Capítulo 17

Um a zero para mim. Mas também, o cara tem em casa o que há de melhor, não tinha como errar. Principalmente um frango com macarrão.

Sorte a minha que ele quer a mesma coisa no jantar, assim eu fico mais despreocupada. Mas para os outros dias, o que ele quiser comer, vou ter que pesquisar na internet. Termino de almoçar depois que ele saiu, pois com ele aqui eu não estava conseguindo me concentrar na comida.

Ele tem um jeito tão estranho, um estranho bom claro, as mãos dele são grandes, e dão uma sensação de frio na barriga. Já tive dois namorados antes de ser obrigada a me casar com o Riccardo, e sei que os homens não são iguais àquele nojento, mas como será ter um delegado na cama?

— Para com isso, mulher, que coisa feia de se pensar... Mas é tanto tempo na seca que... Que nada, vou lavar a louça que eu ganho mais.

Brigo comigo mesma, sempre foi assim, uma coisa minha. Mas só faço isso quando estou sozinha, não quero ter a fama de louca. Junto tudo e coloco na pia, mas os problemas acontecem quando eu começo a deixar algumas coisas caírem no chão. Eu não sou muito boa com serviços de casa, nunca fui, minha mãe sempre fazia tudo, a única coisa que eu fazia era arrumar o meu quarto, e só.

Depois da louça, decidi conhecer a casa do senhor delegado. A gente imagina tantas coisas, principalmente que tenha armas escondidas por aqui. E não me enganei, logo de cara avistei uma espingarda decorativa em cima da lareira. Tenho certeza de que ele nunca a usou, deve ser apenas uma peça de coleção.

Resolvi não mexer em nada que meus olhos não pudessem ver, então evitei abrir gavetas e portas. Mas não pude deixar de olhar ao redor. Porém, quando cheguei à área da piscina, quase caí dura. O delegado me disse que eu poderia usá-la, e assim que receber meu primeiro pagamento, vou comprar um biquíni novo para aproveitar esse privilégio.

Voltei para dentro da casa e decidi assistir a alguns filmes até a hora de começar a esquentar a comida para colocar na mesa. Às 17:30, me levantei e comecei a preparar tudo com ansiedade.

Mas às 18:00, 18:30, 19:00 e nada do homem chegar. Comecei a andar de um lado para o outro, preocupada. Não tinha como eu saber o que estava acontecendo, não na casa dele. E nem mesmo podia sair para descobrir, então o jeito era ficar presa dentro da casa.

A noite toda passou e o delegado não voltou. Acabei sentando na porta de entrada e dormindo ali mesmo. Fui despertada com a porta batendo no meu pé e, quando olhei para cima, lá estava ele, olhando para mim como se perguntasse o que eu estava fazendo no chão.

Ele fechou a porta e pude ver seu rosto com alguns cortes, como se tivesse sido arranhado. Me levantei e nos encaramos por um tempo até ele falar.

— Por que está ai no chão?

— Estava esperando você chegar. Ai, meu Deus, a comida deve ter estragado em cima da mesa. Vou arrumar tudo e fazer o café da manhã.

— Dormiu no chão me esperando? Por quê?

— Não sei. Mas o que aconteceu com você? — levo minha mão até o rosto dele e passo bem em cima dos cortes. — Brigou com um gato?

— Rsrs, não, isso é a vida de um delegado, viver na adrenalina. Vou tomar um banho e já desço para tomarmos café juntos. Precisamos conversar, quero te fazer uma pergunta.

Balanço a cabeça concordando, e enquanto ele sobe, vou até a sala de jantar e começo a juntar tudo, colocando na pia e já começando a preparar o café da manhã.

Alguns minutos depois, ele desce, tão cheiroso que seu perfume invade toda a sala de jantar e minha mente. Fecho os olhos e absorvo todo o aroma. Ele se senta e eu me sento ao seu lado, e tomamos café juntos.

— Hoje não vou trabalhar na delegacia, vou trabalhar daqui de casa. Tive um contratempo e estou de folga hoje. Mas você nem vai perceber a minha presença.

— Impossível com esse perfume todo. — Falo baixo, mas parece que ele ouviu, já que vejo um sorriso brotar dos seus lábios ao levar a xícara à boca.

— Gostou do meu perfume? — Ele pergunta ao colocar a xícara novamente na mesa e olha para mim.

— Não, é enjoativo. — Falo sem olhar para ele e escuto sua risada.

— Que pena, é o único que eu tenho, e vou fazer você se viciar nele. — Olho para ele com os olhos arregalados, e ele ainda está sorrindo. — Vai sentir ele sempre, e vai se apaixonar.

Nossos olhos ficam conectados, com uma intensidade tão grande que chega a ser sufocante. Estou bem ao lado dele, e aos poucos ele se aproxima mais e mais de mim. Quando nossos rostos estão tão próximos ao ponto de sua respiração tocar minha pele, a porta da casa se abre, nos tirando do transe.

— Bom dia, senhor Miguel. — Então o nome do delegado é Miguel, gostei, é tão charmoso.

— Bom dia, Helena. Você não vai para a delegacia, mas vou ficar no meu escritório, e lá você não precisa limpar hoje, ok?

— Sim, senhor. — Helena vai direto para a cozinha, e eu a acompanho com o olhar. Quando volto a olhar para o delegado, ele se levanta e diz que vai para o escritório.

— Te chamo de que agora, delegado ou Miguel?

— Miguel é o nome do meu pai, eu sou Migué Junior, mas acho que "delegado" soa mais bonito saindo dos seus lábios. Mas e o seu, como você se chamam mesmo?

— Já te disse, me chamo Mary. PVocê parece ser um homem sedutor, e eu não estou gostando muito disso tudo. — Ele apenas sorri e pisca o olho para mim. — Vou tomar um banho e descansar um pouco, dormir no chão é a pior coisa do mundo.

Ele concorda com a cabeça, se vira de costas e segue para o escritório dele. Eu vou para o meu quarto, com o quadril e a bunda doloridos de ter dormido no chão. Mas o que será que aconteceu com ele?

Tiro toda a minha roupa e vou tomar um banho. Acho que até a hora do almoço, posso dormir um pouquinho. Me enrolo na toalha e, quando saio, percebo que não tenho nada para vestir. Minhas roupas não estão na pensão.

A porta se abre com tudo, e eu aperto a toalha no meu corpo. Os olhos do delegado sobem da minha perna até o meu rosto em câmera lenta.

— Te... te... te trouxe uma camisa minha para você usar. Eu... eu...

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