Capítulo 1

Minha mente acordou mas não tinha forças para abrir os meus olhos. O suor salpicava na minha pele, trazendo ardência nos cortes nos meus lábios. Minha cabeça doía enquanto eu tentava abrir os meus malditos olhos.

Um som de respiração agonizante enchia o ambiente. Parecia que tinha um animal ferido na sala. Após uma batalha infinita conseguir mexer os meus braços e abrir os olhos.

Para o meu desespero, o animal ferido era eu.

A sala estava fria, percebi que já era manhã. Mas não tinha calor nos reflexos de luz que penetrava a janela. Levantei com muito esforço.

A dor irradiava todos os meus membros. Mas o latejar entre as minhas pernas era o mais assustador.

- Desgraçado.

Andei com dificuldade até visualizar o relógio. Era 6:45 da manhã, ele já havia saído para cumprir a intimação.

Ao ficar de frente para o espelho, não segurei o grito. Eu estava completamente deformada.

Tinha inchaço no meu rosto, lábios cortados, hematomas espalhados em toda a minha face. Cabelo desgranhado e aquele olhar. O olhar de culpada. A vergonha de ter permitido alguém fazer isso comigo, por tantas vezes.

Há alguns anos eu tracei um plano. Juntaria dinheiro escondido, e fugiria para um lugar distante, falsificaria uma identidade para ficar irreconhecível. Abriria uma empresa ou seria autônoma. Faria qualquer coisa para me manter. Mas ainda não tinha juntado o dinheiro. Ele nunca me dava e sempre se encarregou de fazer as compras e pagava no cartão.

Mas agora eu não tinha mais tempo, sabia que era o momento de partir. Caso a reunião dele fosse ruim eu seria o saco de pancadas.

Peguei uma mochila com documentos, alguns suprimentos e saí. Rezando para ninguém me ver. A minha alma estava tão devastada que apesar de conseguir sair daquela casa, eu não sentia esperanças.

Aquele monstro destruiu todos os meus sonhos e não tinha ninguém para me apoiar. Pior de tudo, é que ele tinha capacidade de rastrear-me para qualquer lugar que eu fosse.

(No ônibus)

Adormeci por alguns instantes. Abandonei a viagem algumas vezes, trocando de ônibus por ônibus. Tudo com a intenção de dificultar ser rastreada.

Sempre que descia nas rodoviárias, ficava atenta para me camuflar o máximo possível, olhando igual a uma paranoica se havia câmeras espalhadas.

Após horas e horas de viagem, cheguei a um interior muito distante, no estado do Texas. As minhas economias estavam se esgotando mal dava para continuar a viagem ou ao menos alimentar-me.

A cidade parecia cenário de filme de época, com aparência pitoresca. Após descer do ônibus, ainda sem decidir o que fazer com os meus míseros centavos, decidi entrar em uma cafeteria.

Sentei em uma mesa de canto, assim não chamava a atenção de ninguém. Pelo menos era o que eu achava.

- Espero que você tenha arrancado as bolas desse cafajeste.

- O quê?

Levantei o olhar, e vi a garçonete segurando uma jarra de café.

- Eu espero que você tenha dado o troco no infeliz que fez isso na sua cara.

- Eu bem que queria, mas sou covarde demais.

Ela despeja café em uma caneca. Nessa hora tento protestar, pois eu não posso gastar nem um centavo.

- É por conta da casa.

- Será que por conta da casa, você não teria algum emprego para mim.

- A coisa está difícil, assim?

- Você não faz ideia.

- Olha, aqui na cidade é difícil achar alguma coisa. Nesse período tem a molecada que está de férias e ocupa todos os cargos de meio período. Mas penso que você teria mais sorte em alguma propriedade da região.

- Tem alguém com quem eu posso falar?

- Me dá o seu telefone. que se aparecer eu te aviso.

- Não tenho mais celular.

- O endereço, então.

Pela minha expressão, ela pode notar o quanto o meu caso estava difícil. Sem telefone, sem teto e sem recurso. Ela suspirou.

- Credo! Pior do que imaginei. Vamos fazer assim, meu turno encerra daqui a 2 horas. Fica me esperando lá nos fundos da cafeteria. Que eu tento ver alguma coisa.

Nessa hora meu peito aqueceu. Uma mão ajudando, era tudo que eu precisava.

Como combinado fiz o que ela mandou. Duas horas depois a vejo saindo da porta dos fundos da cafeteria

- Vamos? Eu não tenho muito, mas posso te ajudar por umas duas noites.

Seguir minha nova amiga, Suzana. No trajeto soube que o sonho dela era ter um salão de beleza e que não conseguia se apegar com homem nenhum. O apartamento dela tinha apenas dois cômodos, mas a água quente que eu usei para tomar banho e o sofá pequeno com o cobertor cheirando a roupa recém lavada, parecia a Pousada dos Deuses.

No dia seguinte levantei cedo, mas ela me aconselhou a ficar no apartamento. Disse que o meu rosto estava muito desfigurado para andar pela cidade.

Prometeu voltar algumas horas depois do expediente.

Em reciprocidade fiz faxina no apartamento. Enquanto estava nos afazeres, percebo que Suzana retorna antes do horário.

-Mercedes você não vai acreditar. Achei um serviço para você.

-Sério?

- Pega suas coisas, ele está te esperando na cafeteria, queria te ligar, pra você ir até lá. Mas tive que vir, já que você não tem telefone.

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Comments

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Elis Alves

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