Capítulo 2

Excitação preenchia o meu peito. Quais as chances de conseguir algo tão rápido. Um abrigo, uma amiga e um trabalho. Mas instantaneamente o que parecia felicidade transformou em frustração. Minha alma estava tão ferida que suspeitei do milagre, porque pessoas como eu não merecem coisas boas.

A angústia cresceu dentro de mim.

- Credo garota! Que cara horrível é essa? Como você vai pedir emprego desse jeito?

- Suzana, eu nem sei por onde começar. Não posso assinar carteira. Não sei fazer nada que preste e não tenho referências de nada.

- Calma mulher. Já desistiu antes de tentar? Vamos encontrar o Sr. Humberto na cafeteria. E lá ele te explica o serviço. Mas é melhor você mudar essa atitude.

- Tem razão. Desculpa. Que mal agradecida eu sou.

- Anda, deixa de ser desesperada.

Ao chegarmos na cafeteria, vou ao encontro de um senhor na faixa de seus 60 anos. Muito simpático.

- É essa a moça que eu lhe falei.

- Cruzes minha filha. Mas o que aconteceu com você?

- Bom dia, senhor. É uma longa história que precisa ficar no passado. O meu nome é Mercedes e estou precisando muito trabalhar.

- Olha minha filha, não posso deixar de tocar nesse assunto. Até porque não quero arrastar problemas para mim e nem pro meu patrão.

Nessa hora, sentir que havia perdido a chance. Quem contrataria uma desconhecida fugitiva?

- Senhor, eu não tenho pra onde ir, nem como me sustentar. Mesmo que o contrato seja por um dia eu realmente aceito. Por que não tenho mesmo de onde tirar o meu sustento.

O senhor só suspirou, incrédulo sobre isso ser um bom negócio. Mesmo sentindo pena da moça. Ele sabia que cada marca continha uma história sombria por trás. E sendo o responsável pela fazenda e o funcionário de confiança do seu patrão, ele não queria fazer besteira.

Mas um dia ou talvez dois dias de serviço poderia vir a calhar.

- Vamos fazer assim, eu te levo pra fazenda hoje. Se a Graça quiser seus serviços, aí tudo bem, mas se não, eu trago você de volta.

Graças à Deus, uma chance. Suspirei aliviada. Peguei meus pertences e agradeci a Suzana por tudo.

- Boa sorte mulher. Espero que você encontre a paz que precisa.

— Obrigada Suzana. Você não faz ideia do quanto sou grata por sua ajuda.

Peguei a carona com o Sr. Humberto e seguimos em direção a fazenda. 40 minutos de viagem entre uma propriedade e outra.

No trajeto pude ver algumas plantações e criações.

Quanto mais nos aproximávamos, mas aumentava as batidas no meu coração. Percebi que as crises de ansiedades ficavam mais frequentes depois que saí daquela casa.

A voz do Sr. Humberto despertou-me dos meus pensamentos

- Aqui é um lugar seguro minha filha. Ninguém invade as terras de ninguém sem levar um tiro nos peitos. Apesar de que nesses dias tem uns moleques aprontando nas propriedades. Se eles não tomarem cuidado vão amanhecer com formiga na boca.

- Formiga na boca?

- É quando a pessoa morre de boca aberta.

Enquanto ele ria da piada sinistra, eu ficava com os meus pensamentos a mil.

- Sr. Humberto, qual seria o meu serviço?

- Ah, minha filha. Eu vou ter um neto, sabe. Isabele, minha filha caçula, está com o buxo enorme. Sempre trabalhou com a mãe dela na casa do patrão. Mas agora que está perto de ganhar neném não pode mais trabalhar. E Graça, minha esposa, não tem mais condições para fazer tudo sozinha.

- Entendi.

- Olha, chegamos.

Nesse momento avistei uma porteira de madeira, com uma placa com escrita talhada a mão. Rancho Selene.

O lugar era lindo. Dava para ver de longe a criação de gado e caprinos. Um riacho a esquerda com belo pomar a direita.

Quando decemos do carro ele mandou esperar fora da casa. Enquanto ele entrava.

Pude observar os detalhes da casa. Casa não, Mansão. Uma verdadeira Mansão na fazenda.

Colunas de madeira maciça, detalhes entalhados nas portas e janelas. Uma varanda imponente. Porém tinha algo estranho naquela paisagem. Não conseguia dizer o que era. Mas a sensação era de que faltava algo.

Enquanto permanecia com os meus pensamentos, vejo uma senhora de cabelo no coque, vindo na minha direção.

—Você é a Mercedes?

— Sim senhora.

Ela me olhava de solsario. Desconfiada da minha procedência.

— Certo. Preciso que limpe umas suítes no primeiro andar.

— Tudo bem, senhora.

Segui até a despensa, recolhi o material de limpeza e fui ao local do trabalho. Prometi para mim mesma que aquela seria a melhor limpeza da minha vida. E assim eu fiz.

Ocasionalmente Dona Graça aparecia para conferir o serviço. Ela não falava nada e também não me fazia perguntas.

Em poucos minutos encerrei a limpeza e ela me passou outra tarefa. Ao chegar o final da tarde eu praticamente havia limpado toda a casa, lavado algumas roupas, colhido verduras da horta e ainda ajudei na preparação do jantar.

Passei o dia recebendo ordens e só abri a boca para falar: Sim senhora.

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Comments

Fatima Vieira

Fatima Vieira

ufa pelo menos conseguiu um lugar coitada

2024-03-24

44

Doraci Bahr

Doraci Bahr

que triste

2024-04-24

0

Clarice Hoss

Clarice Hoss

nossa coitada até parece que é uma escrava ,ao dizer que só abria a boca pra dizer sim senhora

2024-04-22

0

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