítulo 10 | Captain Harry Roderick
12 Capítulo 11 | Três irmãs e uma distração
13 Capítulo 12 | Você está em todo o lugar?
14 Capítulo 13 | Uma rainha em seu trono improvisado
15 Capítulo 14 | A escuridão brilha
16 Capítulo 15 | A garota acometida pela praga
17 Capítulo 16 | Você não sabe o quão bela pode ser.
18 Capítulo 17 | As vítimas
19 Capítulo 18 | A Rosa e a Erva Daninha
20 Capítulo 19 | Croissants
21 Capítulo 20 | O mundo não é gentil com muitos
22 Capítulo 21 | Campo de dente-de-leão
23 Capítulo 22 | Quiçá apenas o início
24 Capítulo 23 | A bagunça de tintas
25 Capítulo 24 | O casal feliz
26 Capítulo 25 | Para você minha mão está sempre estendida
27 Capítulo 26 | Não sentir é diferente de não demonstrar
28 Capítulo 27 | Até amanhã | +18
29 Capítulo 28 | Mocinhos e piratas
30 Capítulo 29 | Ninguém deveria sofrer assim
31 Capítulo 30 | O fim?
32 Capítulo 31 | Uma pequena curiosidade
33 Capítulo 32 | Obrigada por se importar
34 Capítulo 33 | Família
35 Capítulo 34 | Eu te amo mais do que um dia imaginei que seria capaz
36 Capítulo 35 | Eu vou ficar bem
37 Capítulo 36 | Sangue
38 Capítulo 37 | O Conde de Misty Bossom
39 Capítulo 38 | O fim de uma aflição
40 Capítulo 39 | Três dias
41 Capítulo 40 | A chuva trás boa sorte
42 Capítulo 41 | As chamas consediam luz e calor
43 Capítulo 42 | Felicidade
44 Capítulo 43 | Para que o meu querido...
45 Capítulo 44 | Covardia
46 Capítulo 45 | Final
47 Capítulo 46 | Epílogo
48 FIM
Capítulos

Atualizado até capítulo 48

1
Prólogo
2
Capítulo 1 | Um estranho muito irritante
3
Capítulo 2 | Um estranho muito irritante - parte II
4
Capítulo 3 | Uma estranha muito familiar
5
Capítulo 4 | Os irmãos
6
Capítulo 5 | A raiz da coincidência
7
Capítulo 6 | Enfim, a coincidência
8
Capítulo 7 | Aquele labirinto de folhas
9
Capítulo 8 | O verde pode ser uma cor viciante
10
Capítulo 9 | Problemas de terceiros, ou não
11
Capítulo 10 | Captain Harry Roderick
12
Capítulo 11 | Três irmãs e uma distração
13
Capítulo 12 | Você está em todo o lugar?
14
Capítulo 13 | Uma rainha em seu trono improvisado
15
Capítulo 14 | A escuridão brilha
16
Capítulo 15 | A garota acometida pela praga
17
Capítulo 16 | Você não sabe o quão bela pode ser.
18
Capítulo 17 | As vítimas
19
Capítulo 18 | A Rosa e a Erva Daninha
20
Capítulo 19 | Croissants
21
Capítulo 20 | O mundo não é gentil com muitos
22
Capítulo 21 | Campo de dente-de-leão
23
Capítulo 22 | Quiçá apenas o início
24
Capítulo 23 | A bagunça de tintas
25
Capítulo 24 | O casal feliz
26
Capítulo 25 | Para você minha mão está sempre estendida
27
Capítulo 26 | Não sentir é diferente de não demonstrar
28
Capítulo 27 | Até amanhã | +18
29
Capítulo 28 | Mocinhos e piratas
30
Capítulo 29 | Ninguém deveria sofrer assim
31
Capítulo 30 | O fim?
32
Capítulo 31 | Uma pequena curiosidade
33
Capítulo 32 | Obrigada por se importar
34
Capítulo 33 | Família
35
Capítulo 34 | Eu te amo mais do que um dia imaginei que seria capaz
36
Capítulo 35 | Eu vou ficar bem
37
Capítulo 36 | Sangue
38
Capítulo 37 | O Conde de Misty Bossom
39
Capítulo 38 | O fim de uma aflição
40
Capítulo 39 | Três dias
41
Capítulo 40 | A chuva trás boa sorte
42
Capítulo 41 | As chamas consediam luz e calor
43
Capítulo 42 | Felicidade
44
Capítulo 43 | Para que o meu querido...
45
Capítulo 44 | Covardia
46
Capítulo 45 | Final
47
Capítulo 46 | Epílogo
48
FIM

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