Capítulo 5 | A raiz da coincidência

Anastácia não podia imaginar que encontrar um simples nome seria tão complexo. Fazia três dias do seu fatídico encontro e seu pouco tempo livre foi destinado a perguntar para o alfaiate, para o jornaleiro, para a senhora que vendia frutas e para o atendente da loja de belas-artes… Oh, não, este conhecia o ruivo, mas teve a coragem de negar! Lucien estava se tornando abusado!

Os métodos gentis da curandeira estavam se esgotando, suas fontes legais também. Ela precisaria de um pacto com o próprio diabo para descobrir um nome? Ninguém prestava atenção aos seus arredores? Tudo naquele homem chamava atenção, não era difícil notá-lo. Ela precisava de novas abordagens, de preferência não problemáticas. Mas sequer encontrá-las em sua mente era uma situação mais do que complexa. As engrenagens girando em seu cérebro certamente eram barulhentas, o suficiente para incomodar as outras duas mulheres na cozinha.

— Natasha, por que nossa irmã está bufando como um touro e girando como peão?

Anastácia cessou suas voltas ao redor do sofá e focou seu olhar na irmã mais nova. Astrid estava encostada no arco da porta da cozinha, vez ou outra, arrancando uvas do cacho que segurava e levando-as para os lábios.

— Eu não estou! — Anastácia exclamou furiosamente.

Com um último e firme som da faca colidindo com a tábua de madeira, Natasha deixou os legumes que cortava.

— Ela pegou um vírus por aí. Ignore-a.

— Também não peguei nenhum vírus!

— É contagioso? — Astrid removeu mais uma uva, desta vez, ofereceu-a para Natasha, que recusou com um aceno de cabeça.

A mais velha curvou seus lábios em um sorriso discreto e retornou sua atenção aos legumes, levando-os para o panela sobre o desgastado fogão a lenha.

Anastácia cruzou da sala à pequena cozinha correndo. Por cima dos ombros da mais velha, ela observou os cubos coloridos perfeitamente cortados alcançarem o caldo fervente.

Não demorou mais que segundos para o aroma dos temperos misturado ao sutil cheiro de carne fazer seu estômago roncar.

— O que você pôs aí? O cheiro é bom. — Anastácia repousou o queixo sobre o ombro da mais velha. Nesses momentos, ela agradecia pelo cabelo curto da irmã.

— É mesmo, parece bom. — Ainda degustando uvas, Astrid aproximou-se e copiou a ação da curandeira.

Natasha revirou os olhos e tapou a panela violentamente. Suas irmãs tinham o poder de tirá-la do sério com facilidade surreal.

— Para mesa. As duas!

Grunhindo em decepção, mas sem retrucar, as irmãs afastaram-se. A casa era pequena demais para que as mais novas continuassem a perturbar Natasha. 

Anastácia foi a primeira a tomar seu lugar na mesa. Ela odiava altura e, para seu azar, a mesa de jantar ficava próxima a janela. A brisa da noite era refrescante, mas encarar a rua mal iluminada causava calafrios. Dos três possíveis lugares, ela preferia o do canto no qual as costas da cadeira escorava na parede, de certa forma, reconfortante.

Astrid era o oposto. Ela gostava da escuridão, gostava da altura, céus! Ela gostava de tudo que despertasse mesmo que o mínimo de adrenalina. Portanto, sentou-se de frente para a janela.

— Isso é culpa sua, Anastácia!

Uma bandeja com pães redondos e dourados foi deixada sobre o centro da mesa por Natasha.

— É culpa das duas. — A mais velha sentou-se no lugar vago. — Agora comam e parem essa discussão infundada. Tenho um favor a pedir.

Como névoa, qualquer resquício de irritação desapareceu da expressão das irmãs. Os olhares se tornaram sérios e curiosos.

— Qual favor? — Anastácia perguntou.

Natasha revirou o bolso escondido em sua saia. Sobre a mesa, uma embalagem quadrada de maquiagem foi deixada e abaixo dela um pequeno cartão.

— Entreguem isso para a Marquesa de Willowfield.

Os olhos de Anastácia arregalaram-se. Então, ela rapidamente pegou os itens. A bela embalagem rosa claro com detalhes dourados em formato de rosas foi aberta. Sobre o pó branco, Anastácia observou atentamente a marca em formato de folha de mamona.

— O Marquês, ele… Eles não eram o casal dos sonhos!? — Anastácia exclamou, apavorada.

Natasha acenou em confirmação.

— Mary e eu estávamos conversando. Ela foi até a loja alguns dias atrás. — Natasha levou um dos pães até os lábios. Ela mastigou o pedaço vagarosamente antes de continuar: — No início, seu casamento era perfeito. Ela pensou ter tirado a sorte grande, um homem respeitoso e gentil em meio aos canalhas.

Astrid, discretamente, pressionou as mãos sobre o vestido.

— Há quanto tempo acontece?

— Há alguns anos, mas da última vez, foi a pior; ele estava um pouco bêbado para conhecer limites. — Natasha respirou profundamente.

Anastácia sabia: nenhuma mulher procurava sua irmã se não estivesse desesperada. A sociedade jogava-as para a ponta do precipício, um lugar que elas não poderiam sair sem uma medida drástica. Pessoas como a Marquesa, vítimas de violência, não eram capazes de sair da gaiola sem perder tudo, a não ser que quebrassem ela a força. E, era isso que Natasha proporcionava: uma saída mascarada por um embalagem de maquiagem. Pó de arroz? Bobagem.

— Qual a dose do veneno? — Astrid perguntou.

— Uma.

— Está maluca? Natasha, é muito óbvio! Não queremos ser presas por assassinar um aristocrata!  — Anastácia levantou-se em um pulo.

— Não vamos. — Natasha suspirou. Ela estendeu a mão indicando para que a mais nova se acalmasse. — Primeiro, ninguém sequer cogitará envenenamento; Segundo, a Marquesa irá cuidar do resto. Terceiro, ao menos olhe o convite!

Astrid esticou seu pescoço, observando o pequeno papel na mão de Anastácia.

— Wow! Eu quero ir! — A mais nova puxou o convite para si. — Só precisa que entregue o veneno para a Marquesa, não é?

Inacreditável. Anastácia conhecia o espírito aventureiro e festeiro da sua irmã caçula, principalmente quando se tratava de festas, mas era demais pedir menos empolgação? Elas estavam planejando, ou ao menos sendo cúmplices, de um assassinato. Para dizer o mínimo, milhões de coisas poderiam dar errado e acabariam as três, na melhor das hipóteses, atrás das grades.

— Sim. — Natasha confirmou — Mas quem vai é a Anastácia.

Astrid juntou os lábios em um biquinho de decepção:

— Por que ela e não eu?

— Você vai me ajudar com outra coisa. Sua especialidade.

— Com o que? — Novamente, a expressão de Astrid se tornou sorridente.

Anastácia revirou os olhos. Ela teria que deixar seu pequeno projeto de lado por um tempo, mas isso não seria menos interessante. Apesar de detestar se misturar com os narizes empinados, eles sabiam dar festas, principalmente a Marquesa. A mulher gostava de inovar, colocar os traseiros preguiçosos para se mover.

Anastácia havia se decidido. Ela entregaria o que precisava e pelo resto da tarde se divertiria ao máximo. O nome do ruivo podia esperar uns dias. Hora de um pouco de animação!

Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1 | Um estranho muito irritante
3 Capítulo 2 | Um estranho muito irritante - parte II
4 Capítulo 3 | Uma estranha muito familiar
5 Capítulo 4 | Os irmãos
6 Capítulo 5 | A raiz da coincidência
7 Capítulo 6 | Enfim, a coincidência
8 Capítulo 7 | Aquele labirinto de folhas
9 Capítulo 8 | O verde pode ser uma cor viciante
10 Capítulo 9 | Problemas de terceiros, ou não
11 Capítulo 10 | Captain Harry Roderick
12 Capítulo 11 | Três irmãs e uma distração
13 Capítulo 12 | Você está em todo o lugar?
14 Capítulo 13 | Uma rainha em seu trono improvisado
15 Capítulo 14 | A escuridão brilha
16 Capítulo 15 | A garota acometida pela praga
17 Capítulo 16 | Você não sabe o quão bela pode ser.
18 Capítulo 17 | As vítimas
19 Capítulo 18 | A Rosa e a Erva Daninha
20 Capítulo 19 | Croissants
21 Capítulo 20 | O mundo não é gentil com muitos
22 Capítulo 21 | Campo de dente-de-leão
23 Capítulo 22 | Quiçá apenas o início
24 Capítulo 23 | A bagunça de tintas
25 Capítulo 24 | O casal feliz
26 Capítulo 25 | Para você minha mão está sempre estendida
27 Capítulo 26 | Não sentir é diferente de não demonstrar
28 Capítulo 27 | Até amanhã | +18
29 Capítulo 28 | Mocinhos e piratas
30 Capítulo 29 | Ninguém deveria sofrer assim
31 Capítulo 30 | O fim?
32 Capítulo 31 | Uma pequena curiosidade
33 Capítulo 32 | Obrigada por se importar
34 Capítulo 33 | Família
35 Capítulo 34 | Eu te amo mais do que um dia imaginei que seria capaz
36 Capítulo 35 | Eu vou ficar bem
37 Capítulo 36 | Sangue
38 Capítulo 37 | O Conde de Misty Bossom
39 Capítulo 38 | O fim de uma aflição
40 Capítulo 39 | Três dias
41 Capítulo 40 | A chuva trás boa sorte
42 Capítulo 41 | As chamas consediam luz e calor
43 Capítulo 42 | Felicidade
44 Capítulo 43 | Para que o meu querido...
45 Capítulo 44 | Covardia
46 Capítulo 45 | Final
47 Capítulo 46 | Epílogo
48 FIM
Capítulos

Atualizado até capítulo 48

1
Prólogo
2
Capítulo 1 | Um estranho muito irritante
3
Capítulo 2 | Um estranho muito irritante - parte II
4
Capítulo 3 | Uma estranha muito familiar
5
Capítulo 4 | Os irmãos
6
Capítulo 5 | A raiz da coincidência
7
Capítulo 6 | Enfim, a coincidência
8
Capítulo 7 | Aquele labirinto de folhas
9
Capítulo 8 | O verde pode ser uma cor viciante
10
Capítulo 9 | Problemas de terceiros, ou não
11
Capítulo 10 | Captain Harry Roderick
12
Capítulo 11 | Três irmãs e uma distração
13
Capítulo 12 | Você está em todo o lugar?
14
Capítulo 13 | Uma rainha em seu trono improvisado
15
Capítulo 14 | A escuridão brilha
16
Capítulo 15 | A garota acometida pela praga
17
Capítulo 16 | Você não sabe o quão bela pode ser.
18
Capítulo 17 | As vítimas
19
Capítulo 18 | A Rosa e a Erva Daninha
20
Capítulo 19 | Croissants
21
Capítulo 20 | O mundo não é gentil com muitos
22
Capítulo 21 | Campo de dente-de-leão
23
Capítulo 22 | Quiçá apenas o início
24
Capítulo 23 | A bagunça de tintas
25
Capítulo 24 | O casal feliz
26
Capítulo 25 | Para você minha mão está sempre estendida
27
Capítulo 26 | Não sentir é diferente de não demonstrar
28
Capítulo 27 | Até amanhã | +18
29
Capítulo 28 | Mocinhos e piratas
30
Capítulo 29 | Ninguém deveria sofrer assim
31
Capítulo 30 | O fim?
32
Capítulo 31 | Uma pequena curiosidade
33
Capítulo 32 | Obrigada por se importar
34
Capítulo 33 | Família
35
Capítulo 34 | Eu te amo mais do que um dia imaginei que seria capaz
36
Capítulo 35 | Eu vou ficar bem
37
Capítulo 36 | Sangue
38
Capítulo 37 | O Conde de Misty Bossom
39
Capítulo 38 | O fim de uma aflição
40
Capítulo 39 | Três dias
41
Capítulo 40 | A chuva trás boa sorte
42
Capítulo 41 | As chamas consediam luz e calor
43
Capítulo 42 | Felicidade
44
Capítulo 43 | Para que o meu querido...
45
Capítulo 44 | Covardia
46
Capítulo 45 | Final
47
Capítulo 46 | Epílogo
48
FIM

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