Capítulo 14

Acordei. Apesar de não sentir falta da minha antiga vida, devo admitir que dormir numa cama macia e muito bom.

A noite anterior passa na minha cabeça como filme. Se ele estivesse pronto para me jogar fora da casa, levaria uma toalha para amenizar o frio. Lembro que ele me encarou por alguns minutos. Era como se estivesse a olhar para um espelho.

Foi a primeira vez que o Sr. Agenor foi gentil. Não bondoso ou meloso. Foi apenas bom.

Mesmo assim acredito que ele seja instável e não vai amolecer comigo.

Por isso levantei cedo e iniciei o meu serviço. Prometi que se hoje aparecesse algum sinal de chuva, largaria tudo e correria para casa.

Enquanto preparava o café da manhã, escuto uma batida na porta. Lembrei que não havia aberto das portas.

Deparo-me com o Galego.

- Eita! que hoje você chegou cedo.

- Dormir aqui, não deu para ir para o alojamento.

- Dormiu aqui com o patrão?

Odiei o tom de voz do Galego. Era uma mistura de acusação e incredulidade.

Porém, antes de responder Sr. Agenor aparece.

- Sim, ela dormiu comigo.

- Dormi em quarto de hóspedes. Sei que é isso que o senhor quer dizer.

A cara de presunçoso do meu chefe também encheu-me de raiva. Por acaso estou no meio de uma competição de mijo?

- O que você quer Galego. Já ia tomar café.

- Vim falar das cercas que arrebentaram. Algumas cabeças de gado perderam-se na enchente. Mas é claro que o senhor pode tomar o seu café sossegado.

- Olha como fala Galego.

- Desculpas senhor.

Porém, não existia arrependimento no rosto do Galego. Virei as costas e saí. Deixei esses dois mulas se virarem.

Depois de alguns minutos limpando a área externa, onde acumulou muitas folhas devido aos ventos fortes.

Vejo Galego se aproximar com uma pisada forte e muito aborrecido.

- Não sabia que virara diversão do chefe.

- Me respeite rapaz. Não lhe dei o direto de falar comigo assim. Apesar de não ser da sua conta. A chuva caiu antes de encerrar o meu expediente. E não havia condições de sair daqui em segurança até chegar ao alojamento.

- Você não vê que ele está te cercando?

- A única pessoa que faz isso aqui na fazenda é você.

- Porque sou o único que serve pra você.

- Esse assunto encerra agora. Não estou interessada em você, minha vida não lhe diz respeito. Não ultrapasse limites.

- Aí que você se engana. Esse assunto só começou.

Ele sai após sua ameaça. Mas que droga.

Nunca passei de educada para essa criatura e ele ainda se comporta assim.

E porque aquele idiota confirmou que dormi, será que ele não entendeu a insinuação do outro. Cada dia que passa eu só quero distância desses homens. Ainda mais os complicados.

Quando chega o meu horário, sem sinal de chuva, junto as minhas coisas e vou para casa. Encontro Fernando no caminho. Ele atualiza-me dos problemas que ocorreram durante a chuva de ontem.

Fiquei preocupada com a quantidade de gados que estavam desaparecidos. Além de saber que houve uma plantação que foi perdida, devido ao excesso de água.

Também me falou sobre o festival da ferradura. É um evento em que os fazendeiros expõem suas principais crias, para atrair investidores.

Além de uma feira de comidas típicas e show musical.

No alojamento está tudo em ordem. Não teve goteiras ou algum dano. Mas sentir a sensação de ser observada. Conferir novamente se a porta e as janelas estavam fechadas.

O Galego assustou-me com aquela conversa. Sentir ele possessivo. O que é incoerente da parte dele. Uma vez que eu sei que possui uma mulher em cada esquina. Jamais me envolveria com um canalha desses. Carinha de santo, macho protetor, mas não passa de um falso.

Ao deitar-me pensei no fardo que eu carregava por viver a me esconder do meu passado. Minha vida havia se resumido a fazenda. Não saía do meu trajeto. Nem sequer havia pisado na cidade. Lembrei da Suzana, uma amiga que me ajudou mesmo sem me conhecer. Sentir que parei no tempo. Mas a dúvida era quanto mais eu viveria assim

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