Capítulo 14

Me levanto e vou até a minha casa, e lá está ela, pronta para partir. Bem, isso se eu tivesse abrindo o portão, mas ela teve que se entregar. Com poucas palavras, ela me conta por cima que está com problemas com o marido. Que pena, ela já é casada.

Mas se o marido não for um mafioso, não teremos problemas. Caso seja, a situação vai ficar bem complicada.

— Responda, Mary, você sabe cozinhar?

— Eu sei me virar, não sou nenhuma master chef, mas eu e a cozinha nos damos bem. Nunca coloquei fogo em nenhuma casa.

— Eu preciso de uma cozinheira, e você precisa de emprego e proteção. Então, fique aqui, trabalhe para mim, e veremos como posso te ajudar.

— Vai me pagar? Ou acha que só morar aqui vai cobrir minhas despesas? Ou vai descontar pelas despesas que eu vou ter aqui na sua casa? Lembre-se de que você é um delegado, e sabe que escravidão é um crime.

— Vou pagar um salário. — Falo, rindo de suas palavras. Ela tem senso de humor.

— É pouco. Vou ter que arrumar sua casa também?

— Não, só cozinhar. Pode deixar que a casa tem as meninas que fazem a limpeza. — Ela para para pensar, mas eu preciso mantê-la aqui. — Além do dinheiro, estou oferecendo segurança. Ninguém nunca vai te encontrar aqui dentro. A escolha é sua.

Vou até o portão menor e o abro para que ela possa passar tranquilamente com a moto. Ela fica em cima da moto, pensando se deve ir ou ficar. Deve estar travando uma batalha interna em sua mente agora.

— Vai mesmo chamar a Ana para vir até aqui? — ela pergunta.

— Vou tentar encontrá-la e, se eu achar, com certeza a trago. — Ela torce a boca e balança a cabeça concordando. Sai da moto e me pede para mostrar a casa para ela.

Passo por cada cômodo, mostrando onde ela pode dormir, que é um dos quartos no andar de baixo. Não é grande, mas também não é pequeno. Ela parece gostar e se senta na cama, dando um pulo para ter certeza de que é confortável.

Ela é bem engraçada, não vejo maldade alguma nela, e posso garantir que qualquer homem se apaixonaria facilmente.

— Agora vamos conhecer a sua área de trabalho? — pergunto. Ela balança a cabeça concordando e se levanta. Mostro a despensa para ela, onde cada coisa fica no seu lugar. Não sou muito chato, mas gosto das coisas organizadas.

Cada tipo de alimento tem o seu lugar, e as caixas de cereal estão organizadas em ordem alfabética e por tamanho. Acredito que a organização deixa tudo mais bonito aos olhos das pessoas. Ela parece se incomodar um pouco com isso, e fica claro que organização não é o seu forte.

— Você é muito certinho, não sei se vou conseguir manter tudo isso arrumado. — ela comenta, expressando uma certa preocupação.

— Pois aprenda, tire uma foto e guarde para saber onde fica cada coisa. Mas é só seguir as regras aí, e você verá que não tem erro. — Explico para ela as ordens, e ela coça a cabeça confusa. — Tenho que voltar para a delegacia, mas amanhã estarei de folga e vou te ensinar como organizar as compras quando elas chegarem. Daqui a duas horas, volto para almoçar, e espero que a comida esteja na mesa.

— O que você vai querer comer?

— Faça um macarrão com frango assado. Vou começar pelo básico para você não se atrapalhar. Não esqueça da salada, tudo o que eu gosto está na geladeira, não tem erro. Não precisa temperar, eu faço na hora de comer.

— Está bem. — Ela olha ao redor, e eu saio da casa voltando para a delegacia. Assim que me sento à mesa, abro o notebook para ver a câmera que está com a Clara, mas ela ainda está no carro com o Léo, nem chegaram em Milão ainda.

Léo dirige como uma tartaruga, respeitando todas as sinalizações da rua, e com a Clara ao seu lado, ele reduz ainda mais a velocidade. Ou seja, amanhã eles chegarão lá.

Me recosto na cadeira e lembro que há uma mulher em minha casa. Abro as câmeras que filmam a cozinha, e lá está ela, andando de um lado para o outro como uma barata tonta.

— Você não sabe cozinhar, não é, Mary? Ah, vou adorar te fazer passar vergonha para aprender a não mentir para mim.

— Senhor. — Uma policial me chama, e desligo o celular olhando para ela. — Temos um problema, parece que estão tentando invadir o sistema da delegacia, algum hacker.

— Desliguem todos os computadores, tirem todos da tomada imediatamente. — A tensão era palpável no ar, e eu sabia que algo estava errado. Falei com voz firme e autoritária, e a policial saiu correndo, seguindo minhas ordens.

Enquanto os policiais seguiam minhas instruções, senti uma raiva crescer dentro de mim. Esses hackers não tinham limites, sempre encontrando uma maneira de invadir sistemas onde não eram bem-vindos. Apenas o meu computador permanecia ligado, pois era através dele que eu bloqueava a entrada do hacker no sistema da delegacia. O silêncio se instalou na sala, interrompido apenas pelos sons de passos apressados e sussurros preocupados.

— Vamos ver até onde você vai, seu merda. Vai entrar no inferno, não no meu sistema. — O bloqueio foi realizado com sucesso, e eles não conseguiram acessar nada. Sorrio com minha inteligência, algo que devo à minha mãe.

Fico mais alguns minutos esperando por uma tentativa de derrubar o bloqueio, pois pode acontecer, mas quando se trata de um hacker de verdade, se for apenas um aprendiz, ele se dará mal em minhas mãos.

Vendo que não houve tentativa de derrubar o bloqueio, aproveito para rastrear a origem do sinal do hacker, que vem exatamente de Milão.

— Não vai adiantar nada, Riccardo. Quando você estava vindo, eu já tinha ido e voltado várias vezes. — Me levanto e informo à minha equipe que podem ligar os computadores novamente.

As horas passam, e chega a hora do almoço. Só espero que aquela mulher não me faça morrer de intoxicação alimentar.

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