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    Chegando na casa Marina toca o interfone e aguarda. A mãe de Clara atende.

_ Quem é?

_ Oi Eunice é a Marina!

_ Oi minha querida! Vou abrir o portão.    Marina entra e como sempre é muito bem recebida.

_ Tudo bem?

_ Mais ou menos! Sabe como são os adolescentes né? A Natália saiu de casa sem me comunicar, como havia pedido para vir aqui, pensei em começar a procurar...

_ Nossa! Eu não a vi hoje. A Clara está para chegar daqui a pouco, talvez ela saiba de alguma coisa, as duas estão grudadas ultimamente.

_ Sim! Seria muito incômodo esperar um pouco aqui na sala? Vejo que está ocupada com o almoço.

_ Imagina! Venha para cozinha, vamos colocar o papo em dia. Não precisa ficar assim nervosa, essas meninas são assim mesmo, daqui a pouco verá que chegarão juntas.

_ Se importa de ligar para Clara? A Natália deixou o celular em casa.

_ Vou ligar!

_ Obrigada!

_ O telefone dela Parece estar desligado. Tentei duas vezes e cai na caixa postal.

    Quase uma hora se passou e nem sinal das duas. Agora Eunice também se preocupa.

_ Vou na escola! Qualquer coisa liga pra mim, deixei meus outros filhos em casa, então tenho que correr!

_ Ligo sim!

    Marina se despede de Eunice e entra no carro. Antes de virar a chave avista Natália e Clara virando a esquina. De súbito seu coração acelera, sua expressão de alívio é evidente, logo em seguida muda para raiva. Ela buzina afim de chamar a atenção das duas esperando que se aproximem.

_ Oi dona Marina! Tudo bem?

_ Me digam vocês! Está tudo bem? Eu pareço bem?

_ Mãe! Eu só...

_ Entra no carro agora! Clara vai para casa! Sua mãe está preocupada.

_ Então tchau amiga.

    Responde Natália sem graça.

_ O que você pensa que está fazendo?

_ Eu tinha prometido que passaria o sábado com ela. Mas você e o pai resolveram essa viagem do nada!

_ Sua filha da puta! Quase me mata do coração. Seu pai foi buscar sua avó! Eu preciso resolver uma porrada de coisas e você desaparece assim? Minha vontade é de... Olha nem sei. Vamos pra casa e você vai ficar no quarto refletindo.

    Marina encosta a cabeça no volante em choro.

_ Desculpa mãe! Eu ia deixar ela em casa e logo iria voltar. Pensei que nem fossem perceber.

_ Deixei seus irmãos sozinhos por causa dessa sua empreitada! Essa não vou deixar passar, fique sabendo que você terá uma conversa com seu pai! Agora vamos que estou preocupada com seus irmãos.

    Ao chegar Marina se acalma ao constatar que tudo vai bem. Lembra- se então que precisa ligar para Júlia.

_ Natália?

_ Oi mãe!

_ Sirva o almoço para vocês. Vou ligar para sua tia.

_ Tá bem!

    Marina vai para sala ligar a televisão. Senta-se no sofá e liga para Júlia.

_ Oi Cunhada! Pode falar agora?

_ Posso! E como vão os preparativos para festinha do Gustavo? Eu sei que prometi ajudar, mas estou cheia de pedidos em atraso, dois funcionários não apareceram e para completar um maluco apareceu aqui com uma faca dizendo que era o fim do mundo. Queria levar três carrinhos de compra na marra. O dia está cada vez melhor!

_ Nossa que loucura! Espero que vocês estejam bem, mas não é o aniversário o motivo de ter ligado! Na verdade iremos cancelar, ainda não liguei para ninguém, vou comunicar por redes sociais mesmo. Assim vai todo mundo saber de uma vez só.

_ Mas como assim? Não entendi!

_ Vai entender assim que possível. Mudanças de planos! Vamos para um sítio, ou fazenda. Não sei bem ainda, queremos comemorar lá. Como é de última hora, vamos sair hoje a noite. Pode fazer uma mala simples, para um fim de semana...

_ Como assim? De quem foi essa ideia?

_ Do Roberto!

_ Ele endoidou foi? Como assim? Do nada. Com quem vou deixar meu gato? E meu trabalho? Sinto muito mas não vai dar para eu ir.

_ Eu sei que é de última hora e tudo mais. Mas você conhece seu irmão quando põe alguma coisa na cabeça. Ele está indo buscar sua mãe para ir com a gente.

_ Ainda tem essa?

_ Calma! Tudo bem que a relação de vocês não é nada fácil, mas pensa no Gustavo. Ele disse que você é a única tia que ele gosta.

_ Também! Só tem eu de tia!

    Ambas riem timidamente.

_ É eu sei. Minha família não vem para o Rio nos visitar desde sei lá quando. Mas a questão não é essa! Venha para cá e traga o Bartolomeu.

_ Já que é de tão última hora posso levar o Flávio?

_ Você não estava com aquele italiano?

_ O Francesco? Tem um tempão isso. Quer um conselho?

_ Diga!

_ Nunca se apaixone por estrangeiros.

_ E esse Flávio é de onde?

_ Daqui mesmo!

_ Leva ele então! Não esquece de chegar aqui às dezoito horas sem falta.

_ Impossível! O Flávio chega por volta das dez.

_ Muito tarde! Temos mais ou menos três horas de viagem até lá.

_ Lá onde? Não me disse onde vamos.

_ Surpresa! Pode deixar que você irá gostar. Quanto ao Flávio, podemos mandar o endereço para ele. O que você acha? Ele vai depois.

_ Pode ser!

_ Então estamos combinadas. Se puder chegar aqui mais cedo ganha um brinde!

_ Vou fazer o possível. Vou aproveitar então e abastecer a mala de bebidas. Quero meu brinde! Se for de comer melhor ainda! Beijos!

    Júlia faz barulho de beijo e desliga. Marina olha a televisão na programação de sempre, não traz nenhuma novidade. Ela segue para mesa afim de almoçar junto as crianças.

_ E aí gente? A comida está gostosa?

_ Está sim mãe!

_ É Gustavo? Bom saber. Vou almoçar com vocês agora.

_ Eu também gostei muito mamãe!

_ Que bom Maria! Põe mais batata para ficar bem forte!

_ Eu comi seis pedaços já!

_ Então melhor parar com a batata e terminar as ervilhas meu amor! Natália! O que falamos sobre celular na mesa?

    Natália mantém sua atenção no aparelho, sua expressão denota profundo interesse e asco ao mesmo tempo.

_ Natália? Eu estou falando com você!

_ Desculpa mãe! É que está viralizando um vídeo estranho. Dizem que não é fake e não parece mesmo.

_ E é sobre o que?

_ Olha!

    Natália entrega o celular para mãe. A localização marcada é na cidade ao lado, foi postado a uma hora. O vídeo mostra pessoas saindo desesperadas de um ônibus. Um homem banhado de sangue sobre uma mulher, segurando-a pelos cabelos e mordendo seu pescoço. Alguém conseguiu filmar pela janela, ele mastigando distraído, não parece se importar com nada nem ninguém. Dois policiais chegam atirando e o vídeo se encerra. A única coisa que Marina tem em mente agora, é a certeza de que Roberto está um passo a frente dela e que ele corre mais perigo que haviam imaginado.

_ Mãe?

_ Oi?

_ Será que é verdade mesmo?

_ Eu duvido filha. Eles devem ter aproveitado o lance ocorrido mais cedo para ganhar visualizações. Hoje em dia tudo é notícia, até que se prove se é falsa ou não já ganharam alguma coisa com isso.

_ Mas mãe! Não tem só um vídeo! Tem outro no Flamengo. Outro em São Conrado.

    Marina olha para o auto como se pedisse a Deus proteção para Roberto. Ela sabe que dona Eliana é teimosa, que convence-la de vir será difícil.

    Marina corre para sala novamente e liga para Roberto.

_ Oi amor! Está tudo bem?

_ Comigo sim. Mas o trânsito está parado aqui no Aterro do Flamengo. Sabe de alguma coisa?

_ Acabei de saber que ocorreu um caso parecido com o do hospital aí no Flamengo. Só pode ser isso. Vem para casa Roberto, vamos pedir um carro para sua mãe.

_ Você sabe que preciso convencer ela pessoalmente. Aliás, estou a poucas quadras de distância.

_ Pelo amor de Deus! Nem que você tenha que desmaiar dona Eliana, não perca tempo!

_ Tudo bem! Se acalma, volto logo. Verá que vai dar tudo certo.

    Marina ouve um barulho de batida muito alto, logo em seguida uma buzina contínua.

_ Roberto?

    O desespero toma conta de Marina. Ela aguarda resposta mas não a obtém.

_ Roberto! Por favor responde!

    Ela não faz a menor ideia do que fazer. Seu corpo  inerente a suas vontades começa a ficar gelado e quente ao mesmo tempo. Um formigamento que começa em suas extremidades passa a circular por toda parte.

_ Roberto?

_ Mãe? O que aconteceu com o pai?

_ Nada filha! Foi a ligação que caiu! Fica com seus irmãos! Está tudo bem!

    Marina vai para o banheiro chorar. Ela se preocupa em não fazer muito barulho. Quer manter sua postura diante dos filhos, mesmo que para ela seja quase impossível no momento.

 

_ Que porra é essa?

    Roberto acorda com muita dor na cabeça. Ao verificar sobre o ocorrido, identifica que um carro em alta velocidade bateu na traseira de seu veículo jogando-o contra o carro da frente. Ao olhar para trás, vê uma mulher presa ao cinto de segurança, ela parece um animal sem alma. Seus olhos são pálidos como os de um defunto, ela tenta esticar os braços para os curiosos que a assistem. Roberto lembra que estava em ligação com Marina e acha o celular perto dos pés. Retorna a ligação.

_ Alô? 

_ Oi amor!

_ Graças a Deus! Está tudo bem? O que aconteceu?

_ Uma batida! Mas estou bem! Só o carro que não vou conseguir dirigir mais. Vou a pé buscar minha mãe e pego o carro dela. Logo estarei aí.

_ Por favor! Vai logo, vou ligar para sua mãe para ela se adiantar.

_ Amor?

_ Diga!

_ Só por pura precaução irei enviar a senha que precisamos para digitar na entrada.

_ Não vai não! Você mesmo irá digita-la quando chegarmos lá!

_ Não seja boba! Eu posso perder o telefone, esquecer ou sei lá. Somente por isso, com certeza vamos juntos. Agora deixa eu ligar para minha mãe, melhor que eu mesmo faça isso.

_ Roberto? Promete que virá?

_ Eu prometo! Até já!

    Roberto desliga e envia a senha. Liga para mãe, como já imaginava ninguém atende. Ele acelera os passos até finalmente chegar na portaria do prédio.

_ Boa tarde seu Joaquim! Tudo bem?

_ O que aconteceu seu Roberto? O senhor está sangrando.

_ Isso não foi nada! Apenas uma queda pela minha distração. A mamãe está em casa?

_ Olha rapaz! Dona Eliana saiu mais cedo, disse que ia fazer uma caminhada e depois iria almoçar na rua mesmo. Ainda não voltou.

_ Para piorar ela não usa celular!

_ Ela costuma almoçar naquele restaurante aqui do lado,  duas quadras daqui.

_ Vou lá agora!

_ Aqui! Pega esse lenço e se limpa um pouco.

_ Obrigado meu amigo. Se me desencontrar com ela diga por gentileza que fique em casa.

_ Pode deixar seu Roberto!

    Roberto sabe que precisa correr. O acidente o fez ter mais certeza do caos que se aproxima, ele percebe que as pessoas em sua volta não estão dando devida atenção sobre o que tem acontecido. Julga ser inútil perda de tempo tentar alertar as pessoas envolvidas em seus problemas cotidianos. Ele segue para o restaurante na esperança de achar a mãe.

 

 

 

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