Capítulo 5

Agenor

De volta de para o meu refúgio. Perdi muito tempo na cidade. Não suportava mais os almoços com os advogados e acionistas. Povo metido a besta!

Não importa se já era a noite, eu só queria chegar em casa.

Quando finalmente desço do carro bem na porta da minha casa, sentir a calmaria que a minha alma ansiava. O cheiro do campo penetrou nas minhas narinas. Era disso que eu precisava. Apesar que dessa vez estava mais doce do que eu me lembrava. Logo eu entendi o porquê. Haviam flores espalhadas em vários pontos da entrada.

Ainda bem que existem pessoas que cuidam com muito capricho dessa casa.

Mal alcancei a porta e avistei Humberto chegando. Não importa a estação, esse homem sempre tem um sorriso acalorado no rosto.

- Boa noite meu velho amigo.

- Boa noite patrão. Que surpresa boa.

- Descidir de última hora, por isso não avisei. Só precisava sair de perto dos engomados.

Ambos riram e adentraram na casa. No entanto Agenor fica surpreso com a qualidade do serviço prestado. A casa estava aconchegante, o que trouxe a memória dos caprichos de sua mãe enquanto era viva.

- Eu vou chamar alguém pra fazer sua janta.

- Não, pode deixar. Vou ao bar do Venâncio. Quero saber se ele ainda saber gelar uma cerveja, e por lá como algo.

Sr. Humberto não protestou apesar de não deixar passar despercebido uma sombra de tristeza no olhar do seu patrão.

- Pois está tudo certo. Se eu não tivesse uma onça no meus couros lhe fazia companhia.

- Não me diga que a Graça ainda pega no seu pé.

- No pé, nas mãos, nas costas e acredito que se tiver outras vidas ela deve ter um contrato assinado, autorizando ela mandar em mim.

Caíram na gargalhada. Por muitas vezes Agenor presenciava as falsas briguinhas de Humberto com a Graça. Porém era notório que se existia amor, foi feito só pra eles.

- Ah! E agora tem mais um cabresto na minha vida. Isabele teve neném.

- É mesmo?

- Eu acahava que vinha um garanhão pra me ajudar a andar nessas terras. Rum, que nada, veio foi mais uma mulher pra mandar em mim. Precisa ver minha cara de abestado pra minha netinha.

- Parabéns Humberto. Imagino que a Graça está estragando essa criança.

- E o senhor pode nos julgar?

Era muito bonito de ver uma família unida. Eu tive o desprazer de ver um membro da minha família partir. Um por um.

Sentindo que minhas emoções estavam entrando em parafuso, joguei as malas na sala e voltei para o carro.

Não tenho tempo para essas emoções. Isso está no passado.

Chegando no ponto movimentado da cidade. Que por sinal tinha o seu charme. Fui ao bar do Venâncio.

Enquanto tomava uma cerveja e beliscava uns petiscos. Percebi a silhueta de uma velha conhecida, que já me fez companhia por muitas noites.

Noto que ela aproxima, com olhar de cobiça, mirando no que talvez seja o seu velho golpe de sorte. Tão bonita quanto ambiciosa.

- Olha quem finalmente apareceu.

- Boa noite Chalise.

- Finalmente um homem de verdade nessa cidade esquecida por Deus.

- Não seja injusta.

- Isso não importa, tudo que penso agora em aquecer a sua cama, relembrando os velhos tempos.

Venâncio aparece no balcão para dar-me mais uma bebida, enquanto observa o comportamento dissimulado de Chalise.

- O Homem mal chegou e você já vai dar o bote Chalise.

- Isso não é da sua conta Venâncio.

- Toma cuidado cara.

Rio do conselho do meu amigo, pois se ele soubesse o que existe no lugar do meu coração, se preocuparia mais com Charlise do que comigo.

- Agenor é diferente desses caipiras dessa cidade. Ele sabe o que é bom nessa vida. Tanto que abandonou essa vida de peão e um casamento de roça pra viver na cidade grande.

Nesse momento meus sentidos mudam. Sinto uma surdez provocada pela ira que foi acionada dentro de mim. Suportaria qualquer coisa, menos esse assunto.

Não aceito falar desse assunto.

Ergo o corpo de Chalise, segurando-a pelo pescoço. Todos do bar paralizam com a cena, porém ninguém se atreve a se envolver. Todos me conhecem. Mas poucos sabem o que a boca suja de Chalise conseguiu atingir em mim.

Vejo o pânico nos olhos dela. Segundos que parecem uma eternidade. O ódio dentro de mim é tão latente que seria capaz de esmagar todos daquele bar.

Porém não consigo proferir uma palavra. E enquanto os meus sentidos vão retornando, escuto a voz distante de Venâncio.

- Solta Agenor, Agenor, Agenor. Solta ela. Solta ela.

De repente tudo volta a se mover e compreensão retorna em mim. Empurro Charlise para longe de mim. Que foi acolhida por alguém e levada do bar.

Todos estão me olhando, curiosos com o meu próximo passo. Olho para Venâncio, como se precisasse de uma orientação.

Ele apenas acena com a cabeça, passando a mensagem silenciosa de que era melhor eu ir embora.

E assim faço.

Mal cheguei e já dei o meu primeiro show na cidade.

Muito frustrado com tudo dirijo em alta velocidade, chegando a cantar os pneus quando freio na porta da minha casa.

Carrego as malas que deixei espalhadas na sala e vou direto para o meu quarto. Me jogo na cama com a cabeça a mil.

Sabendo que sou incapaz de dormir sem tomar minhas pílulas, engulo algumas e fecho os olhos, esperando o véu do sono me atingir.

Mais populares

Comments

Mara Melo Oliveira

Mara Melo Oliveira

Nem acredito que depois de dezenas de histórias que eu pego para ler , mas depois de alguns capítulos chatos e sem interesse eu deixo de lado , eu agora pego essa maravilha de história que está me prendendo a atenção como poucas .Adorando esse começo .

2024-03-24

34

bete 💗

bete 💗

interessante ❤️

2024-04-15

0

Carmilurdes Gadelha

Carmilurdes Gadelha

Eita....
Mais mistério....

2024-04-07

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!