Capítulo 20

Eu fico apavorada ao descobrir que ele sabe quem eu sou. Riccardo tem muita influência com os policiais de Milão, então quem me garante que aqui não seja a mesma coisa? A simples ideia deles estarem juntos me causa arrepios.

E o pior de tudo é que ele vai contar para o Riccardo que nós deitamos juntos. Agora sim, estou com medo de apanhar ainda mais dele. Ele vem com uma história estranha, me mandando descansar. Mas eu nunca conseguiria dormir, nunca ficaria vulnerável o suficiente para ele me entregar para o Riccardo.

A sensação de medo e desamparo me consome. Eu me pergunto o que posso fazer para me proteger dessa situação. Como conseguirei fugir caso ele venha entrar nessa casa?

Eu me sinto impotente diante dessa ameaça iminente. É difícil pensar em uma solução quando tudo parece tão sombrio. Mas eu sei que não posso desistir. Não posso nadar o mar inteiro para morrer na praia.

À medida que as horas vão passando, decido dizer a ele que vou preparar o almoço. Mesmo que eu tenha me demitido, ainda precisamos comer. Surpreendentemente, ele se oferece para me ajudar a preparar a refeição. Apesar de sua expressão preocupada, fico em dúvida se isso é apenas um jogo ou se ele está sendo sincero comigo.

É difícil confiar nesse delegado, mesmo que eu queira muito. As feridas que sofri nas mãos de Riccardo deixaram marcas profundas em mim, e agora é difícil confiar em qualquer pessoa. Afinal, como posso saber se ele não é apenas mais um cúmplice de Riccardo?

No entanto, tento dar o benefício da dúvida a ele. Talvez haja uma chance de que ele seja diferente, de que ele realmente queira me ajudar e proteger. Mas ao mesmo tempo, a desconfiança persiste, como uma sombra que paira sobre mim.

Enquanto preparamos o almoço juntos, tento observar suas ações e palavras com cautela. Procuro por qualquer sinal de falsidade ou intenções ocultas. Mas também tento me lembrar de que nem todos são iguais, e que existem pessoas boas no mundo.

Nesse momento, só posso esperar e confiar nos meus instintos. Se algo parecer errado, estarei pronta para agir e me proteger. Uma panelada na cabeça, faz um estrago grande, e ainda não cometo um crime para ir presa.

Enfim, a comida fica pronta, sentamo-nos à mesa e, quando começamos a comer, a campainha toca.

— Se eu mandar você correr, você corre para os fundos da casa. Tem uma portinha no canto da piscina, se esconde lá, ok?

— Não será a Ana Belmont? Ou você me entregou para o Riccardo?

— Para de ficar falando isso. Se eu fosse te entregar para ele, teria feito assim que descobri que você era mulher dele. Agora fica atenta.

Ele se levanta e vai até a sala. Eu me levanto e vou atrás dele, e ele olha pelas câmeras do interfone. Ele coloca a mão na parede e respira aliviado.

— Está pronta para conhecer a Ana Belmont? — Minha respiração chega a falhar com isso. Balanço a cabeça, concordando, e a alegria me invade.

Ele aperta o botão, e eu fixo o olhar na porta, mal piscando, esperando para vê-la. A porta se abre, e ela entra acompanhada por um homem que não conheço, mas que tem algumas semelhanças com o Delegado.

— Como vai, meu filho? — Filho? Se o homem chamou ele de filho, e eles são casados, então o Delegado é filho da Ana. Ela também o abraça e o chama de filho.

Mas, nesse momento, não me importa que ele tenha mentido para mim. Estou tão aliviada em vê-la diante de mim que sou capaz de perdoar qualquer coisa do Delegado, pois agora sei que ele não é corrupto ao ajudar o Riccardo.

— Você deve ser a mulher que precisa da minha ajuda. — Balanço a cabeça, concordando, e ela se aproxima de mim, me abraçando também. — A camiseta do meu filho ficou bem em você.

A vergonha me invade quando ela diz isso no meu ouvido, mas agora percebo que não estou usando nada por baixo.

— Em minha defesa, a culpa é do seu filho, que não me deixa sair para buscar minhas coisas na pensão onde estou hospedada.

— O que foi isso em seu rosto, Júnior? — O pai dele pergunta, enquanto passa os dedos em seu rosto.

— Longa história, pai. Mãe, podem conversar na sala se quiserem.

— Enquanto conversamos, você e Miguel vão comprar roupas para ela. Ela não pode ficar usando suas roupas, Júnior, e nem pode ficar presa aqui em sua casa.

— Eu vou, mas ela está segura aqui, mãe. Melhor não levá-la embora, pelo menos não agora. Vamos, pai.

Eles dois saem, e eu a convido para almoçar, já que a comida está fresquinha. Ela aceita, e nos sentamos à mesa.

— Vamos lá... Como se chama?

— Cecília, Cecília Villar Mattia.

— É parente dos Mattia, ou é apenas uma coincidência?

— Por um jogo de pôquer, acabei me tornando a esposa dele.

— Certo, me conte a sua história, e vamos ver o que posso fazer por você, minha querida.

Eu abaixo a minha cabeça e, antes mesmo de começar a contar, começo a chorar. Mal posso acreditar que consegui encontrá-la, que estou diante da mulher que pode salvar a minha vida.

— Tente se acalmar. Eu sei que pode ser difícil relembrar algumas coisas, mas é importante que você me conte tudo para que eu esteja por dentro de tudo, está bem?

— Eu saí de Milão, pilotando a minha moto, com a intenção de te encontrar. Era tudo o que mais desejava na vida, te ver e falar com você. Estou chorando de alegria também porque esse momento chegou, Ana, e agora minha vida está em suas mãos.

Choro ainda mais, e ela me abraça. É um abraço tão reconfortante e afetuoso que parece que estou sendo abraçada pela minha mãe. Respiro fundo e começo a contar toda a minha história para ela, desde quando fui perdida em uma mesa de pôquer até conseguir fugir. No entanto, falo de forma resumida, pois se contar tudo, passaremos o resto de nossas vidas aqui..

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