" A tristeza é uma parede entre dois jardins." - Kalil Gibran
Chegamos ao outro hospital indicado, lá tudo era mais calmo naquele momento.
Todos falavam e queriam se dividir, entre o hospital e o necrotério.
Não aceitei, precisava eu mesma ver tudo, reconhecer quem era preciso, resolver todos os detalhes.
Eu acreditava que tinha que assumir tudo, eu era a filha que tinha condições de saber o que fazer.
Não poderia deixar mais ninguém resolver o que aconteceria com meus pais, ou meus irmãos, pois na minha cabeça os rejetaria.
Poderia estar sendo egoísta, complicada, desorientada de como tudo se resolveria da mesma forma que não fosse eu quem estivesse lá.
Implorei a todos que esperassem , que eu queria estar presente para reconhecer os corpos de meus pais, o que era um direito meu.
Madrinha Kathya era contra eu participar de tantas circunstâncias funestas como ir até o necrotério.
Padrinho Lorenzo, Jacques e tio Mikhail entenderam e me apoiaram.
Julian dizia e repetia inúmeras vezes, que seria má ideia, que me arrependeria de vê-los sem vida.
E meus primos diziam que bom não haveria de ser, porém entendiam e ficariam ao meu lado, que poderia desistir no último instante que ninguém me consideraria covarde, ou sem coração, que deveria sim, guardar as memórias deles de quando estavam vivos e felizes.
Só que todos acabaram entendendo de uma maneira, ou de outra, que não sossegaria caso não fosse eu a resolver tudo.
Amparada sempre, por meu padrinho e tio, Jacques e Julian, ou meus primos Alberto e Roberto; entrava em todos os guichês, salinhas, portas que tivesse uma informação coerente de meus irmãos.
De repente, um homem, de aspecto meio hostil, vestindo um terno preto de corte simples, veio ao nosso encontro, tanto a procura e a perturbação que ocasionava minha desesperada busca, veio até mim, estando eu com padrinho Lorenzo, nos convidando a ir a um reservado, onde eles estavam conversando com as famílias.
- Sinto ter que ser o portador de notícias não muito boas.
Começou a falar sem muita enrolação, acho que ele já deveria estar cansado de ter que dar más notícias as pessoas.
- Senhor, meus irmãos pequenos, estavam no caminhão que foi jogado na ribanceira, por favor, diga que estão vivos?
Implorava para os encontrar e levar Marcinha e Eduardo para casa, não tinha mais condições de imaginar o grau de ferimentos deles, só os queria por perto.
- Senhorita, vamos com calma, recebo as informações de seus irmãos, infelizmente não há como levá - los para casa como quer.
- Como assim? Eles estão vivos, não estão?
Meu padrinho segura o meu rosto com as duas mãos, com muita tranquilidade e amor, diz bem calmo:
- Sarinha, respira, você está esquecendo de respirar, se continuar assim, não teremos outra maneira, a não ser que tome algum calmante e a levamos para descansar em nossa casa.
- Não, não, eu estou bem, é que a demora é muito longa , eu só preciso saber se eles estão bem, não é pedr muito?
- Lógico, senhorita, mas não seria realmente melhor aceitar um calmante? Posso arranjar um rapidinho para que se sinta melhor.
- Não, só me sentirei melhor quando puder saber e ver os meus irmãos. Tudo bem, - respirei fundo, olhei para o padrinho, esforçando-me para demonstrar calma, - pode continuar, por favor.
- Bem, os senhores sabem que esse acidente foi trágico. Houve infelizmente muitas mortes e feridos.
- Os menores, chegaram aqui em estado crítico, foram encontrados presos em meio as ferragens do caminhão, tiveram múltiplas fraturas.
Ele parou como a outra senhora fez, respirou fundo, nos olhou com aquele olhar de não quero participar disso, olhou para o meu padrinho, que fez um gesto para que continuasse a contar.
-Os dois chegaram com múltiplas lacerações e fraturas, a garota, a menor Márcia Fontana.
Olhava ele para o bloco de anotações em suas mãos.
- Foi levada a cirurgia, os médicos fizeram de tudo, infelizmente o corpo da criança não resistiu a tantos ferimentos internos, inclusive estava com traumatismo craniano bem grave.
O homem parou, olhou para mim com o semblante pesaroso, tossiu e prosseguiu, com muita calma e solidariedade em sua voz.
- O garoto, ficou preso nas ferragens, não havia como tirá-lo, o risco de explosão era enorme devido ao combustível vazado do tanque do caminhão e do ônibus. - percebi que mesmo ele, engoliu em seco com essa informação.
- Ele já saiu da cirurgia, não foi possível salvar as pernas, está respirando com aparelhos e os médicos informaram que se ele passar pelas próximas 48 horas, ele sobreviverá.
Fiquei imóvel, meus olhos piscavam sem parar, comecei a perder as forças nos joelhos, minha visão embaçou...
Me vi nos braços do padrinho Lorenzo, aquele senhor funesto com um copo d'água na frente do meu rosto.
Balancei a cabeça, aceitei a água, me coloquei sentada na cadeira, saindo do abraço do padrinho.
- Minha irmã estava viva, como não podiam tê-la salvado? Marcinha sempre foi otimista, nunca reclamava de dor alguma, sempre foi a mais forte, a mais destemida, nunca ficava doente. - acredito que o tom da minha voz tenha sido rude.
- Não, a Marcinha não deixaria de lutar pela vida, se vocês fossem mais competentes e mais rápidos, eu conversaria com ela para que lutasse e ficasse comigo.
- Vocês só atrasaram as informações e a Marcinha se foi com meus pais, acreditando que nós a deixamos, que não nos importamos com ela.
Falava sem lágrimas nos olhos, me sentia vazia, as palavras saiam de minha boca de forma arrastada, num fio de sussurro.
- Sarah, não pense desse jeito, foi mais difícil para a Marcinha, vamos, se recomponha, temos o Eduardo, ele precisa de você e da Naty.
Padrinho Lorenzo, acariciava o meu rosto, falava sentido, mas de forma encorajadora para enfrentar a batalha junto com o Eduardo.
- Podemos ver o Eduardo?
Perguntei olhando para o vazio, sei que aquele senhor, não merecia escutar tudo o que disse, creio que ele não se importava, tamanho era a dor emocional que exalava de meus poros.
- Desculpe, ele está na UTI, o estado dele é critico.
E lá estava o semblante de não me peça mais nada, por favor.
- Senhor, ele é meu irmãozinho, só tem nove anos, deve estar assustado, me deixe ficar um pouco com ele.
Minha voz saiu entrecortada, quase um sussurro.
- Senhorita, ele está em coma,sedado, não percebe nada ao redor dele, o ambiente tem que permanecer estéril.
- O que posso ajudar para aliviar sua angústia e dor, é pedir que a deixem vê-lo por instantes. Você se sentirá um pouco melhor?
Ele parecia que conversava com uma criança pequenina, tamanho o seu cuidado com as palavras.
- Sarah, você quer mesmo ver o Eduardo?
- Sim, padrinho, pelo menos, quem sabe o Edu, entenda que não o deixamos sozinho?
Meu padrinho acenou com a cabeça que estava tudo bem eu entrar.
🌺 Sarah é determinada, quando coloca uma coisa em seus cabeça, nada a faz mudar de opinião.
Inclusive ela consegue com seus argumentos, que todos façam o que ela propõe.
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Atualizado até capítulo 140
Comments
Queen B.
Infelizmente, por mais que te entenda Sarah, hospital tem as regras. se vc passar uma bactéria pra seu irmão no estado em que ele está....
2024-11-08
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Queen B.
Eita a negação. Mulher de Deus!
2024-11-08
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Queen B.
É Sarah, agora você entende? Você também precisa de alguém pra te ancorar. Pare de achar que consegue agarrar o mundo. vc é só uma
2024-11-08
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