CAPÍTULO 18 - Black

...Charles Biancardi: ...

Dias se passaram desde que encontrei Bianca em frente à sua casa. Sua atitude de ficar, quando pensei que entraria, me surpreendeu, e a minha ainda mais.

Não consigo lembrar de uma única mulher para quem eu tenha oferecido o ombro para chorar. Primeiro, porque de certa forma me tornei insensível a isso (lágrimas não são capazes de me comover); segundo, porque não aprecio criar proximidade além da cama; e terceiro, porque evito ao máximo parecer um "cara bom aos olhos delas".

No entanto, senti algo diferente em relação a Bianca, é quase como se eu realmente tivesse gostado da...companhia dela.

Durante esses últimos dias, tenho passado em frente à sua casa antes de vir para o trabalho, esperando encontrá-la novamente por "coincidência", assim como da última vez. Infelizmente, isso não aconteceu, e para minha desgraça, mesmo tentando focar só no trabalho, não consigo tirá-la dos meus pensamentos. É como se ela estivesse em todos os lugares e, ao mesmo tempo, não estivesse em nenhum.

"Por que me chamou para vir até aqui?", perguntei a Diego, olhando ao redor da lanchonete, cujo nome é Black.

"Porque eu tenho a pequena impressão de que se eu te chamasse para uma boate você iria recusar como recusou os outros quinze convites."

Um ponto pra ele.

"Filipe queria te pedir descul...", o interrompi enquanto nos sentávamos à uma das mesas do local.

"Não fui eu quem ele drogou", cuspi com desgosto.

"Fala sério, você tá fazendo uma tempestade num copo d'água, não aconteceu nada com a garota."

"Porque eu não quis", rosnei. "se aquele filho da puta tivesse drogado ela e entregado pra algum desgraçado provavelmente teria sido estuprada, sabe o que isso significa?"

"Eu sei que você tá irritado, mas..."

"Eu juro que se você tentar encontrar uma justificativa pra essa merda, nossa amizade morre aqui."

"Eu não ia tentar justificar o que ele fez, ia te dizer que mesmo que esteja irritado com ele não precisa ignorar todos nós!"

"Com licença, posso anotar seu pedido?", uma voz familiar ecoou.

"Você não viu que estamos conversando?", perguntou Diego grosseiro como uma mula.

Ergui a cabeça e ao me deparar com a garçonete, engasguei com minha própria saliva.

Pensei que a minha mente estivesse me pregando peças novamente, mas percebi que era real quando ela pareceu constrangida ao alternar o olhar entre nós e murmurar um pedido de desculpas desajeitado.

"Bianca!", chamei seu nome antes que se afastasse.

Diego franziu o cenho e a observou também.

"Você quer pedir algo?"

"Quero, sente-se aqui conosco", convidei.

"Me referi a algo do cardápio ", disse. "Estou trabalhando, por favor me chamem quando quiserem pedir algo", disse caminhando na direção de outra mesa.

"Essa mulher não é a...", o interrompi.

"Sim, é ela."

"Por isso você ficou tão puto...eu não sabia que você a conhecia, ela é amiga da Jéssica?"

"Isso não vem ao caso, vamos pedir?"

...Bianca Santana: ...

Ontem Cassie me propôs substituir-lá hoje na lanchonete em que trabalha enquanto levava a mãe para algumas consultas, aceitei na hora, eu só não esperava que logo cedo iria me deparar com Charles adentrando o lugar com um homem.

Por sorte, ele não me viu.

"Por que está abaixada atrás do balcão?", perguntou a dona da lanchonete, Lauren.

Na verdade, talvez não tenha sido por 'sorte'.

"Eu deixei a caneta cair, estou procurando por ela", falei, dando uma risada sem graça, torcendo para ela acreditar na desculpa.

"Não se preocupe, há várias aqui", ela abriu uma gaveta cheia de canetas. "Temos clientes na mesa 15, vá atendê-los querida", mandou e eu assenti.

Parece que não vou poder evitá-lo.

Suspirei pesarosamente caminhando até lá em passos lentos. Ao me aproximar percebi que eles estavam à beira de uma discussão, porém não consegui entender do que se tratava.

"Com licença, posso anotar seu pedido?", perguntei.

"Você não viu que estamos conversando?", indagou o homem que estava com ele.

Os olhos de Charles pairaram sobre mim e pareceram surpresos. Apenas murmurei um pedido de desculpas e dei as costas a eles.

"Bianca!", chamou e eu me virei na direção dele.

"Você quer pedir algo?"

"Quero, sente-se aqui conosco", pediu.

"Me referi a algo do cardápio ", deixei claro. "Estou trabalhando, por favor me chamem quando quiserem pedir algo", falei me voltando na direção de outros clientes.

Assim que anotei o pedido deles e me dirigi até o balcão entregando as comandas para Lauren.

Enquanto esperava os lanches ficarem prontos passei um pano no balcão e percebi que Charles e o homem se levantavam.

Será que estão indo? Eles nem chegaram a pedir nada...

O Homem passou pela porta, mas Charles não.  Ele voltou seus olhos para mim e caminhou com toda a sua confiança até o balcão, parando na minha frente.

"Eu não sabia que você trabalhava aqui."

"Eu não trabalho, só estou cobrindo uma amiga", os olhos dele se voltaram para o cardápio. "Você quer fazer um pedido?"

"Quero fazer vários, mas pelo visto só posso pedir o que está no cardápio ", sorriu.

Isso foi algum tipo de cantada?

"O que você me indica?", me analisou.

"O café daqui é muito bom", ele estreitou as sobrancelhas fazendo uma careta. "O que foi?"

"Eu odeio café", murmurou.

"Nesse caso, pode pedir um milk-shake", sugeri.

"Qual sabor?"

"Depende de você, né?"

"Eu quero saber qual sabor você gosta."

"Não gosto", ele depositou o cardápio na mesa incrédulo.

"Não?"

"Não."

"Nenhum sabor?"

"Nenhum. Não sou fã de nada muito doce."

"Nesse caso, você gosta de..."

"Café", completei.

Ele riu.

"É sério?"

"Sim, é."

"Ok, então eu vou querer um café e um milk-shake de ovomaltine."

"Oi?"

Isso se transformou em algum tipo de encontro e eu não fui informada?

"Pode trazer as nossas bebidas? Se preferir, posso pedir a alguém para fazer isso."

"O quê? Não. Claro que não", respondi rapidamente. "Estou trabalhando."

"Você já disse isso", respondeu entediado.

"E aparentemente você não entendeu. Vou pedir para trazerem apenas uma bebida, e é o seu milk-shake."

Ele estava visivelmente insatisfeito. Mesmo assim, dei as costas e entrei na cozinha.

Ao retornar, vi que Charles estava sentado em um dos bancos do balcão, distraído observando o relógio em seu pulso. Observei-o mais atentamente e percebi que o terno azul realmente lhe caía bem; na verdade, sua aparência em geral não é nada mal.

Me Aproximei, fazendo com que ele percebesse minha presença.

"Seu milk-shake estará saindo em breve", avisei.

"Quando é o fim do seu expediente?"

"Por que a pergunta?"

"Gael está organizando uma festa surpresa para Sophie e me deixou encarregado de convidar você e sua mãe."

"Droga", murmurei, e ele me olhou confuso. "Provavelmente não vou conseguir ir, hoje a Cassie trabalha nos três turnos", expliquei.

Meus olhos capturaram um casal entrando na lanchonete, e fui em direção a eles para entregar o cardápio. Quando retornei, Charles já estava com seu milk-shake em mãos.

"Vou precisar ir agora", disse se levantando. "Até mais tarde"

"Já falei que não vou conseguir ir", ele apenas sorriu e simulou um brinde com o copo do milk-shake enquanto caminhava até a porta.

Assim que Charles saiu, o casal me chamou, e eu anotei seus pedidos. Ao entrar na cozinha, Lauren sorriu de orelha a orelha e veio na minha direção.

"Bianca, ainda bem que você apareceu. Quase esqueci de te dizer que vamos encerrar o expediente por hoje. Esse pedido será o último", avisou, pegando a comanda da minha mão.

"O que? Por quê?"

"Seu amigo pagou um pouco mais do que fazemos normalmente para que encerrássemos mais cedo. Parece que vocês têm um evento importante hoje."

Não acredito...

"Me desculpe, Lauren. Esse cara é..."

"Não se preocupe, foi o dinheiro mais fácil que já ganhei na vida", riu. "Pode ir, querida. Ele pediu para avisar que vai buscar vocês."

"Ok, obrigada, e desculpe por qualquer coisa", ela assentiu, e eu fui trocar de roupa para voltar para casa.

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