Finalizo minhas tarefas da casa. Pego minha velha bicicleta e vou para a casa da Dona Graça. Já que é impossível ter um diálogo decente com o meu patrão.
Sinto um desapontamento no meu coração. Uma pessoa não deveria ter esse tipo de conduta com seus funcionários.
Ao aproximar da casa, avisto Dona Graça segurando a sua netinha no colo. Ela é uma vovó realizada.
- Olha quem veio nos visitar.
- Boa tarde Dona Graça. Oi lindeza da titia.
Como não se derreter com o sorriso banguela , a bebê é linda e muito cheirosinha.
- Cadê a Isabele?
- Está cochilando um pouquinho. Nessa fase a mãe troca a noite pelo dia.
- Eu acredito. Que bom que a Senhora pode dar esse apoio para a sua filha. A maternidade pode ser incrível, mas também trabalhosa.
- E como você sabe disso?
- Eu ouvir um pessoal falando na Internet. É comum ouvir sobre a romantizacão da maternidade. Assim também como falam muito de amor próprio e como identificar relacionamentos tóxicos, essas coisas.
- No meu tempo não tinha isso não. Era parir na escadinha. O filho mais velho cuidava do mais novo. E quanto isso de amor próprio ou relacionamento, era o que tinha sido arranjado pra você e pronto. O marido falava e a mulher só dizia amém.
- E a senhora acha que as coisas mudaram? Porque a única coisa que vejo é que de fato diminuiu a quantidade de filhos na família, mas os problemas de relacionamento e falta de autoconhecimento continuam. A campanha é só para as pessoas exporem os seus sentimentos.
- Vejo que você é caladinha, mas é sábia.
Apenas rir do comentário. Até porque minha atenção era toda da neném fofinha que estava a minha frente, e nunca sobre os meus sentimentos.
- Dona Graça além de vir visita-la eu também vim atrás de orientação. O patrão está na fazenda. E honestamente estou sem saber o que fazer.
- Ele te tratou mal? Fiquei sabendo do que aconteceu e já achei um milagre você ainda estar aqui.
- Pelo que me dizem foi um milagre sim. Mas nem por isso está sendo fácil.
- Mercedes tem algo a mais acontecendo?
- Porque a senhora está perguntando, ficou sabendo de mais alguma coisa?
- Não, é que você está diferente.
- Estou?
- Nunca me metir nos seus negócios, mas quando precisar estarei aqui. Mais é que o seu semblante mudou. Sempre ficou na sua, mas havia uma leveza, como se estivesse aliviada, mas agora o seu olhar está distante.
- Acho que é só preocupação mesmo.
Como dizer para alguém as mazelas da minha vida. p
Provavelmente seria enxotada.
- Sei. O que quer saber?
- Quais os horários das refeições, se o patrão tem algum hábito que eu precise fazer alguma coisa. Ou se tem alergia. Quando posso fazer a limpeza do quarto dele. E se tem algum jeito de falar com ele.
Dona Graça só suspirou, porque pelas perguntas, percebeu o tamanho das minhas dificuldades.
- Certo. Tem papel e caneta?
Levamos alguns minutos, mas anotei todas as orientações. Não havia nada extraordinário. Mas ela me repassou horários de todos os serviços e refeições. Pois percebeu que o patrão nem se quer falava com a moça.
Saindo satisfeita com a lista, porém decepcionada com a situação em que se encontrava.
"Como pode duas pessoas comviverem no mesmo ambiente e não se falarem? Sentir que incomoda sem nem saber o porquê."
Voltei para o meu chalé. É impressionante como aquele pedacinho de casa se transformou no meu refúgio.
Acendi uma vela aromatizada, agradecendo por estar em casa. E fui para cozinha preparar o meu jantar. Enquanto fazia o meu ensopado ouvir as risadinhas das crianças que brincavam lá fora.
Perto do meu chalé havia outros alojamentos e muitos funcionários já tinham a sua própria família. Pensando no lazer dos filhos, alguns funcionários construiram uma pracinha com um singelo parquinho.
Gosto de sentar na varanda para assistir à interação deles. E as vezes faço um panelão de pipoca para dividir. É uma festa.
É curioso como a ideia de maternidade nunca me passou pela cabeça. Mas se tem algo que sempre invejei foi a liberdade das crianças.
Como eu gostaria de sorrir e sonhar como uma dessas crianças. Minha infância interrompida associada a um casamento por conveniência. Destruiu qualquer sonho que um dia eu tive.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Maria Aparecida Nascimento
A Mercedes não teve uma infância adolescência difícil um casamento de convivência abusivo com muitos traumas
2025-01-27
0
Aninumus
Gente que homem mais babaca isso sim!!!! Empatia zero para quem quer que seja! Lamentável um ser humano assim!!!
2025-02-26
0
Dinanci Macorin Ferreira
Tudo lindo demais autora.
2024-09-26
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