Fase de adaptação

 

 

    Roberto e Marina descem para sala principal buscando os olhares dos seus. Júlia e Paula quase que de imediato se juntam a eles. Roberto vai para o meio da sala.

_ O senhor Ferraz pediu para que todos se sintam à vontade para dar um passeio pela propriedade.

    Aos poucos os grupos de famílias foram se formando, as famílias pequenas se juntaram afim de igualar os números. Roberto foi ao carro pegar as malas para encontrarem as botas, todos reviram seus pertences.  

_ Vamos para floresta primeiro!

_ Por que pai? Prefiro ficar aqui!

_  Não Gustavo! Vamos ficar juntos! Entendeu?

    Roberto usa uma expressão mais séria do de costume. Gustavo obedece de imediato.

_ Mas mãe? Lá tem muito mosquito?

_ Tem sim Maria. Mas olha o que eu já separei.

    Marina mostra o vidro de repelente.

_ Roberto! Vem aqui um estante.

    Júlia chama Roberto e o leva para um canto mais afastado de todos.

_ Você acha melhor eu levar a pistola ou deixar guardada?

_ leva. Deixa travada. É só isso?

_ Sim! Não sei até que ponto posso confiar nos demais.

_ Também não. Qualquer coisa me fala.

    Eles voltam para os demais e passados alguns minutos estão nas plantações que fazem caminho para floresta. Durante o caminho todos ficam espantados com a quantidade de frutas que muitas delas até então eram novidades. O caminho escolhido por eles é o caminho central, onde se localizam a maior parte das frutíferas da Propriedade.

Existem placas indicando caminhos e placas com os nomes e períodos das mudas. A caminhada não está sendo tão longa quanto imaginaram, a verdade é que foram se distraindo tanto que não levaram em consideração o trajeto.

    Todos percebem o caminho se afunilando aos poucos até que chegam em uma parte fechada por árvores plantadas em filas como um grande muro. Outra placa indica entrada , nessa placa a fauna tem um cronograma de medicamentos. Eles passam por duas árvores mais distantes e mudam por completo o aspecto de percepção visual. No mapa essa parte foi apelidada pelo senhor Ferraz de Bico. O Bico representa quarenta por cento da propriedade. Essa parte foi projetada com um lago  que contém várias espécies de peixes. Existe toda fauna original, acrescentada de mais répteis com exceção de cobras. Isso fez diminuir muito a quantidade de insetos venenosos. Aumentaram a quantidade de alguns mamíferos. As raposas precisam de um destaque a parte. Algumas ideias vistas como excelentes, podem entrar em questionamento a qualquer momento. Pensaram que a pele da raposa era excelente para produção. Desenvolveram um projeto peculiar de escavação. Precisamente na parte nordeste do bico construíram um sistema climatizado alimentado por conversores de energia colocados nos moinhos. A caverna fica gelada o suficiente nas épocas mais quentes, a água corrente vem de dentro da propriedade afim de evitar contaminação. Durante os anos elas procriaram além do imaginado, a castração para brecar a quantidade de fertilização e fazer os machos conviverem melhor entre si foi uma decisão muito comemorada. O senhor Ferraz achou que seria bom mantê-las livres por toda propriedade. Eram animais dóceis e sorridentes. Resgatados por uma das ongs que o senhor Ferraz fazia parte. Eles receberam pouco mais de sessenta raposas de uma só vez. Por serem animais nascidos em cativeiro não demoraram para serem domesticadas. As peles são recolhidas de animais que sofrem mortes naturais, a caça delas não é permitida. Agora são pouco mais de duzentas raposas e isso pode ser um problema. Na verdade será.

_ Bem que o senhor Ferraz disse! Achei que estava se gabando. Realmente isso aqui é lindo.

    Diz Marina.

    Construíram tocas por toda parte, até nas copas das árvores tem diversos com ninhos. Tem casas até para abelhas. Tudo pensado para otimizar a qualidade de vida das espécies recolhidas.

_ Olha o lago mamãe!

_ Já vi Maria! Lindo né?

_Viu os passarinhos também mamãe?

_ Também Maria.

_ Será que podemos nadar?

_ Acho que sim. Mas vamos deixar para outra ocasião.

_ Vocês acham que dá para morar aqui? Acham que dará certo?

    Pergunta Júlia.

_ Acho que depende de todos colaborarmos e podemos sim ter uma vida até que digamos confortável. A questão é que não temos muitas opções. Então é isso ou lá fora.

    Responde Paula.

_ Aquela hora que o senhor Ferraz nos chamou para o quarto, foi para perguntar se podemos ficar na casa principal com ele. Disse que seríamos necessário. O que vocês acham?

_ Na verdade eu já escolhi o meu quarto!

     Responde Gustavo.

_ Então acho que todos concordamos. A Paula tem razão ao dizer que não podemos escolher muito.

    Diz Natália.

_ Então direi a ele que ficamos lá mesmo. Que tal se ficarmos aqui mais um pouco? Depois vamos conhecer as outras casas!

    Sugere Roberto.

    Todos seguem  por trilhas largas, sempre perto uns dos outros. O caminho de retorno foi feito pelo lado oeste que acaba dando de encontro com as casas.

_ Esse verde não é muito escuro?

    Júlia observa negativamente a cor das casas.

_ Vamos escolher uma e entrar!

   Diz Roberto.

    Eles entram e encontram uma placa em cada cômodo da casa. Nelas, instruções sobre o funcionamento geral. Eles chegam a conclusão que tudo foi pensado para aproveitar da melhor forma possível cada matéria orgânica produzida nas casas a favor da agricultura. A água vem de nascentes subterrâneas. Todas as pias recolhem água de lavagens do dia a dia e processam para  em seguida despejar nas plantações. Nos banheiros um aviso mais pertinente em letras vermelhas diz:

“Nunca jogar papel ou qualquer objeto nos vasos”

    A produção de gás metano tem um sistema de recolhimento de dejetos, usam os dejetos bovinos para melhores resultados. O sistema fica abaixo do subsolo com toneladas de concreto protegendo as extensões dos canos. A caixa de reservatório é grande o suficiente para durar muitos e muitos anos. O entupimento por objetos seria algo muito desagradável de resolver.

_   Vamos ver as geladeiras!

_ Paula abre a geladeira cheia de bebidas e frutas. Tem pastas, geleias, pequenas sementes germinadas, sobremesas, folhas.

    Júlia pensa que tudo isso é muito bom para ser verdade. Acredita que uma hora alguma merda vai acontecer. Ela tenta acompanhar a todos na forma de pensar que estão todos bem e que tudo parece seguro. Ela sente que nada disso parece ser correto e se questiona o tempo todo se mais alguém pensa assim. Ela tenta se segurar para não mostrar seu nervosismo, chama a atenção de Paula cutucando seu ombro. Vai até perto dela e fala baixo.

_ Você acha que aqui realmente está bom?

_ Do que você  fala?

_ Eu não sei bem! É que parece que alguém vai chegar e tirar isso aqui tudo de uma hora para outra! Sabe?

_ Você havia bebido, depois no caminho foi assaltada, depois veio a morte da sua mãe, depois veio o cara que você atropelou. Foram muitas coisas que você precisou passar para chegar até aqui. Não deu tempo para serem digeridas Júlia. Ainda tem o Flávio que você não tem mais notícias.

    Apesar de Paula relembrar cada momento que Júlia teve de dor, sua expressão permanece inabalável.

_ Eu sei! Por isso que estou achando que vou perder. É isso mesmo. Vou pegar um quarto na casa, eu me sinto cansada. Vou tentar descansar e ao acordar... Quem sabe não posso ver uma nova perspectiva.

    Júlia se despede e sai da casa. No caminho encontra com outros moradores e cumprimenta a todos, Bartolomeu chama a atenção por onde passam.

    Duas semanas se passaram e todos foram se familiarizando. Todos escolheram suas funções, alguns escolheram outras funções diferentes dos familiares. Júlia optou por morar na casa principal e trabalhar na defesa. Pela idade Natália teve que escolher uma função além das aulas e escolheu a casa da defesa para ficar perto da tia. Maria poderá ficar apenas na casa escola com as demais crianças. Gustavo não tem idade o suficiente para trabalhar. A partir dos dez anos todos devem escolher qual função irão preferir, são acrescidas aulas de introdução teórica. Aulas práticas somente a partir de quinze anos, ele escolheu defesa por imaginar que haveriam simuladores gráficos incríveis. Roberto escolheu defesa por achar melhor ficar perto da família. Casa da construção lhe pareceu um ponto para auxílio caso possa ajudar. Paula e Marina não puderam escolher, foram designadas para o hospital, poucos profissionais da saúde  conseguiram chegar.

 

    Natália aprendeu muito rápido a controlar o drone. Eles possuem óculos para facilitar a visualização da câmera. Resolveu dar uma olhada por fora da propriedade, nas casas próximas a estrada e acaba por descobrir uma criança

da idade de Maria aproximadamente. Ao se aproximar com o drone a menina percebe e corre para dentro de sua humilde casa. Seus pais

saem com vassouras afim de acertar o drone. Ela sabe que eles passarão dificuldades por estarem desprotegidos. Ela chama Júlia e pede para  colocar os óculos.

_ E o que você pretende fazer sobre isso?

_ Não sei tia. Mas temos que ajudar essas pessoas.

_ Olha! Duvido que deixem eles entrarem aqui. Você viu como são cheios de regras. Vamos esperar para falarmos a noite, quando estivermos todos reunidos.

_ Tudo bem tia! Mas você acha que seria possível levar comida até eles?

_ Como? Não podemos sair!

_ Talvez se escrevermos um bilhete e colocar no drone podemos pedir para que venham no muro. Daria pra descer as bolsas com uma corda! Aqui tem muita comida!

_ Eu sei Natália! Concordo com você, mas precisamos passar essas ideias ao senhor Ferraz. Infelizmente temos que respeitar as decisões que ele possa vir a tomar. Tudo bem?

_ Entendi tia.

    Natália não convenceu a tia. Júlia conhece a cara de paisagem que Natália faz quando fica algo fixo em sua mente. Ela espera a hora do jantar e joga a questão na mesa.

_ Senhor Ferraz?

_ Sim minha querida!

_ Hoje eu estava treinando com o drone de observação e notei um família na estrada. Sei que existem outras pessoas lá fora que não conhecemos a fundo. Mas qual seria a chance de ajudarmos eles de alguma forma?

_ E de forma acha mais prudente?

_ Não sei ao certo! Não vão conseguir ficar muito tempo em casa. A fome os farão desistir aos poucos. Logo morrerão. E se ao menos enviarmos algumas bolsas de frutas e legumes? Podemos colocar macarrão. Vi que a produção teve que parar de tanto que fizeram.

_ Verdade?

_Sim!  Um rapaz que estuda comigo, trabalha na casa da colheita. Não sou tão ingênua a ponto de pensar em trazer pessoas que não conhecemos e deixar entrar aqui. É que eu vi uma menina parecida com Maria brincando no quintal e tinha um cercado de madeira muito fraco...

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