É errando que se aprende

 

      Natália olha para o relógio com mais frequência. Sabe que ajudar aquelas pessoas tornará seu dia mais significativo. A imagem da menina brincando não saí de sua cabeça.

_ Gustavo?

_ Oi!

_ Vamos levando as bolsas. Falta pouco.

_ Tá! Deixa eu ir no banheiro rapidinho. Tô apertado.

    Natália fica aguardando pensativa. Ela imagina se algo pode dar errado, caso os de fora avisem aos outros moradores ou se entenderam certo a hora e local de entrega.

_ Vou andando na frente devagar então e deixar umas bolsas para você levar. Não esquece! Levo essas qui que estão mais pesadas

_ Tá! Mas eu aguento mais peso que você sabia?

    Gustavo grita do banheiro.  Não demora muito e ele sai em direção as bolsas. Pega as que Natália deixou e aperta os passos para alcançar a irmã.

_ Me espera!

_ Aperta mais um pouco os passos que vai me alcançar!

_ Você esqueceu que tem as pernas mais longas que as minhas? Além do mais não está leve, tem certeza que pegou as mais pesadas?

_ Você sempre arruma alguma coisa pra fazer de última hora! Vamos ter que colocar as bolsas no andaime. A corda! Esqueci da corda!

 

    Natália e Gustavo chegam no muro.

_ Fique aqui com as bolsas, já volto com a corda. Se caso eles chegarem, pessoa para aguardarem um pouco.

    Natália não demora a voltar, sobe no andaime junto a Gustavo e começam as amarras.

_ Será que eles estão vindo?

_ Não sei! Faltam cinco minutos ainda. Vamos esperar aqui em cima, não podemos descer as bolsas sem ter certeza.

    Roberto e Júlia se aproximam deles.

_ E aí? Conseguiram amarrar as bolsas direito?

_ Sim tia! Eu quase fui escoteiro. Vi muitos vídeos na internet, sei até acender fogueira com fricção na madeira.

_ Olha como seu filho está se tornando um homem Roberto!

    Antes que pudesse responder Roberto solta um riso.

_ E a Natália uma mulher! Teve iniciativa de falar com senhor Ferraz na lata!

_ Aqui! Vai ajudar.

    Júlia olha para eles e joga um binóculos.

_ Da pra vocês verem melhor! Talvez eles estejam vindo e daqui não dá pra ver.

    Natália agarra o binóculos.

_ Valeu tia!

    Ela olha em direção a casa e não enxerga nada.

_ Será que estão com medo?

_ Acho que não Natália. Eles estavam felizes quando leram o recado!

 

    Na parte interna do muro foi colocado a cada vinte metros uma metralhadora. Caixas de madeira abaixo das armas abrigam as munições conectadas aos cintos.

_ Acho que são eles!

    Observa Gustavo.

_ Deixa eu ver!

    Natália arranca o binóculos das mãos de Gustavo e olha. O homem vem junto de sua esposa. Natália tenta achar mais alguém, mas somente os dois vem a passos lentos. O sistema de defesa acusa a movimentação do casal. Na sala de monitoramento os computadores sugerem duas opções:

    Abortar ou prosseguir.

    Um minuto é o tempo dado para selecionarem a resposta.

_ Só os dois. E a menininha? Por que não trouxeram ela? Queria ver ela de perto. Será que deixaram ela sozinha?

_ Devem ter deixado ela com alguém!

    Natália olha para Júlia e Roberto com um tremendo sorriso no rosto e grita.

_ Eles estão vindo! Vamos descer as bolsas!

    Antes de conseguir levantar uma das bolsas todos ouvem disparos. Roberto e Júlia sobem no andaime preocupados. Gustavo olha pelo binóculos de boca aberta. Natália tapa as lentes do binóculos depois tira das mãos dele, busca pelo casal e encontra os dois mortos no chão da estrada.

 

    O paraíso de antes não parece mais o mesmo. Natália se ajoelha em choro, Roberto a abraça.

_ Foi minha culpa!

_ Quem disparou a arma?

    Pergunta Roberto.

_ Foi um pouco afastado! Fiquem aqui! Vou descer e verificar de qual cabine veio!

    Júlia desce do andaime e corre até que encontra várias cápsulas ao chão. Ela observa a metralhadora se movendo de forma aleatória. Parte do cano está pra fora como se estivesse buscando por algo e Júlia se pergunta quem pode estar controlando a arma. Volta correndo e ao se aproximar novamente, pede que Roberto desça apenas com um olhar. Ele entende e desce.

_ Mande eles para casa. Iremos a sala de controle. Parece que alguém está controlando aquela metralhadora.

_ Crianças! Escutem! Desçam daí e vão para casa! Vou com Júlia verificar algumas coisas.

_ Tá pai!

    Gustavo responde enquanto Natália consente com a cabeça.

    Roberto e Júlia estão chegando na sala de controle quando outros dois colaboradores topam de frente com eles.  São eles Luiz e Sílvio. Os encarregados de vigilância do primeiro turno.

_ O que aconteceu? Viram quem efetuou os disparos.

_ Olha! Estávamos tomando café. Estamos voltando agora.

_ Então vamos! Entrem na sala e nos mostre.

_ Sim!

    Roberto usa de tom inquisitivo sobre eles.

_ Calma mano. Eu entendo seu nervosismo, mas segura a bola um pouquinho. Parece que eles sabem tanto quanto a gente.

    Entrando na sala o computador denuncia insistente dois abates. As câmeras estão fixas aos corpos no chão.

_ Olha o que está escrito.  Que abateram dois infectados? Eles não estavam infectados. E por que está escrito sistema automático ligado? Foi passado que só seria ligado em situações críticas. Onde isso parece crítico?

_ Não sabemos sobre isso Júlia! Estamos vigiando todos os dias de oito horas da manhã até os substitutos chegarem pelas quatro. Isso nunca aconteceu!

_ Então se vocês não sabem, temos que perguntar ao senhor Ferraz! Precisamos desligar isso.

_ Deixa que eu vou! Pode ser ?

    Roberto pergunta para Júlia.

_ Tudo bem Roberto. Vai logo!

    Roberto corre para casa e encontra Belizário na sala com um charuto na mão esquerda e um copo de conhaque na direita.

_ Bom dia!

_ Opa! Como vai meu filho?  Quer me acompanhar em alguma bebida? Quem sabe uns tragos?

_ Não! Na verdade venho para falar sobre os disparos.

_ Não eram testes?

_ Não senhor! Foram os moradores que vieram buscar...

_ Os mantimentos? Sei! Eu pedi para quem ligasse o sistema de defesa para evitar qualquer problema, mas vejo que infelizmente acabei causando um. Peço perdão a todos. Vou desligar imediatamente. Como estão seus filhos?

_ A Natália está se culpando pelo ocorrido.

_ Onde eles estão?

_ Os pedi que viessem para cá.

_ Mas estou aqui a um certo tempo e não os vi entrar.

    Roberto corre até os quartos e não os vê. Vai correndo até a parte do muro, verifica que as bolsas continuam no mesmo lugar e a corda está pendurada para fora dos muros. Ele corre até a sala de monitoramento e encontra Júlia.

_ Eles não estão em casa!

_ Como assim?

_ Acabo de vir de lá! A corda está para fora do muro. Eles foram até às casas para achar a menina.

_ Vocês conseguem localizar as viagens feitas pelos drones?

_ Sim! Cada drone particular tem seu próprio usuário! É só me dizer quem que vocês...

_ Já entendemos Luiz. Veja o que minha sobrinha usa.

_ Ok!

    Sílvio se senta fronte a tela do computador da mesa esquerda.

_ Aqui temos umas visitas a essa casa próximo a estrada.

_ Quantos metros até lá?

_ Aqui temos oitocentos metros de distância até lá! Mas o senhor não pode sair da...

_ Não diga a um pai o que fazer! Eles não vão entender, nem eu vou ficar fora dessa!

E você Luiz? Tá com a gente?

_ Olha! Também sou pai e não posso pensar diferente de vocês. Se fosse uma das filhas do senhor Belizário com certeza iria fazer uma busca completa.

_ Então também estou dentro! A maioria venceu! Luiz vá pegar dois drones. Vamos checar o caminho até a casa, ver se achamos eles para termos uma noção de por onde começar a procurar. Encontro com vocês no gramado.

    Luiz e Sílvio saem da sala.

_ Vamos Roberto!

_ Não! Eu vou! Você  tem que ficar no muro vigiando.

_ Tudo bem! Vamos logo então! Não temos com o que nos preocupar, as checagens de perímetro indicam que não tem infectados a quilômetros.

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