O sol se escondia no horizonte, e eles precisavam sair daquele labirinto. Os resquícios do dia desapareciam e o alerta de chegada da noite surgia; o vento soprava mais forte, mais frio.
Logo alguém daria conta do seu desaparecimento, assim como da mulher, ou talvez, não. Arthur sinceramente não sabia se alguém sentiria sua ausência, mas estava curioso sobre o primeiro a notar. De todo o modo, o Duque não podia culpar ninguém além de si mesmo.
Ele não deveria ter se distraído; não deveria ter seguido a voz feminina sem prestar atenção no caminho; não deveria ter perdido seu foco nos passos. Contudo, se estava forçado a permanecer no labirinto por seu próprio desvio, Arthur pensou que ao menos faria o favor para si mesmo de sanar sua curiosidade.
Natasha poderia ser egoísta com as informações de sua família e, para alguém que conhecia demais sobre ele, não saber ao menos o nome de uma das irmãs parecia estar fora de cogitação.
— Senhorita, pode me dizer seu nome?— Ele poderia ser discreto, menos direto, mas o vaso que guardava sua paciência estava tão cheio quanto sua energia. Em outras palavras, vazio.
A jovem virou-se para ele, repentinamente gritando:
— Eu não aguento mais! — Os olhos da, até então, desconhecida brilharam pelas lágrimas. — Elen, esse é meu nome.
— Está bem, vou apenas enviar alguém para a loja da sua irmã. — Arthur abaixou-se. Próximo à parede de plantas, ele afastou as folhas secas de parte do chão, restando somente a grama verde. Ele certamente não cumpriria com essa palavra, mas ninguém além de si mesmo precisava saber.
— Anastácia. — Ela disse baixo, quase inaudível. A curandeira forçou um sorriso enquanto copiava a ação do Duque. O estalar das folhas revelava a falta de gentileza da jovem.
Arthur sentou-se sobre a parte livre enquanto estalava a língua no céu da boca. Anastácia estava começando a entendê-lo um pouco: irritável e tedioso assim como sua gêmea. Então, o sorriso falso transformou-se em brincalhão. Antes de sua saia tocar o chão, ela garantiu que se sentaria o mais próximo possível de Arthur, o suficiente para receber sobre si um olhar de desaprovação. Então, sem piedade, gritou:
— Anastácia! Anastácia Lilac!
— Céus! Você fala tudo gritando?! — Arthur pressionou a palma sobre o ouvido direito. Um zunido! O grito de Anastácia tinha causado um zunido!
— E milorde faz tudo monotonamente! Já percebeu que age como uma estátua, fala como uma estátua, se move como uma estátua!? Ora, estamos presos em um maldito labirinto de folhas! Folhas! Isso é cansativo e humilhante. Eu quero quebrar esses galhos e sair à força.
— Uma estátua não age, se move ou fala, senhorita. — Arthur deixou seu pescoço cair para trás. A cada segundo, a noite se expandia sobre o céu alaranjado. — E se feriria se tentasse passar a força pelos caminhos.
Anastácia se amaldiçoou mentalmente, ela já estava ferida. A dor não era algo que não pudesse suportar, para ela era simplesmente um incômodo. No entanto, sua habilidade de classificar a dor estava longe de ser precisa. Uma farpa doía como uma facada e uma facada como uma farpa, poucas vezes a dor era correspondente ao ferimentos.
— Milorde, pode me emprestar seu casaco novamente?
Arthur franziu o cenho. Se ele não tivesse rugas, depois do longo dia elas estariam lá. Era a segunda vez que fazia essa ação para Anastácia e a segunda em sua vida que entregava seu casaco para alguém. Desta vez, a cor era preta e, desta vez, ele foi pego desprevenido. Anastácia não usou a peça para cobrir-se, não tinha frio. Ao contrário do esperado, a mulher esticou-o e jogou-o sobre o rosto do Duque.
— Não ouse se mexer.
— É sério? — Arthur exclamou indignado, mas, de qualquer forma, segurou o casaco sobre seu rosto, mantendo-o no lugar.
— Por que não seria? Tenho meus defeitos, mas não sou indecente.
Anastácia levantou um pouco mais sua saia. Azarada deveria ser seu sobrenome; as coisas saiam do controle com facilidade surreal. O tempo com o salto, misturado às horas de caminhada, não tinha feito bem para seu corpo, muito menos para seu tornozelo. Não fazia muitos meses que Anastácia o torcera gravemente. Por isso, as sequelas ainda permaneciam.
Nem toda a ferida era visível aos olhos, algumas se escondiam por baixo da carne. Estas, que não deixavam cicatrizes eram as piores, fariam você pensar que tinham se perdido ao vento, mas lá estavam enraizadas nos ossos. Independente da quantidade de grãos de areia que escorressem pela ampulheta da vida, suas raízes seguiriam intactas e se espalhando como praga.
Arthur sentiu-se estranho com o silêncio.
— Está bem?
Anastácia devolveu a saia a seu lugar original, tapando o tornozelo ferido. Ela virou-se para Arthur, o Duque ainda segurava o casaco sobre o rosto.
— Não é nada.
Anastácia puxou o tecido preto para si e um único pensamento correu em sua mente: vaga-lumes. Agora ela sabia com o que aqueles olhos verdes encarando-a meticulosamente pareciam: eles eram como vaga-lumes.
Conforme a noite se aproximava como o lobo espreitando nas sombras, o sol se escondia no horizonte. Era surreal como, na mesma medida em que o azul escuro se arrastava sobre o céu, aqueles vagalumes brilhavam.
— Não me pareceu nada. Feriu seu tornozelo? — Arthur retirou seu olhar da jovem, encarando o vácuo no espaço em sua frente.
— Como sabe? — Antes que percebesse a tolice de sua pergunta, as palavras voaram para fora de sua boca. — Qual o seu problema!? Não deveria sair por aí espiando os outros!
Anastácia esperou uma resposta, mas ela não veio.
— Acredite, não tenho um mísero interesse em espiar. — O tom foi baixo e as palavras quase ocultadas pelo som de Arthur levantando-se. — Sou um pouco mais direto que isso quando quero algo.
— Então…
— Guarde seu comentário ácido para si.
— Muito bem! O guardarei no fundo do meu coração junto com a raiva que estou sentindo! — Batendo a saia do vestido, Anastácia levantou-se. — Dito isso, quero realmente saber, como o gênio pretende…
Arthur sorriu, a escuridão tinha tomado por conta por completo do labirinto, tinha certeza que ela não podia vê-lo, mas ela o via. Anastácia estava acostumada com a escuridão, ela conhecida como a palma de sua mão. Familiaridade, ela diria. Por isso, ela viu; Anastácia vislumbrou os cabelos do Duque se balançarem com o vento; os lábios do homem se curvarem pela terceira vez no mesmo dia; aquele par de olhos se misturar à multidão de vagalumes que se levantou dos arbustos. As belas luzes verdes piscavam em diferentes ritmos, formando uma dança verdadeiramente elegante.
— Creio que eles vão nos ajudar. — Arthur estendeu sua mão, servindo de apoio para um dos vagalumes.
Pela primeira vez em anos, Anastácia desvendou o verdadeiro significado da escuridão.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 48
Comments