São vocês

 

 

    Na estrada o comboio segue resgatando os moradores. Júlia permanece calada desde o momento que saiu da última casa.

_ Tudo bem mana?

_ Comigo sim! O problema é encontrarmos mais pessoas na situação dessa última casa.

_ Não pense assim Júlia! Se você preferir entramos Roberto e eu. Depois chamamos você.

_ Não Paula! É o que é! Ou eu aprendo a aceitar as coisas do jeito que estão, ou não estarei preparada para esse mundo.

_ Ok então! Vamos ver mais uma casa, dependendo de como for podemos voltar.

_ Isso jamais! Foi por demorar que não pudemos ajudar mais. Então vamos terminar com isso logo.

    Eles seguem até chegar na sexta casa. Um senhor está do lado de fora jogando grãos para algumas galinhas num cercadinho. Ao se aproximarem o senhor corre para dentro gritando.

_ Vão embora! Me deixem em paz!

_ Calma senhor! Só queremos conversar. Me chamo Paula. Somos amigos e podemos ajudar.

_ Não quero conversar com ninguém! Me deixem em paz! Saiam da minha casa!

    Paula e Roberto ficam de frente para porta enquanto Júlia observa as galinhas.

_ O senhor precisa de alguma coisa? Água, comida, agasalho. Queremos só ajudar.

    Ele não responde.

_ Senhor?

_ Já disse! Vão embora!

_ Por favor! Deixe que o ajudemos. Temos um lugar seguro. Estamos resgatando os moradores das redondezas e...

_ Tá legal! Vou abrir a porta. Se tentarem alguma coisa eu rasgo pelo menos um de você.

_ O senhor não precisa se preocupar. Não lhe faremos nada, realmente só queremos ajudar.

    Ao abrir a porta o senhor segura um facão na mão trêmula. Seu semblante é de puro medo.

_ Quem são vocês?

_ Sou o Roberto. Essa é a Paula e aquela a Júlia. O senhor tem que vir conosco.

_ E por que eu faria isso?

_ O senhor não está sabendo do que está acontecendo? Da doença?

_ Como vocês podem ver, estou esbanjando saúde. Não tenho nada.

_ Estamos vendo. O problema é outro. Podemos explicar melhor no local seguro em que estamos alojados.

_ Do que você está falando meu caro?

_ Como posso explicar?

_ Deixa comigo. O senhor está correndo perigo. Em breve apareceram saqueadores, pessoas infectadas com alto grau de agressividade. Infelizmente nós também precisamos abandonar nossas vidas para sobreviver. Tivemos muita sorte de estarmos nesse  local. Podemos proteger nossa família e amigos. O mundo todo está assim e as coisas tendem a piorar.

_ Por isso que a televisão parou de funcionar?

_ Sim!

_ Mas o que vocês esperam de um velho que não tem nada a oferecer?

_ O senhor que pensa assim! Todos temos algo a oferecer. Vejo que o senhor se dedica ao cultivo e cuida bem de suas galinhas. Precisamos de pessoas com sua experiência para nos ensinar a melhorar a forma que cuidamos das plantações. O que acha?

_ Minha filha! Isso aqui é tudo que eu tenho, é minha vida e tudo que eu sei fazer. Não posso abandonar minhas bichinhas.

_ Não tem problema. Pode levar suas galinhas se quiser.

_ Posso?

_ Claro! Podemos ajudar a pegá-las?

_ Se for verdade eu aceito.

_ Então separe seus pertences pessoais que iremos recolher as galinhas.

_ Tudo bem!

    Enquanto o senhor entra, Paula vai até o carro pegar uns sacos. Júlia se antecipa abrindo a portinha do galinheiro, duas galinhas aproveitam a deixa e escapam. Roberto corre para agarrar a que está mais próxima dele, a galinha percebendo a aproximação corre mais rápido ainda, fazendo Roberto ir de cara no chão. Todos observam rindo de dar dor na barriga. Júlia sai do galinheiro com cuidado e corre para tentar pegar a outra. Os dois agora tentam pegar as duas galinhas, não chegam nem perto de conseguir. Arrancando cada vez mais risadas de todos. Passados alguns minutos o senhor sai da casa com uma corda fina. Pede para Roberto e Júlia se afastarem enquanto calmamente anda em direção a elas. De primeira laça uma pelas pernas, em seguida a outra também na primeira tentativa, fazendo todos ficarem abismados

 

    Natália e Gustavo observam o comboio chegando. Ficam muito felizes por voltarem todos bem. Natália deixa o drone pairando no automático e corre para abrir o portão. Todos entram de forma organizada e rápida.

_ Papai! Estão todos bem?

_ Sim minha filha. Estamos indo muito bem. Vamos deixar todos sobre sua responsabilidade, os leve para os cuidados de sua mãe que depois resolvemos o resto. Tudo bem?

_ Tá bom!

    Após descarregarem os carros  eles voltam para dar continuidade ao resgate. Silvio e Luiz preparam novamente os drones armados para seguir o comboio.

_ Até já meu amor!

_ Até pai!

    Gustavo continua no drone observando. Próximo a estrada um vulto entre a mata chama sua atenção. Ele não consegue ver que se trata de uma raposa mas acha estranho. Tenta observar mais de perto, não consegue nada.

   

    O comboio segue o mesmo plano de antes, agora a caminho do sul.  São mais casas que no norte, contudo o espaço entre elas é menor, assim como a distância até a primeira casa.

 

    Ricardo ouve o som dos motores dos carros se aproximando. Pensa na sorte que pode ter se conseguir pegar o carro, mas seus pensamentos caem por terra quando vê se tratar de mais de um carro. Olhando pelo pequeno buraco da janela consegue ver o comboio, vendo que estão armados sabe que não pode fazer nada além de dissimular.

_ Tem alguém em casa?

    Pergunta Júlia.

_ E agora? O que que vamos fazer com essas velhas?

_ Não sei Ricardo!  Vamos esconder?

    Responde Fabrício apavorado.

_ Boa ideia! Joguem elas debaixo das camas. Rápido! Vou ver se enrolo eles lá fora por enquanto.

_ Alô? Alguém aí?

    Pergunta Roberto.

_ Já vai!

    Ricardo abre a porta apenas para deixar seu corpo passar.

_ Em que posso ajuda-los?

_ Olá! Como se chama?

_ Ricardo.

_ Me chamo Roberto. Essa é a Júlia e essa a Paula. Estamos aqui para ajudar os moradores com abrigo, comida e proteção. O senhor mora sozinho aqui?

_ Não! Moramos meus irmãos e eu.

_ Se importa se entramos?

_ É que eles estão mal vestidos. Se puderem aguardar um pouco.

_ Dez minutos senhor. Temos mais uma casa para visitar, precisamos voltar antes do anoitecer.

    Diz Paula.

_ Espera!  O senhor está de saída?

    Pergunta Júlia.

_ Não! Por quê?

_ O senhor parece bem arrumado.

_ Na verdade estamos atentos as notícias. Não moramos aqui nessa casa faz muito tempo. Íamos a cidade comprar o necessário antes de tudo. Tinham nossa mãe e avó que faleceram a um tempo.  Vamos com vocês se pudermos. Mas precisamos recolher nossas coisas e se der tempo uma conversa a sós. Quero me despedir da casa.

_ Entendi! Como se chamavam?

_ Quem?

_ Sua mãe e avó.

_ Lourdes e Vânia. Deixa eu apressar eles. Só um minuto.

    Ricardo entra apressado.

_ Já colocaram as roupas?

    Ele fala um pouco mais alto para dar mais credibilidade a referência.

_ Vocês são meus irmãos de sangue ouviu? Vamos recolher nossas coisas e sair. Eles não precisam entrar. Pelo jeito eles tem tudo que precisamos para ficar de boa! Depois vemos o que podemos ganhar com isso.

_ Tá bom!

    Ambos respondem.

_ Mas o que vamos pegar? Não tem nada aqui nosso!

_ A sua imbecilidade as vezes excede. Vamos embromar um pouquinho e logo saímos.

_ Que estranho.

_ O que Júlia?

_ A porta. Parece ter sido arrombada.

    Natália observa tudo atentamente. Seu drone está pairado a alguns metros de altura enquanto Gustavo observa próximo da estrada, de frente para casa. Alguns minutos se passam e eles saem. Ao vê-los Natália lembra de imediato do casaco, logo depois dos três caras que havia visto.

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