CAPÍTULO 7 - Gael sendo Gael.

Charles Biancardi:

A missão de agitar a vida do meu amigo foi um sucesso total, e a melhor parte? Não precisei fazer absolutamente nada.

Ao abrir a porta da casa dele, Maria, a empregada, revelou a presença marcante de uma mulher. Seu traje não era verde, o que trouxe certo alívio, mas ela sem dúvidas era sedutora.

"Quem é você, bela mía?" perguntei, aproximando-me como uma hiena pronta para caçar sua presa.

Antes que meu plano pudesse ser colocado em prática, Gael surgiu como um leão em crise existencial. Fiquei perplexo quando ele revelou que ela era a Senhora Mancini, sua esposa. Não porque meu melhor amigo fosse gay ou algo assim, mas sim porque 'casar' definitivamente não é uma palavra comum em nosso vocabulário.

Os motivos são bem diferentes, acredite. No caso dele, a coisa mais importante em sua vida é a Mancini Enterprise. Além disso, eu tinha quase certeza de que, após a ex, ele nunca mais iria olhar para mais ninguém.

E essa é uma longa história que não vou contar...

Já no meu caso, não envolve decepções amorosas ou coisas assim; eu simplesmente gosto de ser solteiro.

Enquanto tentava processar a informação do casamento relâmpago, fui praticamente colocado para fora por ele.

"Aquela pobre mulher é cega, tão linda e casou com um cara grosseiro como você", comentei enquanto ele me acompanhava pelo jardim.

"Melhor um grosseiro como eu do que um galinha como você", alfinetou, e eu coloquei a mão no peito fingindo chateação pelo 'insulto'.

Mas logo deixei isso de lado, curioso com a velocidade que as coisas passaram no Brasil.

Chega até mesmo a ser hilário; estive fora por três meses, e ele não só conheceu essa mulher, como também se casou na velocidade de um piloto de Fórmula 1. Senti uma pitada de decepção por ele não ter me contado que havia sido capturado.

"Agora, falando sério, irmão, quando você casou?".

"Por que quer saber?", estreitou os olhos.

Peguei um cigarro para aliviar o estresse, e após acendê-lo e levá-lo até a boca, ele o retirou, jogando no chão e pisando em cima. Abri a boca pronto para reclamar, mas ele foi mais rápido ao dizer:

"Destrua só o seu pulmão, não o meu."

Gael sendo Gael.

"Você ainda é terrível. Dou um mês para ela pedir o divórcio." Guardei meu isqueiro. "Acabou tudo mesmo? Agora que você casou, deu adeus às festinhas?" Confesso que senti certa tristeza.

Embora meu amigo esteja seguindo o caminho perfeito para se tornar um santo pai de família, ele já foi um dos meus melhores aprendizes. No passado, poderia jurar que ele seria um prodígio, mas pensando bem... Gael não serve para isso. Ele sente pena com facilidade, como prova, uma vez transou com a noiva do primo. Após esse dia, ele me ligava todos os dias dizendo o quanto estava arrependido. Incrivelmente só melhorou quando confessou o que havia feito ao corno.

"Já faz algum tempo que não vou em nenhuma", respondeu, e isso é um desperdício considerando que a tolerância dele ao álcool é ótima, bem diferente da minha, aliás.

"Isso é péssimo. Você pegou a doença dos homens casados", para mim era como se ele houvesse se contaminado.

"Doença dos homens casados?", franziu o cenho confuso e eu me vi na obrigação de explicar:

"Eles são seres antissociais. Normalmente, são proibidos de sair e beber. As mulheres os fazem comer como se fossem mamutes, para deixá-los gordos e feios, e nenhuma mulher desejará mais eles. Sinto muito, amigo, eu cheguei tarde", fingi limpar uma lágrima. "E olha só, a sua barriga já está dando indícios", zombei e ele desceu os olhos para a mesma com certa preocupação; precisei segurar a risada.

"Você está pior do que o meu avô", reclamou olhando seu relógio. "Agora vai embora, que eu vou sair com o meu filho", eu não disse? está sendo treinado feito um cachorro para ser o pai de família perfeito, mas vale ressaltar que o 'filho' dele na verdade é o sobrinho que ele praticamente adotou após a morte do irmão.

Essa também é uma longa história que eu não vou contar...

Agora restava saber se, após atrasar para voltar e o roubo da ideia do produto, o meu emprego ainda estaria garantido. Então, perguntei com cautela:

"Já tô indo, e... posso assumir meu cargo na Mancini?"

"Ok", respondeu simples, voltando para dentro da casa.

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