Anastácia se forçou a pensar. Eram ervas secas. A umidade não deveria ser alta para manter a qualidade, não estariam próximas à parede de madeira ou do chão. Elas também não podiam ser expostas ao sol, estariam nos cantos, longe dos raios. As ervas deveriam estar em vidros, eram frágeis demais para a parte da frente do navio. Atrás!
Anastácia rapidamente rodou a escada. Ela riu sem humor. Das três fileiras empilhadas, eram as caixas de cima, certamente. Mas ela não tinha tempo e havia gasto todo seu raciocínio nisso, seus neurônios estavam queimando. Ela precisava de sorte. É, um pouco de sorte lhe cairia bem.
Com olhos fechados, Anastácia aproximou-se de uma das caixas, ela não sabia qual, somente abriu-a com dificuldade. Era essa! Sorrindo vitoriosa, entre as palhas na caixa ela pegou um dos frascos. O destino decidirá agracia-la com algo além de coincidências que contribuíam para o fim da sua imagem.
Poderia comemorar depois, com toda a certeza, mas, naquele momento decidiu abandonar a embarcação. Anastácia desviou dos empecilhos, alcançando a escada, apenas para, na curva que levava ao degraus, trompar com o diabo em pessoa que encarou-a com aquele par de olhos verdes e sobrancelhas levemente erguidas.
— Céus! Você está em todo o lugar?! — Anastácia exclamou. Sua mão repousou contra o próprio peito, sentindo as batidas desenfreadas causadas pelo susto.
— Eu estou onde deveria estar, mas a senhorita…
Notando para o local obscuro em que a mente de Arthur construía suas teorias, as mão de Anastácia foram abanadas rapidamente no ar.
— Não é o que está pensando, eu não sou contrabandista! Não sou uma criminosa. — Parcialmente correto, ela era uma criminosa, mas não contrabandista.
Arthur deslizou o olhar até a mão direita da jovem. Anastácia arregalou os olhos ao notar que, inconscientemente, ainda segurava o frasco com ervas. Desviando timidamente seu olhar do olhar do Duque, ela escondeu suas mãos nas costas.
Arthur balançou a cabeça da esquerda para a direita, lentamente. O Duque levantou um dos dedos para cima, o som de madeira rangendo com passos fez o coração de Anastácia disparar mais.
— Invadir e roubar propriedade da marinha é ilegal. É uma criminosa.
Não, agora não era hora. Ela tinha que sair, tinha que voltar para o hospital não importa o que. Era a última chance. Anastácia sentiu o ritmo do seu coração parar, quase estático.
— Não pode deixar eles descerem. — Anastácia disse, baixo em um quase sussurro. Ela não escondeu mais o frasco, mostrou-o para Arthur, próximo ao rosto do Duque. — Isso é uma erva medicinal, cresce apenas nas americas. Essa é a única chance de salvar uma conhecida. É ilegal a importação, sim! Mas se eu não levar isso, ela morre!
— Eu estou longe de ser seu maior problema agora. No momento em que descerem aqui, nós dois corremos perigo.
Anastácia arregalou os olhos, mais do que nunca, suas mãos suaram frio.
— Como assim?
Arthur apontou para as cargas.
— Não era para ter nada nesse navio, mas, assim que descobrir isso, não sei a reação que alguém terá.
O som dos passos cessou. Anastácia desviou seu olhar para cima do ombro do Duque, no topo da escada.
— Pensei que estava sozinho, vice-almirante Montague. — Parado no topo da escada, Roderick mantinha as mãos atrás das costas e postura confiante.
— Esconda isso. — Arthur murmurou antes de virar-se para o capitão e dizer, seco: — Não preciso justificar minhas ações para você.
Anastácia escondeu-se atrás de Arthur, aproveitando a oportunidade para levar o frasco com ervas até o próprio bolso. Ela não precisou de muito esforço para notar precisamente quem era a pessoa não confiável.
— Sou responsável pela operação — Roderick retrucou. — preciso saber dos envolvidos, para o relatório final.
— Não é necessário, dessa vez eu o farei. — O relatório que você falsifica? Arthur pensou, mas, com dificuldade, não o expôs.
Anastácia afastou-se do Duque e se pôs por completo na visão de Roderick.
— Vossa Graça pediu que eu viesse junto caso houvesse feridos. — Anastácia mentiu, buscando fugir o mais rápido possível. De fato, sorte nao era seu melhor atributo, toda a vez que pensava se safar com facilidade, algo equilibrava a balança de desgraça.
— Então é uma curandeira. — Roderick sorriu torto. — De fato um de meus homens se feriu, poderia ajudá-lo?
Anastácia engoliu seco. Ela teve um mau pressentimento, raro, mas extremamente preciso. A curandeira desviou seu olhar para Arthur e seu rosto inexpressivo, indecifrável. Anastácia não sabia o que estava acontecendo, isso era desesperador. Ela sentia como se uma lâmina estivesse pressionada contra seu coração, podendo a qualquer momento matá-la. E, talvez essa fosse uma opção, ela apenas não sabia que ela era lâmina.
Desavisada, junto de Arthur eles subiram os degraus: um, dois, três, quatro.
— Não tem que verificar as cargas, vice-almirante? Não é para isso que veio?
Os passos pararam. Arthur seguiu com expressão inalterada e Anastácia sorriu com falsa alegria.
— Que cargas? — A curandeira perguntou.
Arthur curvou os lábios, retornando os passos e copiando o tom de Anastácia ele disse:
— O navio está vazio. Não tenho mais trabalho aqui. Você venceu Roderick.
— Não se importa se eu averiguar? Apenas para ter certeza.
Arthur deu de ombros.
Anastácia pensou que os quinze degraus pareciam uma eternidade, mas seu coração aliviou ao chegar ao convés. Ainda estava vazio; ao lado, a escuridão era iluminada pela vela em chamas. Ela olhou ao seu redor, especificamente para a entrada do porto.
Pensando ter visto algo fora do comum, franziu o cenho. Suas irmãs não estavam mais no observatório, mas pela longa rampa de concreto que levava ao cais, desciam mais e mais marinheiros. Problemas, problemas e mais problemas.
— Assim que ele voltar do porão, se estiver aqui em cima correrá perigo. Já disse, eu não sei se a reação de Roderick será violenta, então vá para a cabine do capitão e não volte até eu ir para lá.
Anastácia sentiu a mão enluvada repousar sobre seu ombro e, no mesmo instante, ela desviou seu olhar para encontrar Arthur. A curandeira piscou diversas vezes antes de formular a resposta mais apropriada.
— Educadamente, recuso.
— Não acha que passou da hora de fazer o oposto do que peço? — Novamente, aquela veia de irritação surgiu na testa de Arthur.
A curandeira sorriu de forma sombria e sem mostrar os dentes. Próximo ao mastro, ela abaixou-se e pegou um pé de cabra deixado por ali por algum tripulante. Orgulhosamente ela segurou a ferramenta enferrujada.
Seus olhos azuis brilharam pela animação. Provavelmente, antes de cair nas mãos de Anastácia era o objeto era usado para abrir a escotilha com maior facilidade, mas agora era uma arma para diversão.
Roderick usava uniforme da marinha, todos no cais abaixo de si eram marinheiros. Não foi difícil ligar os pontos e perceber uma tarefa que facilmente poderia fazer. Se não era capaz de fugir, faria questão de atormentar os planos alheios seja de quem fosse.
— Já jogou croquet? Eu costumava a jogar com minhas irmãs quando era mais nova. O problema é que eu sempre exagerava na força — Anastácia apontou o pé de cabra para a balaustrada do navio. Felizmente, uma das poucas partes intactas por completo. — Já que não gosta de envolver terceiros nos seus problemas, milorde. Ficarei feliz em garantir que ninguém suba por aquela escada!
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Atualizado até capítulo 48
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