Uma semana se passou, desde o acidente em que perdi os meus pais e os meus irmãos menores.
Naty ainda está brava comigo e o luto a deixou amarga.
Com todo mundo ela se mostra deprimida, triste, desanimada, porém trata a todos com muita atenção e gentilezas.
Ela está me desprezando, me odiando, não fala e quando é necessário, só faz por monossílabos e de forma rude.
Se não fosse por Keven, nem Laysa e Stefan me deixa pegar, muito menos cuidar ou brincar com eles.
Mesmo com resistência dos padrinhos, assumi os encargos referentes ao velório e enterro, saquei da caderneta de poupança que era para as aulas na escola de pàstesserie.
Algum dinheiro que sabia podia pegar na conta corrente da mamãe, só um punhado para as flores.
Deixei a maior parte e o saldo da conta do papai para que Naty resolvesse o que fazer, usar da melhor maneira que achasse.
E parte da quantia de valores pendentes que receberia de encomendas e, um empréstimo automático que tenho direto do banco.
Nem imaginava que podia resgatar. O que faltou, os padrinhos completaram, eu pagaria aos poucos, até zerar.
Não me dei tempo para o luto, ou a tristeza, ou para o vazio que teimava em reinar em meu coração e em minha mente.
Vi-me sozinha, sem direito de me deixar em casa, lamentando a tragédia que caiu sobre a minha família.
Era difícil não escutar os barulhos e ruídos que sempre preenchia o nosso dia.
Sentia falta da rotina em ajudar Eduardo e Marcinha nas lições da escola, tratar da cozinha realizando as refeições, ou adiantando as encomendas.
O que achava um transtorno, limpar a sujeira que sempre a cozinha ostentava, com pratos sujos, panelas de doces, talheres com manchas de doce roubado pelos pequenos que teimavam em pegar uma pontinha das travessas com as massas de brigadeiros ainda quentes.
Meus padrinhos me chamaram para ir passar um dias lá com eles.
Meu tio Ancelmo e os meus primos nos convidaram também. O tio prometeu, viria me buscar à força para passar uns tempos com eles.
Não aceitei, ainda tinha casa, se aceitasse ir com eles, largaria as memórias da minha família.
Naquele imóvel triste em que um dia abrigou muita vida, com conversas animadas, risadas frouxas, ternura, amor e sonhos.
Todo dia praticamente tinha uma visita, que nem mais chamava de visita, tal a frequência das idas e vindas de Julian e Jacqes, Matteo que havia acabado de chegar da Itália, das madrinhas com os pequenos.
Os padrinhos apareciam sempre de manhãzinha, como para comprovar se ainda estávamos ali.
E tinha a família do interior, ligavam todo dia cada um em horário diferente.
Acredito que estão com medo de que eu e a Naty, nos desentedamos mais do que já havia quebrado entre nós.
Tinha dona Gladys e a Tânia, apareciam para oferecer um almoço, uma ajuda na faxina, até café nos convidava para irmos à sua casa.
Percebi que se aceitasse, Naty não iria, então parei de aceitar os convites para que a minha irmã aceitasse, distraindo-se com boas companhias.
Comecei a me ausentar do meu lar.
Pedi a dona Sol, minha chefe na confeitaria para dobrar o turno, quer dizer, eu implorei, não tinha motivos para não trabalhar.
- Sarinha! - Keven veio até a confeitaria.
- Não pode ficar fugindo da Naty dessa forma. As coisas não melhorarão, caso não se sentarem e conversarem sobre o que está magoando as duas.
- Keven! - dou-lhe um abraço, fazia tempo que não o via.
- Não estou fugindo de nada, de ninguém, só percebi que a Naty está muito brava e magoada comigo, e conhecendo como a conheço, é melhor dar tempo ao tempo.
- Sarinha, pelo amor de Deus, tem mais de três dias que sai de madrugada e só retorna de madrugada. Isso não é vida!
- A fofoca tem língua comprida, não é mesmo? Qual o problema? - estava sem paciência.
- Todos estão querendo que eu pare, todos querem que fique quieta, como Keven?
-Tenho dívidas para pagar, assumi as contas que meus pais pagavam.
- Sarah, vou ajudar também é o meu dever. - continuei falando não dando-lhe atenção, pois não discutiria com ele.
- Tenho os meus padrinhos para reembolsar. - coitado do Keven, não merecia as minhas palavras rudes.
- E dei minha palavra as pessoas que fizeram encomendas com minha mãe, honraria as entregas.
- Onde está fazendo? Não para mais em casa? - ele coloca as mãos em meu ombro.
- Meu lindo cunhado, tenho os meus truques, sempre posso atender na casa do cliente. - Keven faz uma careta de desaprovação.
- Estou deixando a Naty em paz, sei que ela acredita que fiz tudo sozinha, talvez para deixá-la impotente na frente dos padrinhos, e que minha oração levou Eduardo.
- Eu só quis deixá-la sem sofrer as consequências das escolhas, poupá-la de presenciar o quanto foi tudo difícil.
- Você sabe, ela não tinha condições alguma para nada naqueles dias.
Olho para ele com um levantar de ombros, querendo dizer que estava tudo bem.
- Sarinha, tenho algo para contar, não gosto do que a Naty quer, você terá que concordar, caso contrário não deixarei ela fazer nada, entendeu?
- O que a Naty quer?
- Quer vender a casa, ela é pequena, não vale muito, o que vale é o terreno, mas Naty não quer mais morar lá, insiste para vendermos, entregarmos a sua metade, e assim damos entrada em um imóvel para nós.
- Não era assim que as coisas deveriam acontecer, vocês nasceram naquela casa, as duas precisam pensar juntas no que farão no futuro. - o semblante de Keven era de amargura.
- Ela está com raiva de si mesma, descontando tudo em você. - era nítida sua tristeza.
- Tudo bem,quando for chamada, direi a minha opinião.
Keven estava arrasado, minha irmã estava insuportável.
A perda da nossa família, fez com que Naty esteja vivendo para fazer um inferno na minha vida, respingando em Keven, acredito que até meus sobrinhos estejam sentindo a mãe que sempre foi alegre, agora irradiando uma energia pesada de rancor.
Continuei trabalhando de madrugada a madrugada, comecei a perceber que quem me visitava em casa, mudou o endereço para a confeitaria.
Um dia, Julian e Matteo, encontraram-me limpando o chão, era umas das funções para dobrar o turno... fazer faxina na loja.
Eles ficaram tão bravos, que se não os impedisse, brigariam com dona Sol, como eles diziam:
- Como pode deixar uma linda garota e futura chefe confeiteira limpar o chão?
Nada adiantou os pedidos deles para que parasse de trabalhar tanto.
Inclusive ligaram para os meus primos no interior, fizeram com que Alberto me ligasse bravo, dando uma bronca danada sobre não estar dando tempo para mim mesma.
Por eles, já estava decidido, meu tio só faltava vir para a capital, ordenando a minha mudança para a casa deles.
Eles acreditavam que ficando por lá, resolveria o problema com a Naty, pelo menos até que tudo melhorasse, até que a minha irmã se acalmasse e entendesse que eu não tinha culpa de nada.
Como fazê-los compreender? Naty melhoraria assim que descarregasse toda a raiva e tristeza dela em mim.
Que eu fui a única a sobrar, ela não tinha mais a nossa mãe para acalentá-la? Mostrar o quanto estava se prejudicando com essas emoções turbulentas?
Até que acreditasse que tinha me dado uma lição de como não ser cruel, como diz que fui.
E conhecendo Nathália como conheço bem, daqui a alguns dias, estará cansada de fazer o papel de irmã educadora, o que ela sempre fala quando está de mau humor, que está assim para que sinta o quanto está magoada.
Sarah se via sozinha, para ela ninguém entende sua necessidade em trabalhar.
O trabalho é como terapia, não a deixava pensar em nada que a chateasse.
Sua irmã, a madrinha, a tia, as vizinhas, não a deixavam se recompor.
Sempre a lembrando, de não precisar arcar com as despesas sozinha.
Sarah como filha fez tudo que podia, agora bastaria lembrar dos pais e dos irmãos com alegria....e falavam, falavam não deixando-a se organizar da maneira dela.
O padrinho, o tio e os rapazes, incluindo seus primos, não a atormentavam com as lembranças.
Ao contrário, eles faziam de tudo para que saísse com eles, voltar à rotina, não tocavam no assunto " morte ".
Era muito mais fácil lidar com eles, porque conheciam o seu lado moleca, a queriam de volta, enquanto as mulheres, sempre a faziam lembrar da perda.
Sarah se sobrecarregava com responsabilidades, trabalho e principalmente culpa.
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Atualizado até capítulo 140
Comments
Queen B.
Foi ela quem tomou atitude de nada e só ficou chorando. Não diminuindo a dor dela, mas a Sarah tá aí, sacrificando o luto pra ir trabalhar. pq ela não pode fazer o mesmo? é a estrelinha que caiu do céu? o alecrim dourado?
2024-12-19
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Louca por magia
então toma atitude de homem chama atenção dela Ora ora mostra para ela que ela tá errada se ela tá a própria irmã dela desse jeito que coisa mais idiota!
2024-11-07
1
Louca por magia
Ah não é sinceramente é uma atitude que eu não tomaria de tomar as dores do mundo todo na minhas próprias costas nem pensar isso para mim não funciona
2024-11-07
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