Arthur detestava a temporada. Os bailes grandiosos, os infinitos eventos e, principalmente, ele odiava permanecer na capital real. As ruas eram lotadas, caóticas para dizer o mínimo. Não era como se ele não gostasse do movimento, apenas estava entediado, ficava entediado. As conversas supérfluas e monótonas esgotavam sua paciência e sociabilidade. Pela tarde, a única vontade restante era retornar para as silenciosas paredes de casa. Mas antes, ele tinha feito uma promessa a seu irmão.
No segundo andar de uma confeitaria, o Duque observava o vai e vem de pessoas. A diferença entre nobres e burgueses para a simples população tornava-se clara nas roupas. Mesmo no calor infernal, as vestes pomposas e exageradamente decoradas se misturavam às peças simples e remendadas.
Arthur detestava a desigualdade da capital. Claro, ele não era hipócrita. Enquanto dezenas de pessoas caminhavam suando pelo seu trabalho árduo, ele permanecia sentado degustando uma fatia da melhor torta de maçã que conhecia. O Duque reconhecia seus privilégios. Tinha nascido em um berço de ouro, criado sem conhecer o medo e a fome, ao menos, era isso que a maioria pensava.
Seus privilégios soavam como maldições que Arthur daria de bom grado se pudesse voltar ao passado e, com seu irmão, fugir daquele pesadelo. Ah, é mesmo. O irmão.
O Duque repousou o garfo prateado sobre a mesa. Com os próprios dedos, ele levou o último pedaço até a boca. Estava com pressa, precisa chegar logo à loja de belas-artes. Se comprasse rapidamente a extensa lista pedida, poderia retornar.
Arthur tinha pensado em enviar alguém, mesmo o guarda que o seguia podia fazê-lo, ao menos assim ficaria a sós. Porém, William era metódico. Se Arthur disse a seu irmão que faria, ele iria fazer por si mesmo ou o irmão recusaria.
Tediosamente, Arthur deixou uma moeda sobre a mesa. No momento em que saiu da loja, a luz solar perturbou sua visão. Mais do que a maioria das pessoas, ele era sensível à claridade. Irritado, o Duque virou-se, seguindo seu caminho por extensos metros. A loja era pequena, mas com materiais de qualidade. O atendente era jovem, competente e com personalidade surrealmente amigável.
— O mesmo de sempre, Vossa Graça?
Arthur aproximou-se das prateleiras. Haviam coisas novas. Ele não sabia o que, mas entre a confusão de pincéis, tintas em embalagens curiosas e telas espalhadas, algo estava diferente.
— Sim. — Arthur acenou.
Ele pretendia vasculhar as prateleiras por mera curiosidade, mas, impedindo-o, agulhas pareceram perfurar seus tímpanos graças os gritos agudos ao lado de fora.
— O que é isso agora! — Murmurou o atendente.
Arthur abriu a porta e discretamente observou a confusão. Pelo campo de visão restrito, ele pode ver uma mulher caída no chão e a silhueta de uma jovem rapidamente checando as feridas. Arthur não esperava, mas a silhueta disparou em direção ao beco. Ela não era a criminosa. Então, estava atrás dele?!
— Organize as coisas que pedi, voltarei para pagar. — Arthur deixou a ordem antes de fechar a porta atrás de si e direcionar o olhar ao cavaleiro que o seguia. — Encontre a guarda real.
Questionando sua própria decisão, ele correu.
Não era assim que planejava finalizar sua tarde: empurrando para dois guardas o homem que atacava sem piedade a moça. Observando-os levarem o bandido, o olhar do Duque permaneceu focado até que o desserviço desaparecesse.
Assim que o esperado finalmente aconteceu, ele correu seu olhar para jovem. De costas, ela observava atentamente a cena, agarrando com força a sacola roubada com uma mão e coçando o ouvido com a outra.
Ele pensou que ela estaria assustada, mas não. Havia algo estranho. Ninguém que passou pela mesma experiência que ela tossiria e choraria por meros dez segundos e depois estaria sorrindo e pisando na mão alheia. Ela era péssima em atuar.
A parte de trás dos fios longos e ondulados da jovem estava uma verdadeira bagunça. Arthur imediatamente pensou que se pareciam como uma espécie de ninho de passarinho.
Descendo seu olhar pelo ombro da jovem, ele encontrou uma fenda que certamente não fazia parte do design do vestido. Suspirando, Arthur deixou o próprio casaco deslizar pelos braços e cuidadosamente deixou-o sobre os ombros.
— Seu vestido está rasgado. — Um pouco a frente dela, ele parou e, por cima do ombro, encarou a sacola roubada que a jovem segurava.— Vamos devolver isso para sua amiga.
E então, silêncio. Foi esse o único assunto que se estabeleceu entre eles. Enquanto a jovem devolvia devidamente a sacola para a mulher com uma intimidade estranha para a provável diferença de idade, Arthur retornou a loja de belas-artes pensando que ela parecia estranhamente familiar.
Por sorte, o Duque carregou sem problemas o pedido. Ele pensou ter sido rápido, mas ao lado de fora a jovem já esperava-o com desgosto aparente. Os lábios rosados se torciam em uma linha fina. Ela destinou um olhar cortante para ele, os músculos da sobrancelha contraídos.
— Eu já disse, não preciso de um guarda-costas!
Arthur não respondeu, somente estendeu a mão em direção a carruagem a espera. Com o som do concreto sendo furiosamente pisado, ela entrou no transporte.
O Duque revirou os olhos e seguiu-a, autorizando o cocheiro a partir. Ele deixou os itens sobre o espaço vago ao lado. Novamente, silêncio, ou ao menos seria se a mulher não bufasse como um touro a cada segundo.
— Não tenho interesse em ser seu guarda-costas. — Foi a vez de Arthur liberar o ar dos seus pulmões.
Novamente, ele recebeu aquele olhar.
— Perdão?
— Estou mantendo minha consciência limpa levando-a até um lugar seguro. Apenas isso.
E ela bufou. Deus, aquela mulher poderia parar com isso? O par de olhos azuis sobre ele já deveria ser o suficiente para transmitir o estresse. Arthur não se importava se ela odiasse ele. Se depois de hoje ela gritasse pelos quatro cantos do mundo que o mataria, o Duque iria apenas ignorar. Hoje, ele deixaria ela na porta da loja da irmã e retornaria para sua própria casa com a consciência limpa como a neve, o que acontecesse depois não era da sua conta. Droga! Era por isso que ele não se envolvia no problema dos outros.
A carruagem não tardou a parar. Pela janela, ele observou o exterior da loja: Garden.
No início havia sido difícil dizer, mas enquanto a jovem abria a porta com um empurrão, Arthur entendeu o porquê da impressão de conhecê-la. Era dessa forma que Natasha deveria se parecer sem a cicatriz.
— Obrigada. — A mulher disse.
Antes que ela pudesse descer, Arthur estendeu sua mão. Entendendo de imediato, Anastácia removeu o casaco verde-escuro dos ombros.
— Apenas mais uma coisa. — Arthur disse assim que a peça foi colocada sobre sua palma. — Se vai salvar algo ou alguém, trate de garantir que não vai precisar envolver terceiros.
Após destinar um último olhar sobre ele, Arthur observou-a entrar na loja antes de sinalizar ao cocheiro para que prosseguisse. Um verdadeiro encontro do acaso criado para atormentar sua rotina. Ele chegaria atrasado para o jantar. Então, bufou. O que diabos? Menos de quinze minutos com aquela mulher no mesmo lugar e estava bufando também? Que Deus ajudasse-o a nunca mais encontrá-la, se não, ele tinha certeza que seus pensamentos não continuariam no lugar.
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Atualizado até capítulo 48
Comments
Miss Cherry
compartilho dos mesmos pensamentos
2025-03-13
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