Deito na minha cama, dessa vez eu sinto uma ansiedade. É como se a minha alma estivesse maior que o meu corpo. Corro para a gaveta dos remédios. Sabia que não podia comemorar, eu não passo de um fracassado.
Após tomar algumas pílulas sinto o corpo anestesiando até cair no sono profundo.
- Agenor, Agenor.
- Oi, mãe é você?
- Filho, corre, ajuda o seu pai.
Olho para o lado e vejo o carro do meu pai afundando no lago. Ele está imóvel, porém ainda está vivo.
E eu ainda estou no meu corpo de criança.
- Cuida Agenor.
- Mãe eu não sei o que fazer.
- Peça ajuda.
De repente vejo várias pessoas perto do lago assistindo à tragédia que era o carro com o meu pai afundar. Mas ninguém faz nada.
- Ajuda gente. Por favor. É o meu pai.
Começo a chorar inconformado com a maldade das pessoas.
- Mãe eles nem se mexem.
- Seu pai cultivou a maldade Agenor. Ele maltratou muito gente, inclusive você, meu filho.
Olho para o lado e junto das pessoas vejo Felicia. Ela está parada, sem reação alguma.
- Mãe as pessoas não sabem porque o papai era mal.
- Mas ninguém advinha, meu filho. E eu realmente desejo que você não se torne igual.
-Eu não sou assim Mãe. Eu sou bom e corajoso.
Corro em direção ao lago, entro com roupa e tudo, farei o possível para salvar o meu pai. A água está gelada. Sinto dor no meu corpo todo.
Tento nadar em direção ao carro. Vejo que o meu pai está olhando, mas ele não faz nada.
E eu começo a afundar. O frio está me sufocando. Estou tremendo sem parar.
Acordo desesperado. Isso foi um sonho? Isso foi um pesadelo. Estou me tremendo.
Estou todo arrepiado de tanto frio da noite. E sinto que a chuva voltou a cair.
Minha barriga ronca. Eu não comi nada. E o frio que estou sentindo só piora.
Desço em direção da cozinha, espero ter pelo menos um leite quente.
Enquanto mexo na cozinha, percebo que há um movimento na área de serviço. Aproximo-me devagar para ver o que está acontecendo. Se dentro da casa está frio, nessa área está mil vezes pior.
Ascendo as luzes e me deparo com uma cena bizarra. Mas que cortou o meu coração.
Mercedes juntou algumas cadeiras e fez uma espécie de cama. Deve ter jogado alguns panos para se aconchegar, se duvidar tem até pano de chão no meio. Está coberta com uma toalha. Mas o som de dentes batendo é o que chama minha atenção.
- O que você ainda faz aqui?
- Realmente não tinha como sair.
Ela fala com o queixo tremendo.
Olho mais uma vez pra ela. Seu olhos é como de um animal ferido.
- Levanta
- O quê?
- Levanta logo
Ela sai da cama improvisada e noto que ela está usando uma camisa minha. Que nela parece mais com um vestido.
- Senhor tenha piedade.
Noto que ela fala isso segurando a toalha como se fosse uma tábua de salvação. E o medo nos seus olhos me atinge.
Eu conheço esse olhar. Já vi esse olhar no meu rosto várias vezes. Reconheço alguém que já viveu um trauma. Eu fui uma dessas pessoas.
Noto que ela está com medo de ser jogada na chuva. Provavelmente alguém que ela conheceu seria capaz disso.
- Venha comigo.
Ela não se move. Quer dizer, as pernas não anda, porque o corpo inteiro está tremendo de frio.
- Entra, se ficar aqui fora vai morrer congelada.
Ela me segue.
Conduzo até um quarto de hóspedes.
- Senhor posso ficar bem no sofá.
- Não, fique aqui.
- Não quero incomodar.
- FICA AQUI. EU JÁ FALEI
- Estou ficando olha. Estou deitando.
Ela deita rapidamente e se cobre. Não querendo contrariar minhas ordens.
Saio do quarto e fecho a porta. No corredor eu suspiro forte.
- Mãe o que é que faço?
Volto para o meu quarto tentando absorver tudo que aconteceu. Mas as horas avançam e o sono não vem. Decido tomar remédio, mas antes de apagar quis ve-la mais uma vez. Garantir que está tudo bem. Eu acho.
Abro a porta com cuidado e embora as luzes estejam apagadas, o clarão da noite ilumina o quarto.
Chegando perto vejo o rosto dela. Um anjo.
Nariz arrebitado, pela macia, lábios entre abertos em formato de coração. Se essa moça fizesse parte de um livro, com certeza seria a personificação de uma princesa.
É nítido que ela não é do campo. Suas mãos tem calos, mais não são grossas. Ela é refinada. E provavelmente esconde algo.
Bem vinda ao mundo das pessoas que esconde seu passado. Pensei com ironia.
Saí do quarto e como mágica, conseguir dormir sem tormar. remédio.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Yamagutte Maria
Ela já sofreu muito.
2025-02-02
0
karol Melo
tadinha dela
2025-01-05
1
Anonymous
Amando o livro parabéns
2024-12-28
0