Estava vestida como se enfrentasse um vírus mortal, com toda aquela roupa hospitalar branca, touca no cabelo, luvas, sapatilhas descartáveis, me peguei imaginando como Eduardo saberia que era eu?
Não tive opção, a não ser ir toda vestida como uma astronauta, sem eu mesma reconhecer-me naqueles trajes estéreis.
Uma enfermeira gentil levou-me até um corredor com um amplo vidro, guiando-me para entrar em uma sala toda branca, cheia de aparelhos e sons de bip.
Meu irmãozinho estava deitado indefeso, com inúmeros tubos e aparelhos.
Um lençol o cobria até o peito e, infelizmente percebi a falta de suas pernas do joelho para baixo.
Foram exatamente cinco minutos que pude contemplá-lo de como estava machucado, de como deveria sentir dor.
Pensei em como meu pequeno Edu, com toda a sua vontade de viver, como seria sua vida sem poder se locomover e ali orei.
Orei com todas as minhas forças, clamando aos Anjos Celestiais, em nome de todo o amor que Deus tinha por nós, que cuidassem do Eduardo, que não o deixassem sofrer.
Que não me fizessem egoísta, porque além de ser meu irmão menor, ele era em primeiro lugar o filho amado do Criador da Vida.
Ali, minhas lágrimas rolaram pelo meu rosto coberto pela máscara que logo ficou úmida, eu precisava aceitar todas as possibilidades.
Meus pais, já estavam em paz e a Marcinha foi ao encontro deles.
Fiquei olhando Eduardo, com tantos cortes e arranhões pelo seu frágil corpinho.
Eduardo é um tampinha, franzino, mesmo comendo como uma avestruz.
Seu rosto transmitia dor, medo, insegurança. Como poderia saber disso?
Eu sou sua irmã mais velha e reconhecia todos os sinais de seu rosto, daria tudo para estar em seu lugar, tirando a dor, a mutilação e a angústia desse tormento.
Não podia abraçar com todos aqueles aparelhos, contive meu amor em acariciar seu rosto tão pálido e sofrido.
Eduardo, disse ali parada ao seu lado, que precisava acatar as ordens dos Anjos Celestiais.
Não ficaríamos bravas, nem eu e nem a Naty, que Stefan e Laysa, saberiam deles com muito amor.
Dizia ao Edu, que se a dor fosse tanta, que se acreditasse não conseguir superar, poderia ir encontrar a Marcinha, e provavelmente já estaria no colo de papai.
E mamãe o colocaria em seu colo, o confortaria da mesma forma, ou melhor de quando ele se machucava. Ela o pegava e mimava o único garotinho que a fazia sentir-se a mais amada mãe do mundo.
Estava brava, porque não pude fazer o mesmo com Marcinha.
Sei que quando contar a Naty o que orei, ela ficará tão brava, com certeza, me baterá e eu deixarei.
A mesma enfermeira gentil, veio me tirar dos meus devaneios.
Segui em frente ao encontro de padrinho Lorenzo, só uma pessoa podia entrar, então ele me esperou na porta o tempo todo.
Saímos de lá e encontramos a Naty um pouco mais conformada, ao lado do Keve; os outros vieram se juntar para saberem as novidades.
Todos ansiosos por notícias, impacientes com minha demora em revelar sobre os pequenos.
Segurei as mãos de Naty e contei-lhe tudo, não omiti nada, inclusive sobre o que rezei.
Ela permaneceu calada, sua expressão nula de qualquer emoção, só quando terminei de narrar tudo, a Naty soltou as minhas mãos e sem aviso me deu uma bofetada.
Nunca imaginei a força que ela tinha, acabei caindo no chão, tamanho foi o impacto de seu tapa.
Sua raiva enorme, jogou-se sobre mim, continuou me batendo.
Keven estava assustado, ela pegou todos de surpresa, tentando tirá-la de cima de mim, junto com mais o Roberto, quando tio Mikhail levantou o tom de voz:
- Naty, se recomponha, esse comportamento é inaceitável.
Todos estavam chocados com as notícias e o comportamento de minha irmã, que estavam perdidos no que fazer.
- Esse momento tem de se de união, deixe a Sarah e peça desculpas por sua agressividade.
- Naty, a Sarah não pode ser culpada pelo que está acontecendo.
Tia Suzi a pega pelos braços abraçando-lhe forte.
- Sabemos que é doloroso, mas você precisa se recompor. - a sua madrinha tomou o comando, acalmando suas emoções.
- Minha querida acalme-se, vamos para casa, deixar você em paz, seus bebês já devem estar sentindo muito sua falta.
Não culpava a Naty, tanto que não me denfedi, na realidade agora estava receosa, por que seus lindos olhos cor de mel, reluziam um ódio, um rancor inimaginável nela,que sempre fora tão calma e compreensiva.
E com a tia Suzi, mais o Keven e o Jacques foram embora, levando-a para se tranquilizar, uma vez que não haveria mais nada a fazer por parte dela.
Fiquei sentida que minha irmã seguiu a sua madrinha, e nem olhou mais para mim.
Seguimos para o necrotério, não reconheci os corpos sozinha, sempre o padrinho Lorenzo e o tio Mikhail me amparando.
Dessa vez, deixei que eles organizassem como seria o funeral, eu olhava e concordava com a maioria das escolhas.
Fui apenas uma observadora, nunca tinha participado de nada assim.
Sempre fui arredia a velórios e enterros.
A minha preocupação era poder honrar com tudo, então, escolhi tudo simples.
Voltamos, eu, o Julian e os meus primos para o hospital, insistiam para que eu descansasse, porém algo me dizia que tinha que voltar, era uma sensação horrível.
Chegando, fomos procurar por alguma informação adicional sobre o meu irmão.
Estava apática, ficando alienada de tudo, quando percebo uma movimentação nos guichês de informação, fui até lá, estava temerosa.
E, realmente meus instintos estavam certos.
Roberto, o mais alto entre nós, com um belo vozeirão, abriu espaço e questionou o que estava acontecendo, que precisava de informações sobre Eduardo.
Um médico, de semblante exausto, com roupas sujas de sangue e outros líquidos que não me atrevo a pensar o que seja, suspirou exacerbado e com voz de pesar, anunciou que o menor Eduardo Fontana, acabara de ter uma parada cardiorrespiratória, e apesar dos esforços médicos ele viera a falecer.
Ao lado do meu primo, fico ouvindo e começo a rir de nervoso.
- Eduardo preferiu ir encontrar a Marcinha e ficar com os meus pais...
- Ele sabia que seria melhor para ele, só queria ter certeza de que aceitavamos a sua escolha.
- Naty, se não me odiar pelo resto da vida, com toda a certeza, nunca mais olhará ou falará comigo.
- Porque me culpará pela morte do Eduardo.
E, então, sem muito mais o que fazer, voltamos para a funerária, para mais um enterro.
Logo em seguida fui organizar as coisas necessárias para que tudo ficasse sem correrias, como roupas, documentos, avisar as pessoas.
Naty não quis se envolver com nada, apenas chorava, me xingava e cuidava dos meus sobrinhos.
Tudo bem, não poderia brigar ou exigir nada dela, achei melhor deixá-la, não me intrometeria no sofrimento da Naty, já que para ela eu fui a culpada de tudo.
Nada melhor que o tempo cura, não discutiria.
Apenas aceitava toda a culpa e toda a responsabilidade.
Sarah cuidou de tudo, houve o apoio de todos.
Só que a Sarah é geniosa, quando decide que fará algo, não deixa que ninguém mais faça.
Foi ela quem recebeu o tio Ancelmo, o irmão de seu pai, apoiado por seus filhos menores.
Os primos mais velhos não a deixaram em momento algum.
Dava dó de ver o seu Ancelmo abatido com tanto sofrimento. Sendo Ancelmo e seus filhos a única família do pai.
A família de Joelma, a maioria mora em outros estados, longe para comparecerem.
Os coleguinhas de escola, tanto da Marcinha quanto do Eduardo, foram com seus pais, prestarem homenagem aos queridos amigos.
As meninas combinaram em levar bonecas que Marcinha achava bonitas, enfeites para alegrá-la, uma foto do seu ídolo, para lembrar dele quando se sentisse triste.
Os meninos, fizeram a mesma homenagem: levaram carrinhos pequenos, bonecos em miniatura que brincavam no recreio, bolinhas de gude, figurinhas de futebol.
Sarah recebia tudo e todos, abraçava cada um deles e os agradecia, contando a eles que os seus irmãos estavam felizes a brincar no céu com todos aqueles presentes, oferecidos com tanto amor e carinho.
Não havia quem se emocionasse com aquela demonstração mesclada de inocência, carinho e ternura.
Sarah, olhava seus pais, pedindo perdão toda vez que se aproximava deles.
Dizia ao pai, que melhoraria, ele ainda haveria de se orgulhar dela.
Para a mãe, acariciava o seu rosto, dizendo o quanto a amava.
Não chorava, a única que não deixou cair uma lágrima sequer.
Dizia a si mesma, não precisava deixar seus pais e irmãos com o peso de suas lágrimas, já bastava as lágrimas que enviou aos Anjos Celestiais, não choraria mais.
Após o sepultamento, elas voltaram para casa.
Sarah dizia que tinha que estar em casa, não tinha outro lugar melhor para ir, a não ser sua casa, a casa de seus pais e irmãos
"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria." - autor desconhecido.
🌺🌺 Depois de tanta dor e sofrimento da Sarinha, deixemos ela em paz, com seu luto pela família que tanto ama.
Estamos preocupadas com o Gregori.
No próximo capítulo saberemos onde e como está o nosso snipers.
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Atualizado até capítulo 140
Comments
Queen B.
Gente essa Naty tem que crescer, amadurecer! Até quando vai depender de Sarah e do marido para tudo?! E quando eles partirem tbm? Ela vai vegetar? aff
2024-11-08
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Queen B.
Ele é outro que quer carregar o mundo, senhor
2024-11-08
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Queen B.
É Sarah, daqui pra frente, só lhe resta força
2024-11-08
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