Caia na real

 

 

 

 

 

    Natália bate na porta do banheiro.

_ Mãe? tá tudo bem?

_ Está sim minha filha! Você sabe como é aqueles dias.

_ Eu ouvi você chorando!

_ Não é nada! Você sabe como ficamos mais sensíveis nesses dias.

_  Vou colocar um filme para Gustavo e Maria. Quer assistir?

_ Boa ideia! Primeiro ajude seus irmãos a arrumarem as bolsas!

_ Tá bem!

    Marina busca o número de Paula e liga.

_ Oi Paula! Como estão as coisas por aí?

_ Ainda uma loucura! Os pacientes não respondem a nenhum sedativo,  nem a morfina. Infelizmente foi comprovado que o vírus mata o hospedeiro para depois agir de uma forma mais plena. É como se o sistema nervoso central se reiniciasse com um novo padrão.

_ Você quer dizer que os pacientes...

_ Que os pacientes morrem e em alguns minutos voltam com essa nova forma de agir. Sem batimento cardíaco, sem raciocínio lógico, sem vida propriamente dito. Lembra da enfermeira que foi mordida?

_ Sim!

_ Apresentou todos os sintomas até vir a óbito. Ensacamos o corpo que em minutos começou a se mexer. Não estamos sabendo lidar com o que está acontecendo. Prendemos todos na sala de cirurgia.

_ Paula! Se você disse que o sistema nervoso central parece reiniciar, o que precisa ser feito é desligar.

_ Como?

_ Deslocamento na distribuição do sistema nervoso. Uma contusão na C1, ou uma séria lesão no cerebelo. Comunique as autoridades quanto a necessidade de defesa. Faça isso circular na imprensa.

_ O diretor ordenou que não fosse passada nenhuma informação sem que ele seja consultado.

_ Não importa o que ele diz. Essa doença irá se espalhar rápido, caso não tenhamos um plano de contenção as coisas irão ruir rapidamente. Existem alguns vídeos circulando, mas sem o aparo de um órgão responsável as pessoas não darão credibilidade.

_ Entendo. E o que você sugere que eu faça?

_ Grave um vídeo do que está acontecendo aí dentro! A imprensa ainda está aguardando aí fora?

_ Como mosquitos em água parada.

_ Ótimo! Entregue a eles e peça que façam um alerta nacional. Ainda não sabemos a abrangência dos casos, temos que fazer isso o quanto antes.

_ Entendi!

_ Meu marido  conseguiu um lugar seguro. Se você puder vir conosco. Eu sei que mora sozinha, estará vulnerável. Partiremos a noite.

_ Fui escalada para cobrir a Patrícia amanhã.

_ Esquece isso! As coisas não irão melhorar! Logo chegarão mais pacientes infectados, entenda que estaremos fardados ao caos. Esse tipo de situação não é parecida de longe com qualquer epidemia. Você sabe muito bem que os primeiros lugares a serem afetados nesses casos são os hospitais.

_ E teria vaga para mim nesse lugar?

_ Claro que sim! Vai por mim, você não vai querer estar aí quando tudo virar uma loucura.

_ Tudo bem então! Estarei aí assim que anoitecer.

_ Venha com seu carro! Se puder junte todo medicamento que achar prudente.

_ OK!  Até logo.

_ Até! Se cuida.

    Marina encerra a ligação e vai para cozinha.

_ Natália! Vem aqui na cozinha.

_ Fala mãe.

_ Vou precisar que você me ajude. Como você sabe, as coisas não estão muito boas. Temos que ir para esse lugar e nos mantermos seguros. Aconteça o que acontecer sempre fique de olho em seus irmãos, entendeu?

_ Sim mãe. Mas o que a senhora quer dizer?

_ Você é a mais velha de seus irmãos. Seu pai e eu sempre zelamos pelo bem estar de vocês, agora preciso que você faça isso mais do que nunca. Esses vídeos circulando são reais, temos que manter nosso raciocínio muito equilibrado para não nos perdermos em nós mesmos. Seu pai e eu precisaremos que você seja muito forte. Entendeu?

    Natália olha para mãe sem saber o que responder. Até então, achou que os vídeos não eram reais. Achou realmente que estaria indo para uma comemoração de última hora.

_ Mas mãe! Você mesmo disse que esses vídeos não passam de mentiras.

_ Eu sei o que disse. Nem eu queria acreditar, mas agora precisamos lidar com a realidade dos fatos.

_ Então quer dizer que as pessoas estão comendo as outras por aí?

_ É isso!

    Natália gela. O medo a faz paralisar por completo.

_ Você está bem?

_ Não mãe! Não é melhor então fechar as janelas e portas? Sei lá! Ficarmos em silêncio?

_ Ainda temos tempo até que chegue a esse ponto. Estamos adiantados, o que precisamos agora é Mantermos a calma. Iremos para um lugar seguro, seu pai foi buscar sua avó e logo estará de volta. Sua tia Júlia virá, assim como a Paula lá do hospital. Partiremos todos juntos, será mais seguro. Entende que preciso que me ajude com seus irmãos?

_ Sim mãe. Eu ajudo no que precisar.

_ Obrigado minha filha. Não deixe que seu irmão fique sabendo de absolutamente nada. Deixa para quando chegarmos.

 

    Roberto chega no restaurante. Busca em cada canto por sua mãe e acaba constatando que ali ela não está. Ele se encaminha para o caixa.

_ Com licença! O senhor sabe me informar se a dona Eliana esteve aqui hoje?

_ Dona Eliana? Seria aquela senhora que sempre usa conjunto?

_ Essa mesma!

_ Se o senhor chegasse a uns cinco minutos teria encontrado com ela.

_ Sou filho dela. Acabei de vir do prédio dela, não estava lá e agora não está aqui.

_ Hoje é seu dia de sorte. Ela saiu daqui dizendo que iria passar no Largo do Machado para ir ao banco. Se o senhor correr a encontrará.

_ Muitíssimo obrigado meu amigo! Tenha um bom dia.

    Roberto corre pelas ruas desviando de tudo e de todos. Não demora muito até avistar sua mãe a alguns metros a sua frente. Ao se aproximar toca em seu ombro direito.

_ Mãe!

_ Filho? O que é isso? O que faz por aqui?

_ Mãe! Eu preciso que venha comigo.

_ Para onde? Estou indo ao banco para...

_ Não da tempo para explicar agora. A senhora está precisando de dinheiro? Eu te transfiro quanto precisar, mas preciso que venha comigo.

_ Não preciso de dinheiro! Graças a Deus tenho uma boa pensão. Seu pai apesar de não valer muito, deixou uma conta...

_ Não importa mãe! Vamos para casa, eu preciso que venha comigo.

_ Mas meu cartão está bloqueado! Passei uma vergonha no restaurante e ainda tenho que voltar lá para pagar meu...

_ Segunda feira eu mesmo estarei aqui para resolver isso junto a senhora na sua agência! Temos que ir!

_ Mas posso saber o porquê de tanta pressa?

_ O aniversário do seu neto é esse fim de semana e alugamos um lugar chiquérrimo do jeito que a senhora gosta.

_ É mesmo?

_ É!

_ O Gustavo disse que só vai se a vó dele estiver com ele.

_ Eu sempre soube que os meninos são mais chegados as avós que aos avôs. Então vamos logo, segunda sem falta você irá comigo mesmo?

_ Na volta de lá. Prometo.

    E assim a tarde caminha para quase duas horas. Roberto sabe que precisa apressar ao máximo sua mãe, sempre indecisa em qual roupas, adereços, bolsas e afins. Sempre usa as mesmas peças alegando marcarem melhor sua silhueta.

 

    Paula entra na sala onde os infectados estão amarrados. Seus gritos abafados por mordaças a fazem sentir calafrios. Ela sente que precisa filmar de perto então se aproxima de um deles. Seus olhos parecem soltar uma secreção pustulenta avermelhada, o cheiro deles é insuportável, ela usa máscara e ainda assim coloca metade do rosto debaixo de sua blusa.

_ Gente! Eu me chamo Paula Gouveia Lima. Trabalho como chefe de enfermagem no pronto socorro do Hospital Antônio Pedro e essa é a nossa sala de cirurgia. Os vídeos publicados nas redes sociais não são meros boatos. Precisamos agir o quanto antes... Os infectados transmitem o vírus por mordidas. O que sabemos até agora é que a primeira fase é extremamente agressiva e em poucos minutos o vírus causa febre e desmaio. Na segunda fase o todos apresentaram convulsões, infecção severa e logo o paciente vem a óbito. Essa que vocês estão vendo é a terceira fase, o vírus reinicia o sistema nervoso central fazendo com que eles mantenham esse comportamento agressivo. Precisamos que esse vídeo chegue ao conhecimento de todos, defendam-se e que Deus nos ajude.

    Paula encerra o vídeo e sai da sala apressada.

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