Anastácia não podia imaginar que encontrar um simples nome seria tão complexo. Fazia três dias do seu fatídico encontro e seu pouco tempo livre foi destinado a perguntar para o alfaiate, para o jornaleiro, para a senhora que vendia frutas e para o atendente da loja de belas-artes… Oh, não, este conhecia o ruivo, mas teve a coragem de negar! Lucien estava se tornando abusado!
Os métodos gentis da curandeira estavam se esgotando, suas fontes legais também. Ela precisaria de um pacto com o próprio diabo para descobrir um nome? Ninguém prestava atenção aos seus arredores? Tudo naquele homem chamava atenção, não era difícil notá-lo. Ela precisava de novas abordagens, de preferência não problemáticas. Mas sequer encontrá-las em sua mente era uma situação mais do que complexa. As engrenagens girando em seu cérebro certamente eram barulhentas, o suficiente para incomodar as outras duas mulheres na cozinha.
— Natasha, por que nossa irmã está bufando como um touro e girando como peão?
Anastácia cessou suas voltas ao redor do sofá e focou seu olhar na irmã mais nova. Astrid estava encostada no arco da porta da cozinha, vez ou outra, arrancando uvas do cacho que segurava e levando-as para os lábios.
— Eu não estou! — Anastácia exclamou furiosamente.
Com um último e firme som da faca colidindo com a tábua de madeira, Natasha deixou os legumes que cortava.
— Ela pegou um vírus por aí. Ignore-a.
— Também não peguei nenhum vírus!
— É contagioso? — Astrid removeu mais uma uva, desta vez, ofereceu-a para Natasha, que recusou com um aceno de cabeça.
A mais velha curvou seus lábios em um sorriso discreto e retornou sua atenção aos legumes, levando-os para o panela sobre o desgastado fogão a lenha.
Anastácia cruzou da sala à pequena cozinha correndo. Por cima dos ombros da mais velha, ela observou os cubos coloridos perfeitamente cortados alcançarem o caldo fervente.
Não demorou mais que segundos para o aroma dos temperos misturado ao sutil cheiro de carne fazer seu estômago roncar.
— O que você pôs aí? O cheiro é bom. — Anastácia repousou o queixo sobre o ombro da mais velha. Nesses momentos, ela agradecia pelo cabelo curto da irmã.
— É mesmo, parece bom. — Ainda degustando uvas, Astrid aproximou-se e copiou a ação da curandeira.
Natasha revirou os olhos e tapou a panela violentamente. Suas irmãs tinham o poder de tirá-la do sério com facilidade surreal.
— Para mesa. As duas!
Grunhindo em decepção, mas sem retrucar, as irmãs afastaram-se. A casa era pequena demais para que as mais novas continuassem a perturbar Natasha.
Anastácia foi a primeira a tomar seu lugar na mesa. Ela odiava altura e, para seu azar, a mesa de jantar ficava próxima a janela. A brisa da noite era refrescante, mas encarar a rua mal iluminada causava calafrios. Dos três possíveis lugares, ela preferia o do canto no qual as costas da cadeira escorava na parede, de certa forma, reconfortante.
Astrid era o oposto. Ela gostava da escuridão, gostava da altura, céus! Ela gostava de tudo que despertasse mesmo que o mínimo de adrenalina. Portanto, sentou-se de frente para a janela.
— Isso é culpa sua, Anastácia!
Uma bandeja com pães redondos e dourados foi deixada sobre o centro da mesa por Natasha.
— É culpa das duas. — A mais velha sentou-se no lugar vago. — Agora comam e parem essa discussão infundada. Tenho um favor a pedir.
Como névoa, qualquer resquício de irritação desapareceu da expressão das irmãs. Os olhares se tornaram sérios e curiosos.
— Qual favor? — Anastácia perguntou.
Natasha revirou o bolso escondido em sua saia. Sobre a mesa, uma embalagem quadrada de maquiagem foi deixada e abaixo dela um pequeno cartão.
— Entreguem isso para a Marquesa de Willowfield.
Os olhos de Anastácia arregalaram-se. Então, ela rapidamente pegou os itens. A bela embalagem rosa claro com detalhes dourados em formato de rosas foi aberta. Sobre o pó branco, Anastácia observou atentamente a marca em formato de folha de mamona.
— O Marquês, ele… Eles não eram o casal dos sonhos!? — Anastácia exclamou, apavorada.
Natasha acenou em confirmação.
— Mary e eu estávamos conversando. Ela foi até a loja alguns dias atrás. — Natasha levou um dos pães até os lábios. Ela mastigou o pedaço vagarosamente antes de continuar: — No início, seu casamento era perfeito. Ela pensou ter tirado a sorte grande, um homem respeitoso e gentil em meio aos canalhas.
Astrid, discretamente, pressionou as mãos sobre o vestido.
— Há quanto tempo acontece?
— Há alguns anos, mas da última vez, foi a pior; ele estava um pouco bêbado para conhecer limites. — Natasha respirou profundamente.
Anastácia sabia: nenhuma mulher procurava sua irmã se não estivesse desesperada. A sociedade jogava-as para a ponta do precipício, um lugar que elas não poderiam sair sem uma medida drástica. Pessoas como a Marquesa, vítimas de violência, não eram capazes de sair da gaiola sem perder tudo, a não ser que quebrassem ela a força. E, era isso que Natasha proporcionava: uma saída mascarada por um embalagem de maquiagem. Pó de arroz? Bobagem.
— Qual a dose do veneno? — Astrid perguntou.
— Uma.
— Está maluca? Natasha, é muito óbvio! Não queremos ser presas por assassinar um aristocrata! — Anastácia levantou-se em um pulo.
— Não vamos. — Natasha suspirou. Ela estendeu a mão indicando para que a mais nova se acalmasse. — Primeiro, ninguém sequer cogitará envenenamento; Segundo, a Marquesa irá cuidar do resto. Terceiro, ao menos olhe o convite!
Astrid esticou seu pescoço, observando o pequeno papel na mão de Anastácia.
— Wow! Eu quero ir! — A mais nova puxou o convite para si. — Só precisa que entregue o veneno para a Marquesa, não é?
Inacreditável. Anastácia conhecia o espírito aventureiro e festeiro da sua irmã caçula, principalmente quando se tratava de festas, mas era demais pedir menos empolgação? Elas estavam planejando, ou ao menos sendo cúmplices, de um assassinato. Para dizer o mínimo, milhões de coisas poderiam dar errado e acabariam as três, na melhor das hipóteses, atrás das grades.
— Sim. — Natasha confirmou — Mas quem vai é a Anastácia.
Astrid juntou os lábios em um biquinho de decepção:
— Por que ela e não eu?
— Você vai me ajudar com outra coisa. Sua especialidade.
— Com o que? — Novamente, a expressão de Astrid se tornou sorridente.
Anastácia revirou os olhos. Ela teria que deixar seu pequeno projeto de lado por um tempo, mas isso não seria menos interessante. Apesar de detestar se misturar com os narizes empinados, eles sabiam dar festas, principalmente a Marquesa. A mulher gostava de inovar, colocar os traseiros preguiçosos para se mover.
Anastácia havia se decidido. Ela entregaria o que precisava e pelo resto da tarde se divertiria ao máximo. O nome do ruivo podia esperar uns dias. Hora de um pouco de animação!
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Atualizado até capítulo 48
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