Seres repugnantes

 

 

 

    A ajuda que resolveram prestar foi estudada em conjunto, com algumas divergências postas em mesa por parte de Belizário. Foi combinado que sairiam ao clarear do dia. Alguns colaboradores irão segui-los com drones armados. Usarão quatro carros afim de darem no máximo três viagens. Levarão armas no caso de precisarem. Todos se despediram para descansar. Roberto precisou ficar de vigia no turno da noite, antes de ir para o quarto foi ver Maria.

_ Boa noite minha florzinha!

_ Boa noite papai. Posso perguntar uma coisa?

_ Claro minha linda! Pode falar.

_ Por que eu tenho que ficar o dia todo na escola com as tias?

_ Meu anjo! O papai e a mamãe estão trabalhando para manter você segura. Lá na escola é o lugar onde melhor irão cuidar de você e sempre vamos te pegar a noite. Mas me diga uma coisa! Você não gosta de lá?

_ Gosto muito de lá! A tia Denise é muito legal comigo. Tem a tia Carla também! Tem mais tias que dão aula para as crianças maiores. Mas é que eu fico com saudade da mamãe.

_ Eu sei meu amorzinho! Vou falar com sua mãe para te visitar mais vezes lá. Tudo bem?

_ Sim! Agora eu gostei mais.

_ E quando der eu também vou. Agora vai dormir.

_ Tá bom!

_ Te amo filha.

_ Também te amo papai!

_ Boa noite.

_ Boa noite!

 

    Estão todos prontos para sair. Acordaram encorajados, com bom ânimo. O calculado por eles seria de seis a oito horas até que consigam checar a última casa. Os carros saem até que os portões se fecham, Natália e Gustavo correm para pegar seus drones.

_ Vamos galera! Sigam o combinado que tudo irá dar certo. Agora não somos um só, somos uma tropa!

    Roberto fala carregado de energia.

_ Vamos ficar de olho!

    Diz Luiz no microfone.

    Seguindo a estrada passam por casas a cada dez minutos em média. O combinado foi começar pelas casas das extremidades. Após pouco mais de uma hora chegam na primeira casa. Todos os carros estão juntos e farão paradas até encher o total de pessoas com seus pertences pessoais. Todos ficam extremamente atentos, sentem muito medo que um infectado apareça.

_ Tá ok! Três vigiam, três entram e dois vigiam o carro. Vamos Roberto, Paula e eu.

    Júlia relembra.

    Abrindo o pequeno portão improvisado com madeiras de palete, entram em silêncio e Paula bate na porta. O som de pegadas dentro da casa começam e em seguida uma mulher de aparência abatida abre a porta a ponto de entreaberta.

_ Bom dia!

_ Vocês são do governo?

_ Não! Mas queremos ajudar. Você pode nos dar um tempo para conversarmos?

_ Estamos em casa como pediram no rádio, mas até agora ninguém veio nos ajudar. Acho que não podemos aceitar ajuda de estranhos meus senhores. Vocês querem algo em troca?

_ Estamos na propriedade da estrada. Temos comida, água, segurança. Precisamos de ajuda sim, a propriedade exige trabalhos. Mas todo mundo desempenha uma função.

_ Aqui somos meu marido e três filhos de dez, oito e cinco. Realmente estamos sem nada. Só que eu não conheço vocês, não sei se podemos confiar.

_ Olha pra mim! Você tem filhos não é mesmo?

Pergunta Júlia.

_ Sim!

_ Você tem energia elétrica aqui? Algum Rádio?

_ Não funciona tem um tempo já! A energia foi cortada a uma semana.

_ Então deixa eu te adiantar uma notícia. As cidades do sul estão tomadas por infectados. As do norte não ficam atrás. É questão de tempo entende?

A mulher intende a postura persuasiva de Júlia. sobretudo ao fitar para uma das crianças com olhar de compaixão.

_ Entendo! Entrem e ajudem meu marido. Ele está fraco não consegue sair da cama. Está a dias sem comer.

_ Sou enfermeira. Posso ajudar!

    Os três entram. As crianças estão tão fracas quanto os pais. O pai deve ter deixado de comer para dar aos filhos e esposa, sua aparência denota estar muito mais abatido. Não demoraria muito para que todos morressem de inanição.

_ Aqui nessa bolsa de água, frutas e sanduíches. Por favor fiquem à vontade para pegar.

    Júlia entrega a bolsa para a mãe. Ela fica emocionada e corre para entregar as crianças.

_ Obrigada!

_ Se me permitir, posso administrar um pouco de soro no seu marido? Vamos fazer isso no caminho, ok?

_ Sim senhora!

_ Me chame de Paula! E como você se chama?

_ Dolores.

_ Vamos cuidar de vocês no caminho, precisamos que peguem suas coisas pessoais e coloquem em suas bolsas. Temos algumas bolsas reservas. Dez minutos, se quiser podemos ajudar a recolher.

_ A menina mais velha pega uma boneca que estava sobre a cama. Os dois meninos mais novos estão entretidos com a comida.

    Roberto e Júlia ajudam o homem  até chegarem nos carros. Assim seguiram até chegarem na quinta casa. Bateram na porta várias vezes.

_ Vamos arrombar! Acho que aqui não deve ter mais ninguém aqui.

_ Não Júlia! Deixa eu ver na janelinha do lado.

    Roberto força a madeira da janela.

_ Consegui!

    Olhando para dentro ele nota que alguém está no chão. De onde ele observa consegue ver as pernas esticadas.

_ Tem alguém no chão! Vamos arrombar!

     Ele chuta a porta entrando logo em seguida. Ao dar de cara com dois corpos em estado avançado de decomposição acaba entendendo o odor de putrefação que sentiam do lado de fora.

_ Que horror! Pelo menos vejo que não tinham filhos. Não podemos fazer nada por aqui. Vamos!

_ Calma Paula! Vamos pelo menos pegar alguma coisa para cobrir eles.

    Júlia pega uns lençóis. Ao chegar perto deles sente muita tristeza. Pensa que se tivessem chegado antes eles não estariam mortos. Ela tenta esconder o choro, mas suas lágrimas se tornam visíveis ao caírem no chão. Ela observa o penteado da mulher e se sente pior ainda. Era como sua mãe arrumava antes de ir para escola, um coque bem preso e enrolado.

_ Você está bem?

_ Tô legal! Só que devíamos ter vindo antes. Mas está tudo bem. Vamos continuar logo.

    Júlia espera não ter que encontrar outras pessoas mortas pelo caminho. Mesmo com seu jeito durão de ser, caso encontre com alguma criança nessa situação irá perder o foco por completo.

_ Então vamos!

_ Se importam se eu ficar sozinha com eles por um minuto?

_ Não mana! Estamos aqui fora qualquer coisa.

    Júlia busca por informações sobre eles até encontrar seus documentos.

_ Então Luciana e Vicente! Sinto muito que vocês tenham passado por isso. Se eu pudesse, teria vindo antes. Espero que  sigam em paz. Esse mundo não está lá grandes coisas mesmo. Para onde vocês tenham ido, espero de coração que estejam bem.

 

Na noite anterior.

   Ricardo dirigiu parte da noite até acabar a gasolina. Reclamou o tempo todo de ter que caminhar parte da estrada, ainda mais das companhias de Emerson e Fabrício. Estava quase amanhecendo quando encontraram uma casa simples e resolveram dar uma parada para descansar.

_ É aqui mesmo que vamos esticar um pouco! Veja se tem alguém nessa merda.

_ Emerson! Você quer ver ou quer que eu vá?

_ Tanto faz! Eu vou.

    Emerson arromba a porta e duas senhoras bem velhinhas estão deitadas, se assustam com eles mas não manifestam muitas reações. Estavam deitadas esperando a morte chegar, ambas contavam com seus sobrinhos para levar suas provisões. Estão fracas a ponto de quase não se importarem com eles.

_ Duas moribundas. Tão velhas que não podemos nem nos divertir um pouco.

    Ricardo cai na gargalhada.

_ Quem são vocês?

    Pergunta uma delas.

_ Viemos ajudar! Vamos acabar com o sofrimento das senhoras.

_ Graças a Deus! Pensei que ninguém nos ajudaria, ainda bem que orei para Virgem Maria e ela nos atendeu.

_ Atendeu sim senhora.

    Ricardo se aproxima de uma delas com olhar falso de compaixão.

_ Deixa eu ajudar.

    Ele pega um travesseiro.

_ Obrigada!

    A senhora mais próxima pensa que ele vai ajudar a ela se sentar.

_ Não! Não precisa se esforçar para levantar.

    Ele pega o travesseiro e o coloca sobre seu rosto, em seguida senta sobre o travesseiro. Ela tenta se desvencilhar inutilmente enquanto a outra grita em desespero por socorro.

_ Seus miseráveis! Deixem a Lourdes em paz! A mão de Deus vai pesar sobre vocês! Miseráveis!

_ Calma! Não precisa ficar com ciúmes velha. Sua vez vai chegar.

    A senhora fica apavorada e usa o pouco de força que tem para tentar sair da cama. Cai no chão sentindo que não pode fazer nada além de esperar sua vez.

_ Tá vendo velha? Até que foi rápido. Vocês iriam ficar aqui sofrendo por muito mais tempo. Deus ouviu suas preces e nos enviou para dar fim aos seus sofrimentos.

_ Desgraçado! Maldito!

_ Cala boca! Coloquem essa velha de volta na cama.

    Emerson e Fabrício pegam a senhora e colocam novamente na cama. Ela esbraveja um pouco enquanto Ricardo se aproxima para sufoca-la.

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