Capítulo 15

Passaram-se três dias e o tempo deu uma trégua. Os animais foram recuperados e foram contratados mais mão de obra para refazer todo o cercado da fazenda.

Para todo lugar que eu olhava via um rosto novo, não faço idéia de quantas pessoas haviam sido contratadas. Dona Graça retorna para os seus afazeres, e eu auxílio no preparo da refeição em massa para os trabalhadores.

uma quantidade enorme de comida feita diariamente para o pessoal.

Sempre que alguém se aproximava de mim para perguntar alguma coisa, eu sentia o olhar do Galego nos fuzilando. Homem teimoso.

Na sexta-feira a tarde o patrão reúne todos os trabalhadores. Faz um breve discurso de agradecimento pela agilidade e colaboração do pessoal. E depois pede que todos formem uma fila para receber o pagamento nas mãos do Sr. Humberto.

Achei muito nobre esse reconhecimento. Embora o homem não esboce um sorriso, era nítido o sentimento de alívio e dever cumprido.

Enquanto organizava a cozinha, Dona Graça se aproxima me oferecendo um pequeno envelope nas mãos.

- É para mim?

- Sim minha filha, você merece.

Quando abro vejo algumas notas.

- Estou recebendo um extra?

- Sim. O patrão está pagando todos que trabalharam na obra da cerca.

- Mas eu sou funcionária da fazenda, isso faz parte das minhas obrigações.

- Não relute, apenas aceite. Ele não vai receber o dinheiro de volta. E aproveita que a fazenda está cheia de gente, porque não convida alguém para ir para o festival.

- Eu não vou ao festival.

- E porque não, você nunca sai dessa fazenda. Além do mais eu já voltei para o meu serviço. Está na hora de diminuir sua carga de trabalho. Você já fez muito estando sozinha.

Fico apenas calada, prefiro não expor as razões pelas quais eu me escondo. Aceno a cabeça e saio.

Encontro o Fernando do lado de fora.

- Mercedes, eu separei adubo para colocar nas flores. E também trouxe as mudas já crescidas para replantar.

Aquilo encheu-me de alegria. Nos meus primeiros dias na fazenda cultivei flores na entrada da casa. Animada peguei as ferramentas de jardinagem e corrir para o jardim. Comecei a pôda de alguns galhos e com a ajuda do Fernando espalhei o adubo. Com esse trabalho feito, em pouco tempo as flores iriam se espalhar trazendo um misto de cor e perfume.

Enquanto fazia o meu serviço, percebo que o Sr. Agenor estava a encarar-me pela janela. Ele estava em transe com o que via. E sentir o meu peito apertar.

Não demorou muito e ele veio ao nosso encontro.

- Está gostando do serviço Sr. Agenor, tudo é obra da senhorita Mercedes.

Fernando falava com tanta alegria, que me deu até pena da ingenuidade dele, uma vez que o nosso patrão tinha uma expressão de desgosto no rosto.

- Está ficando um ótimo trabalho.

Ele respondeu em um tom mais baixo. Como se não quisesse ferir os sentimentos do rapaz.

- Pelo visto gosta de flores Mercedes.

- Elas alegram o ambiente.

Respondi sem fazer contato visual.

- O Senhor já decidiu sobre quais os animais vão participar da exposição?

- Sim, já dei as instruções para o Humberto.

- O senhor vai arrumar aquele ônibus de novo pra levar a cambada da fazenda para a festa?

Fernando parecia uma criança, falava com o seu chefe como se ele fosse um irmão mais velho. E para minha surpresa vi que o Sr. Agenor retribuia o sentimento.

- Já está tudo arranjo Fernando. Mas desse vez use menos perfume. Da outra vez deixou todo mundo enjoado.

Fernando caiu na gargalhada e eu não pude deixar de achar graça desse menino.

- Você também vai, né senhorita?

- Acho melhor ficar, não me sinto meu bem em multidão.

- Mas o espaço é grande, ninguém vai lhe empurrrar. E se precisar eu te protejo.

Olho pro magrela do Fernando, um menino cheio de vida, e ainda querendo-me proteger.

- Deixa para a próxima.

- Vamos Mercedes, te apresento uns amigos nossos. Soube que tem um veterinário louco pra te conhecer.

Ouvir a bufada do Sr. Agenor.

- Esse é um evento para investidores e não um puteiro.

E ele sai com raiva. Fernando e eu nos entre olhamos, querendo entender o que aconteceu.

- Acho que o patrão ficou com ciúmes.