Capítulo 9

Finalizo minhas tarefas da casa. Pego minha velha bicicleta e vou para a casa da Dona Graça. Já que é impossível ter um diálogo decente com o meu patrão.

Sinto um desapontamento no meu coração. Uma pessoa não deveria ter esse tipo de conduta com seus funcionários.

 Ao aproximar da casa, avisto Dona Graça segurando a sua netinha no colo. Ela é uma vovó realizada.

- Olha quem veio nos visitar.

- Boa tarde Dona Graça. Oi lindeza da titia.

Como não se derreter com o sorriso banguela , a bebê é linda e muito cheirosinha.

- Cadê a Isabele?

- Está cochilando um pouquinho. Nessa fase a mãe troca a noite pelo dia.

- Eu acredito. Que bom que a Senhora pode dar esse apoio para a sua filha. A maternidade pode ser incrível, mas também trabalhosa.

- E como você sabe disso?

- Eu ouvir um pessoal falando na Internet. É comum ouvir sobre a romantizacão da maternidade. Assim também como falam muito de amor próprio e como identificar relacionamentos tóxicos, essas coisas.

- No meu tempo não tinha isso não. Era parir na escadinha. O filho mais velho cuidava do mais novo. E quanto isso de amor próprio ou relacionamento, era o que tinha sido arranjado pra você e pronto. O marido falava e a mulher só dizia amém.

- E a senhora acha que as coisas mudaram? Porque a única coisa que vejo é que de fato diminuiu a quantidade de filhos na família, mas os problemas de relacionamento e falta de autoconhecimento continuam. A campanha é só para as pessoas exporem os seus sentimentos.

- Vejo que você é caladinha, mas é sábia.

Apenas rir do comentário. Até porque minha atenção era toda da neném fofinha que estava a minha frente, e nunca sobre os meus sentimentos.

- Dona Graça além de vir visita-la eu também vim atrás de orientação. O patrão está na fazenda. E honestamente estou sem saber o que fazer.

- Ele te tratou mal? Fiquei sabendo do que aconteceu e já achei um milagre você ainda estar aqui.

- Pelo que me dizem foi um milagre sim. Mas nem por isso está sendo fácil.

- Mercedes tem algo a mais acontecendo?

- Porque a senhora está perguntando, ficou sabendo de mais alguma coisa?

- Não, é que você está diferente.

- Estou?

- Nunca me metir nos seus negócios, mas quando precisar estarei aqui. Mais é que o seu semblante mudou. Sempre ficou na sua, mas havia uma leveza, como se estivesse aliviada, mas agora o seu olhar está distante.

- Acho que é só preocupação mesmo.

Como dizer para alguém as mazelas da minha vida. p

Provavelmente seria enxotada.

- Sei. O que quer saber?

- Quais os horários das refeições, se o patrão tem algum hábito que eu precise fazer alguma coisa. Ou se tem alergia. Quando posso fazer a limpeza do quarto dele. E se tem algum jeito de falar com ele.

Dona Graça só suspirou, porque pelas perguntas, percebeu o tamanho das minhas dificuldades.

- Certo. Tem papel e caneta?

Levamos alguns minutos, mas anotei todas as orientações. Não havia nada extraordinário. Mas ela me repassou horários de todos os serviços e refeições. Pois percebeu que o patrão nem se quer falava com a moça.

Saindo satisfeita com a lista, porém decepcionada com a situação em que se encontrava.

"Como pode duas pessoas comviverem no mesmo ambiente e não se falarem? Sentir que incomoda sem nem saber o porquê."

Voltei para o meu chalé. É impressionante como aquele pedacinho de casa se transformou no meu refúgio.

Acendi uma vela aromatizada, agradecendo por estar em casa. E fui para cozinha preparar o meu jantar. Enquanto fazia o meu ensopado ouvir as risadinhas das crianças que brincavam lá fora.

Perto do meu chalé havia outros alojamentos e muitos funcionários já tinham a sua própria família. Pensando no lazer dos filhos, alguns funcionários construiram uma pracinha com um singelo parquinho.

Gosto de sentar na varanda para assistir à interação deles. E as vezes faço um panelão de pipoca para dividir. É uma festa.

É curioso como a ideia de maternidade nunca me passou pela cabeça. Mas se tem algo que sempre invejei foi a liberdade das crianças.

Como eu gostaria de sorrir e sonhar como uma dessas crianças. Minha infância interrompida associada a um casamento por conveniência. Destruiu qualquer sonho que um dia eu tive.

Mais populares

Comments

Maria Aparecida Nascimento

Maria Aparecida Nascimento

A Mercedes não teve uma infância adolescência difícil um casamento de convivência abusivo com muitos traumas

2025-01-27

0

Aninumus

Aninumus

Gente que homem mais babaca isso sim!!!! Empatia zero para quem quer que seja! Lamentável um ser humano assim!!!

2025-02-26

0

Dinanci Macorin Ferreira

Dinanci Macorin Ferreira

Tudo lindo demais autora.

2024-09-26

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!