Capítulo 14 | A escuridão brilha

William não ficaria feliz com o que Arthur fizera. Seu irmão, por algum motivo desconhecido, durante sete anos tinha escondido a verdade sobre aquele dia. Sentado sobre uma das caixas de mercadoria, já descidas do navio, Arthur tentava se arrepender, buscar uma desculpa para não ter respeitado a decisão do mais novo, mas ele não conseguia. Roderick pagaria com a vida por seus crimes. A única coisa a qual o Duque se arrependia, era por seu autocontrole.

Arthur fechou os olhos, os passos apressados e pesados no cais tomaram sua audição, assim como o cheiro único da proximidade com a água de seu olfato. Por minutos, ele permaneceu imerso em um mundo imaginário e único; um mundo onde os passos leves se destacavam e o cheiro de flores frescas brilhava sobre o d’água.

— Milorde?

Arthur abriu os olhos, fixando-os na dama em sua frente. Não era o mundo imaginário, era o mundo real.

— Está acordado. Pensei que não. — Anastácia parecia cansada. No meio tempo, olheiras tinham se formado abaixo dos seus olhos. — Está amanhecendo.

Arthur piscou lentamente, seus olhos sonolentos, a visão parcialmente borrada.

— Eles se aproveitaram dos seus talentos, não? — Arthur observou os marinheiros correndo, exibindo seus curativos e feridas tratadas uns para os outros.

Anastácia negou com sinal de cabeça lento e arrastado.

— É meu trabalho. Pode ser cansativo, mas gosto do que faço. Ajudar pessoas é gratificante, mesmo que eu precise me enfiar em navios cheios de contrabando. — Anastácia já não olhava para Arthur. A curandeira vislumbrava o horizonte; distante, mais do que podia sequer imaginar, o sol exibia seus fios de luz alaranjados, colorindo o céu como se pintasse uma tela.

As nuvens mais afastadas entravam em completa sintonia. Quanto mais longe, mais rebeldes se tornavam e as cores lutavam com garras e dentes, uma buscando sobressair a outra: o rosa contra o roxo, o roxo contra o azul, mas, no fim, o azul-claro vencia as nuvens coloridas. O azul sempre vencia.

— Por que é tão fascinante? — Sem perceber, Arthur deixou que as palavras escapassem por seus lábios.

Sorrindo, ainda mais encantadoramente que no labirinto, olhos curvados e as covinhas profundas surgindo nas bochechas, Anastácia se virou para Arthur. A saia, agora seca, flutuava pelo ar, revelando o par de botas marrons de cano alto.

— Porque é lindo, milorde! Tanto visualmente quanto aquilo que simboliza — Anastácia correu para perto de Arthur, sem pensar, ela segurou a mão enluvada do Duque. Um biquinho de frustração surgiu nos seus lábios quando ela puxou-o para que se levantasse, mas ele não se moveu. — Por favor, venha!

Então, Arthur cedeu, era impossível não fazê-lo enquanto fosse mirado por aqueles olhinhos brilhantes. Sem resistência, ele deixou Anastacia guiá-lo pelo cais, até a beira da construção de madeira, o mais próximo possível daquilo que nunca poderia tocar.

— Observe! — Anastácia, com a mão livre, apontou para o horizonte.

— Estou observando. — O céu estava belo e realmente o observava, mas não era aquilo que atraia seu olhar. Toda sua atenção parecia ser sugada para a dona da mão que, certamente fora da intenção da curandeira, se recusava a soltar a sua.

— Eu tinha medo do escuro quando pequena, não penso que tenha existido uma criança que nunca temeu a escuridão. Mas, por que a tememos tanto? Já pensou que não é ela que nos assusta, mas o que se esconde nela? Tememos porque ela é desconhecida, incompreendida. Eu gosto de pensar que o nascer do sol não é a dispersão da escuridão, mas a compreensão dela. Descobrimos aquilo que não podíamos ver, deixamos de nos assustar. Por isso acho que há uma beleza indescritível escuridão, milorde. Pode ser um paradoxo, mas a escuridão brilha.

O Duque concordava, mais do que nunca ela estava correta. O sol vinha para desvendar aquilo que a escuridão escondia, Arthur sabia o quão profundo deveria ser o significado desse pensamento para Anastácia, mas toda a sua atenção estava focada demais no belo rosto, recém tocado pelos raios da manhã. Certamente, algo tinha finalmente clareado para o Duque, mas ele desejou que jamais tivesse acontecido. Estava começando a sentir-se culpado por aquilo, pelas atrocidades que cometera aquele calor em seu peito deveria desaparecer.

— Quer vir comigo até o hospital? — Repentinamente, Anastácia virou-se para Duque. Sua voz animada e agitada. — Quero dizer, não é todo dia que alguém te ajuda a roubar ervas medicinais da marinha. Precisa saber para que elas serão usadas.

Para onde quiser.

Mas, talvez o Duque pudesse desfrutar daquele breve sentimento antes de enterrá-lo. Por um dia Arthur iria para onde Anastácia quisesse, desde que pudesse permanecer com ela à sua vista por mais um mísero dia.

— Apenas quer que eu te leve, não é? — Arthur brincou, não transparecendo seus pensamentos.

— Como imaginou? Vamos logo, milorde!

Anastácia não podia imaginar que seu desejo tinha se tornado realidade com tamanha facilidade. Ela queria virar a vida de Arthur do avesso, como um furação e, sem esforço algum, havia conseguido. Mal sabia o Duque que um dia poderia arrastar-se por uma vida toda.

Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1 | Um estranho muito irritante
3 Capítulo 2 | Um estranho muito irritante - parte II
4 Capítulo 3 | Uma estranha muito familiar
5 Capítulo 4 | Os irmãos
6 Capítulo 5 | A raiz da coincidência
7 Capítulo 6 | Enfim, a coincidência
8 Capítulo 7 | Aquele labirinto de folhas
9 Capítulo 8 | O verde pode ser uma cor viciante
10 Capítulo 9 | Problemas de terceiros, ou não
11 Capítulo 10 | Captain Harry Roderick
12 Capítulo 11 | Três irmãs e uma distração
13 Capítulo 12 | Você está em todo o lugar?
14 Capítulo 13 | Uma rainha em seu trono improvisado
15 Capítulo 14 | A escuridão brilha
16 Capítulo 15 | A garota acometida pela praga
17 Capítulo 16 | Você não sabe o quão bela pode ser.
18 Capítulo 17 | As vítimas
19 Capítulo 18 | A Rosa e a Erva Daninha
20 Capítulo 19 | Croissants
21 Capítulo 20 | O mundo não é gentil com muitos
22 Capítulo 21 | Campo de dente-de-leão
23 Capítulo 22 | Quiçá apenas o início
24 Capítulo 23 | A bagunça de tintas
25 Capítulo 24 | O casal feliz
26 Capítulo 25 | Para você minha mão está sempre estendida
27 Capítulo 26 | Não sentir é diferente de não demonstrar
28 Capítulo 27 | Até amanhã | +18
29 Capítulo 28 | Mocinhos e piratas
30 Capítulo 29 | Ninguém deveria sofrer assim
31 Capítulo 30 | O fim?
32 Capítulo 31 | Uma pequena curiosidade
33 Capítulo 32 | Obrigada por se importar
34 Capítulo 33 | Família
35 Capítulo 34 | Eu te amo mais do que um dia imaginei que seria capaz
36 Capítulo 35 | Eu vou ficar bem
37 Capítulo 36 | Sangue
38 Capítulo 37 | O Conde de Misty Bossom
39 Capítulo 38 | O fim de uma aflição
40 Capítulo 39 | Três dias
41 Capítulo 40 | A chuva trás boa sorte
42 Capítulo 41 | As chamas consediam luz e calor
43 Capítulo 42 | Felicidade
44 Capítulo 43 | Para que o meu querido...
45 Capítulo 44 | Covardia
46 Capítulo 45 | Final
47 Capítulo 46 | Epílogo
48 FIM
Capítulos

Atualizado até capítulo 48

1
Prólogo
2
Capítulo 1 | Um estranho muito irritante
3
Capítulo 2 | Um estranho muito irritante - parte II
4
Capítulo 3 | Uma estranha muito familiar
5
Capítulo 4 | Os irmãos
6
Capítulo 5 | A raiz da coincidência
7
Capítulo 6 | Enfim, a coincidência
8
Capítulo 7 | Aquele labirinto de folhas
9
Capítulo 8 | O verde pode ser uma cor viciante
10
Capítulo 9 | Problemas de terceiros, ou não
11
Capítulo 10 | Captain Harry Roderick
12
Capítulo 11 | Três irmãs e uma distração
13
Capítulo 12 | Você está em todo o lugar?
14
Capítulo 13 | Uma rainha em seu trono improvisado
15
Capítulo 14 | A escuridão brilha
16
Capítulo 15 | A garota acometida pela praga
17
Capítulo 16 | Você não sabe o quão bela pode ser.
18
Capítulo 17 | As vítimas
19
Capítulo 18 | A Rosa e a Erva Daninha
20
Capítulo 19 | Croissants
21
Capítulo 20 | O mundo não é gentil com muitos
22
Capítulo 21 | Campo de dente-de-leão
23
Capítulo 22 | Quiçá apenas o início
24
Capítulo 23 | A bagunça de tintas
25
Capítulo 24 | O casal feliz
26
Capítulo 25 | Para você minha mão está sempre estendida
27
Capítulo 26 | Não sentir é diferente de não demonstrar
28
Capítulo 27 | Até amanhã | +18
29
Capítulo 28 | Mocinhos e piratas
30
Capítulo 29 | Ninguém deveria sofrer assim
31
Capítulo 30 | O fim?
32
Capítulo 31 | Uma pequena curiosidade
33
Capítulo 32 | Obrigada por se importar
34
Capítulo 33 | Família
35
Capítulo 34 | Eu te amo mais do que um dia imaginei que seria capaz
36
Capítulo 35 | Eu vou ficar bem
37
Capítulo 36 | Sangue
38
Capítulo 37 | O Conde de Misty Bossom
39
Capítulo 38 | O fim de uma aflição
40
Capítulo 39 | Três dias
41
Capítulo 40 | A chuva trás boa sorte
42
Capítulo 41 | As chamas consediam luz e calor
43
Capítulo 42 | Felicidade
44
Capítulo 43 | Para que o meu querido...
45
Capítulo 44 | Covardia
46
Capítulo 45 | Final
47
Capítulo 46 | Epílogo
48
FIM

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