Fora de cogitação! Toda essa bagunça estava completamente fora de cogitação. Anastácia só podia pensar que a Marquesa adorava ver seus convidados correndo como ratos pela mansão ou, no caso, correndo como ratos pelo labirinto de arbustos. Ela sequer sabia o que procurava no imenso e confuso lugar.
Cansada de andar em círculos, sentou-se sobre a grama. As paredes de folhas farfalhavam com o vento, poucas eram carregadas pela corrente. Por sorte, o sol ainda estava no céu. Que se dane! Ela esperaria sentada até todos se cansarem, então, voltaria decepcionado por não encontrar o seja lá o que fosse.
Ela bufou.
Não importa o tesouro. Anastácia tinha cumprido o pedido de sua irmã: o veneno compactado e disfarçado sob o pretexto de maquiagem tinha chegado às mãos da Marquesa como um presente de aniversário. Se ela quisesse se livrar do marido abusivo, estava com a arma em mãos, ninguém nunca saberia. Porém, se não, estava fora da ossada de Anastácia e suas irmãs. O único arrependimento da jovem era ter caído nos encantos daquela mulher gentil.
— Ana, querida. Por que não participa do passatempo que preparei? — Mary, a Marquesa de Willowfield, perguntou.
— Não é necessário, eu…
— É necessário! Tome algo bom! Se divirta. É o mínimo que posso fazer. — Sorrindo, a gentil mulher apoiou suas mãos como uma concha na bochecha de Anastácia. — O jogo de hoje é caça ao tesouro. Há algo muito especial no labirinto.
Sem que Anastácia tivesse a minha chance de contestar, Mary girou-a e deixou sobre suas costas um pequeno e fraco empurrão, acompanhado pelo assustador “divirta-se”.
A Marquesa era o estereótipo de dama perfeita. O sorriso inocente e doce, banhado de gentileza pura tinha tirado toda a coragem de Anastácia para recusá-la. Ela já não sabia se o Marquês era covarde ou corajoso demais, mas, para levantar a mão contra Mary, ele deveria ser corajoso demais. Que seja! Ele arcaria com as consequências. Se não houvesse justiça, Mary teria sua vingança.
— Eu quero mais que aquele velho morra!!! — Ela gritou. Estava presa em um labirinto, ninguém poderia encontrá-la, pouco importava se decidisse xingá-lo aos cinco cantos do mundo. — Babaca! Ridículo! Se eu encontrá-lo aqui irei esfregar suas rugas nesse chão! Espero que definhe lentamente!
Ninguém iria encontrá-la. Ao menos, isso que pensou, mas o destino odiava ela; sua vida era um emaranhado de coincidências vergonhosas e o par de olhos verdes encarando-a atentamente era a prova disso. Seu ódio personificado estava estático, confuso. Anastácia pode ver um sorriso torto se formar nos lábios do homem quando ele disse:
— Olá?
— Não. — Anastácia esfregou os olhos com força — Não, não, não!!!
Era uma cena engraçada. A mulher estava sentada no chão com as camadas do vestido espalhadas pela grama. O cabelo moreno ondulado estava solto, uma mecha dos fios trançada junto a um fio dourado teria chamado a atenção do Duque, se Anastácia não gritasse incessantes “nãos”.
— Não o que, senhorita? — Ele perguntou pausadamente, evitando que a estranheza de seus pensamentos fosse espelhada em sua voz.
Anastácia levantou-se. Furiosamente, ela se aproximou do homem em passos longos, sua testa franzida com força. E, ele era alto! Ela não tinha percebido, na verdade, apenas fingiu que não. Ao chegar perto demais, mais do que deveria, ela precisou levantar seu olhar.
— Desde quando você está aí?
— Você? — Arthur não recuou, sequer um fio do cabelo moveu-se do lugar. — Não deveria ser um pouco mais formal?
Anastácia revirou os olhos.
— Você me pegou gritando aos quatro do mundo, ser formal seria ser descarada.
— Anastácia afastou-se. Ela bateu com força a saia do vestido, espalhando as gramas e folhas grudadas pelo ar. Parecia que o Duque tinha, com facilidade, descoberto uma das manias da jovem. — E eu nem te conheço. Não vou te tratar com formalidade.
— Sua lógica não está invertida? Não deveria ser formal por não nos conhecermos? Mas não é muito relevante já que aparentemente pensava em cometer meu assassinato. — Arthur franziu o cenho. Ele virou-se e virou-se e virou-se. Então, suspirou. — Estou perdido.
— Primeiro, eu já pensei em te matar, mas mudei de ideia. Segundo, você não tem rugas e nem é velho, o que te fez pensar que eu estava falando de você!? Deus me ajude, eu estou falando como minha irmã! Listando coisas para lá e para cá — O pulmão de Anastácia subiu e desceu em busca de ar. — Terceiro… como assim perdido?
Arthur se sentiu confuso. Era possível alguém dizer tantas palavras em tão pouco tempo?
— Perdido, senhorita. Perdido no sentido literal da palavra.
Algo em Anastácia perdeu-se também: seu autocontrole. Um sorriso contido logo se transformou em uma gargalhada. Suas bochechas rapidamente ganharam uma cor rosada, estranhamente mais do que uma perfeita combinação com o azul dos seus olhos. O ar teimava em chegar em seus pulmões.
Uma leve curva se formou nos olhos da mulher. Não eram apenas os lábios ou as sutis covinhas, não era mesmo o pequeno fio rebelde no topo do cabelo, eram aqueles olhos curvados em um sorriso que fizeram o Duque deixar de lado sua seriedade, que deu lugar a uma grande onda de irritação. Sua desgraça por aceitar procurar só Deus sabe o que era tão ridiculamente engraçada?
Ele esperou até que a risada de Anastácia cessasse, para, com uma veia de sua testa levemente destacada, perguntar:
— Agora, do que está rindo?
Anastácia limpou as lágrimas que se acumularam no canto dos olhos.
— Pensei que eu fosse a única distraída o suficiente para perder-se em um labirinto de folhas. — Anastácia deu de ombros. Tinha focado mais do que deveria no tesouro escondido e perdido-se em seus pensamentos. De toda a forma, existiam alguns males que vinham para o bem. Tinha conseguido, de alguma forma, um motivo para fazer chacota de um certo ruivo e talvez… — Você ao menos se lembra da última curva que fez?
— Arthur Montague.
— Como?
Foi a vez do Duque bufar.
— Meu nome, pode usá-lo, não me importo. É melhor do que isso. — Com desprezo, Arthur revirou os olhos sem saber que, para livrar-se de ser tratado por “você” tinha facilitado uma tarefa complexa.
Enquanto isso, Anastácia decidiu que amava o destino! Um reencontro esquisito tinha poupado-lhe muito tempo. Agora só faltava, bem, mexer um ou outro pauzinho. Apesar de que ela pensou, em algum lugar, já ter escutado esse nome.
— Em frente, primeiro corredor à direita. — Arthur apontou para o corredor atrás deles.
Em um movimento abrupto, os sapatos da jovem foram deixados de lado, próximo a parede de plantas. Aqueles saltos finos estavam atrapalhando e, principalmente, machucando.
— Ótimo, milorde. Então vou pela segunda à esquerda. — Anastácia levantou a barra do vestido. Sem os saltos a saia era grande demais, mas com eles seus pés doíam, ela sabia que os calos demoravam para sarar e não via necessidade em todo aquele desconforto. Anastácia não queria mais ver aquele par em seus longos anos restantes de vida.
Arthur mexeu os lábios, mas as palavras não deixaram sua boca. Ele apenas abaixou sua cabeça encarando o pequeno par de sapatos como um objeto letal. Ele não entendia essa mulher. Arthur não lhe dava liberdade para falar informalmente, mas ela falava. Arthur dava-lhe liberdade para falar informalmente, ela falava formalmente. Ela estava o contrariando em absolutamente tudo e não precisa ser um gênio para perceber que estava o fazendo propositalmente.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 48
Comments