Capítulo 15

Diego voltou para casa revoltado, o número de mortos e feridos inocentes foi além do esperado e ele não pôde fazer nada, pois algumas pessoas não aceitaram sair de suas casas e decidiram continuar suas vidas no meio do tiroteio. Merda! Era só um dia, eles poderiam ter salvo suas vidas. Agirá o hospital estava lotado e o cemitério não teria espaço para tantos corpos de uma só vez, mas o que mais o espantou foi ver uma criança morta no meio. Sua mãe chorava desesperada pedindo perdão para o filho, por não ter tido tempo de sair pata fora do morro. O ataque aconteceu antes do esperado e os que moravam mais no alto não tiveram tanta chance quanto os que moravam mais para baixo. Esse menino era um que uma vez disse a Perigoso que queria se tornar doutor para um dia cuidar dos feridos da comunidade, já que viviam faltando profissionais que tinham coragem de subir o morro para os atender. A comunidade toda estava de luto. Diego ainda conseguia ouvir os choros e gritos de famílias que perderam seus entes queridos. Ele entrou sem perceber que Nádia e as meninas estavam na sala e em um ato impulsivo acabou desferindo um soco na porta, após a fechar atrás de si. Nádia deu um pulo de susto e sentiu seu corpo todo arrepiar, seus traumas a lembraram de que todas as vezes que Alessandro chegava assim em casa era ela quem pagava as consequências e nada impedia dr ser igual com Diego. Ela segurou a mão de sua filha mais velha, que estava ao seu lado no mesmo segundo. Ambas paralisadas encarando as costas do homem. Diego se virou, vendo o rosto de pavor com que Nádia o encarava, arrependeu-se no mesmo segundo de não ter sido mais cauteloso e ver se não tinham presenças na sala antes de expor sua raiva. Ele a iria passar com psicólogo, era só questão de tempo, antes tinha que resolver alguns problemas, mas estava mais do que disposto a ajudar a mulher e as crianças.

— Me desculpem, não vi vocês aí.— Deu um passo.— Fiquem calmas, não precisam ter medo de mim, nunca faria nada a vocês.

Nádia tentou acreditar em suas palavras, mas diante de dez anos de sofrimento, não conseguiu abaixar a guarda. Alice se sentou no sofá novamente, mas ela continuou de pé o encarando.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim.— Ele soltou todo o ar que segurava.— O hospital da comunidade lotou, há muitos feridos, o cemitério também, quase não há espaço para tantos corpos.

— Eu sinto muito.

— Não queria que fosse desse jeito, mas se nunca reagisse, um dia Jack arruinaria o morro.— Ele caminhou até o sofá, se sentando do lado de Alice. Nádia se sentou também, com cautela.— Os choros dos familiares ainda ecoa nos meus ouvidos, sinto que nunca iremos suportar tantas percas.

Nádia sentiu sua tristeza naquele momento. Os olhos do homem estavam marejados, era como se ele tivesse voltado a adolescência com medo de perder sua mãe. Ele sentia muito pelo que aconteceu, sentia-se culpado até.

— Não é culpa sua.

— É sim. — Ele sorriu, amargo.— Eu não queria ser dono do morro, queria apenas salvar minha mãe do meu pai. Se eu não o tivesse matado para salvar a vida de minha mãe, não estaria aqui. Eu era só um garoto que queria ser engenheiro.— Uma lágrima acabou descendo involuntariamente.— Uma criança sonhadora. Mas agora estou aqui, sou um bandido dono de um morro, cheio de inimigos que querem me matar.

Nádia percebeu naquele mesmo momento que Diego não era o monstro que ela tanto tinha medo de reaparecer em sua vida. Aquele momento de luto e fraqueza serviu para confiar um pouco mais nele. Então, sem dizer uma palavra ela trocou de lugar e se sentou ao seu lado, o abraçando. Diego sentiu-se surpreso no início, mas a abraçou também, sentindo seus cabelos, seu cheiro, seus braços o envolver. Ele se permitiu ser ele mesmo por um momento, deixou as lágrimas descerem e colocou alguns sentimentos para fora. Eram sentimentos e lágrimas presos há muitos anos, ele deixou sair como ela como nunca o tinha feito antes. Eles se afastaram um pouco, seus rostos estavam muito próximos, um poderia sentir a respiração do outro, seus olhos se encaravam intensamente. Diego passou os dedos entre seus cabelos a acariciando, Nádia sentiu um arrepio, seus lábios formigavam de vontade de o beijar e era recíproco. Ele encarou aqueles lábios macios e rosados, era um sentimento diferente, como nunca haviam sentido com outra pessoa, era novo para os dois. Uma das mãos dela estava em seus ombro e ele sentiu quando deu uma leve apertada, dando-o a entender que estava sentindo o mesmo. Aquela era sua deixa. O homem se aproximou lentamente, fechando os olhos e passando a outra mão para a cintura dela. Aquele ato a fez sentir um arrepio, mas um arrepio bom. Nádia mordeu seu lábio inferior, fechando os olhos também, pela primeira vez em sua vida sentindo vontade de beijar alguém. Seus lábios quase se tocam, suas respirações se misturam, os corações se aceleram. No entanto, foram interrompidos por um toque de celular. Ambos abriram os olhos e se afastaram em um pulo, se dando conta do que estava prestes a acontecer. Nádia se levantou.

— Vou fazer o almoço.

Ela se afastou rapidamente indo para a cozinha, enquanto Diego atendeu o celular, frustrado por ter sido interrompido.

— Fala, meu brother!

Era Felipe do outro lado da linha.

— Felipe. Você está bem, irmão? Estou pensando em ir te visitar hoje.

— Estou bem. Não venha ao hospital. Estou deixando ele hoje, cara. Tive alta.

– Nossa que bom, amigo. Então amanhã estarei em sua casa.

— Pode vir, quero mesmo conversar com você. Até mais, irmão.

Eles se despediram e Diego acabou guardando o celular no bolso. Nádia já estava na cozinha preparando o almoço, já que não tiveram um café da manhã e passaram a noite toda na agitação dos ataques policiais. Eles atacaram o morro tanto de forma terrestre, quanto por helicópteros. No entanto, seus homens conseguiram derrubar todos e Diego conseguiu uma vantagem, seu pior inimigo dentro da polícia estava morto. Jack não tinha mais como aumentar sua propina e não cumprir com o acordo, o próximo chefe policial que viria teria que propor um novo acordo como mais médicos para o hospital, reforma da quadra, mais professores nas escolas. E Duego faria-o cumprir exatamente com o prometido, ou não permaneceria por muito tempo em seu cargo.

Ele foi até a cozinha e parou no batente da porta, observando-a de costas, lembrou-se de quando foi até a casa que mirava com Alessandro e viu seus ferimentos expostos. Se lembrou da dor que sentiu ao ver o sangue marcar sua camiseta, seu olhar assustado e sempre baixo, se lembrou de como ela estava pedindo socorro silenciosamente. Agora, ali, Nádia parecia tão livre e tão bem, ela tinha sim um certo receio, mas não havia mais um olhar de pavor, não via medo em seus olhos, não tinha mais que se esconder ou ser castigada simplesmente porque irritou seu sequestrador que dizia ser seu marido. Ele se deu conta do quão bonita ela era, não que já não tivesse reparado, mas agora parecia até mais bonita que antes. Diego sentiu o que nunca sentiu antes por uma mulher, ele estava gostando. Nádia se virou para pegar algo no balcão e acabou o flagrando. Ela o encarou. Diego passou a mão entre os cabelos, havia sido flagrado. Ela sorriu levemente.

— O que foi?

— Não é nada.— Ele respondeu.

Mais populares

Comments

Vitoria Barbosa

Vitoria Barbosa

lindos eu shippo muito ❤️🥰😍😍

2024-06-01

0

Tânia Campos

Tânia Campos

Já quero eles juntos!!!

2024-01-11

3

Tânia Campos

Tânia Campos

Muito boa a história,
Agora só precisa dá fim em Adalberto,
Mas, esse tem que ser bem torturado!!!

2024-01-11

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!