Foi por uma boa razão sim

 

 

    Marina desce primeiro e identifica de súbito que não estão mais vivos. Mesmo assim checa a respiração e pulsação e constata não haver possibilidade de vida.

_ Vamos colocar os corpos na mata e depois recolhemos! Agora precisamos ir  até a tal casa. Dois pra cada corpo. Pego o homem com Roberto, Paula e Marina pegam a mulher.

    Eles pegam os corpos e colocam a poucos metros para fora da estrada. Marcaram uma árvore como referência.

 

    Seguiram até a casa e ao abrir a porta Marina chega chamando os nomes dos filhos.

_ Mãe?

_ Gustavo meu filho!

    Ela o abraça.

_ Mãe está tudo bem!

_ Eu sei minha filha. Como é o nome dessa pequena?

_ Não sei o nome dela, acho que ela não sabe falar muito, ou tem medo. Ela terminou de comer, agora podemos ir.

    Júlia ouve o que acaba de acontecer a automaticamente busca por mochilas e cadernos. Deu uma mexida pela casa e finalmente achou uma bolsa com desenhos e giz de cera. Ela pega outros blocos, cadernos pequenos e documentos que acha e junta na bolsa.

_ Então agora vamos para casa! Não tem mais alguém aqui?

_ Não mãe! Estamos nós três aqui! A Natália decidiu dar algo para ela antes de sairmos. Ela estava com fome.

_ Entendi meu filho! No caminho ela pode comer mais. Agora vamos!

 

    Todos saem da casa e Marina tenta levar a pequena no colo, mas menina se soltou e correu para os braços de Natália antes que pudessem entrar no carro. Agora voltam para casa rapidamente. Roberto digita a senha na entrada dos portões e todos entram. Chegando em casa algumas pessoas estavam observando. Entre eles Cézar e Bruna. Samanta acaba de ir para sala.

_ Oi gente! Vocês estão bem? Tem alguma coisa que posso fazer por vocês? Quem é essa menina?

_ Samanta! Seu pai está em casa?

_ Sim! No quarto!

_ Por favor o chame para sala! Precisamos informar o ocorrido!

_ Um minuto!

    Samanta sobe e a campainha toca. Roberto se levanta, antes de chegar na porta alguém abre.

_ Tem alguém em casa?

_ César! Entre por favor.

_ O que aconteceu hoje? O dia ficou maluco do nada cara!

_ Estávamos buscando os dois lá fora! Resolveram ajudar...

    Belizário chega de supetão.

 _ E Depois foi cagada atrás de cagada. Vamos entender uma coisa! Qual é a regra número seis?  Vocês sabem? A regra de não sair dos limites da propriedade. Mas a número dois vai contra essa regra, não posso esquecer que cada membro é precioso.

    _ Vejo que o senhor visa o melhoramento do sistema como um todo. Então também cabe pensarmos como um todo para buscarmos melhorias. Podemos aceitar as regras e punição como todos que estão aqui.

    Natália responde.

_ Esse sistema foi criado para não sairmos por uma boa razão. A ideia de uma possível infecção por vírus foi cogitada por mera especulação, o ponto alto eram as bombas, por isso a parte subterrânea. Não sabíamos até que ponto tudo poderia se desenvolver, mas tínhamos uma precisão ou outra. Sempre nos assustamos com todas. Então esse sistema foi desenvolvido para nos dar uma sensação de segurança. Vou comunicar ao responsável para que identifique as diferenças entre os alvos. Temos muitas informações valiosas de lá de fora. Todos os infectados apresentam a temperatura de um morto. Vamos adaptar sensores de calor. Quanto a ajuda podemos estender os cuidados as outras casas e quem sabe reverter esses episódio trágico em algo mais bem sucedido. Conto com vocês!

_ O senhor esqueceu de uma coisa!

_ Pois não?

_ O senhor esqueceu de dizer como as armas dispararam hoje no muro!

    Diz Júlia em tom inquisitivo.

_ Sim! Minha querida! Não atribua a culpa do ocorrido com os pais da menina. Vamos ajudar a cuidar dela. E sobre os pais... O que posso dizer? Fui displicente a ponto de pedir para ligar o sistema, mas não quis dizer. Infelizmente estou com uma preocupação desde ontem a noite. Fui informado que a cidade mais próxima foi saqueada. Mais duas cidades ao sul estão tomadas por infectados.

    Natália sente um alívio de saber que não tem tanta culpa quanto pensava.

_ Por que não passou isso para todos? O senhor não nos pediu para ficarmos nesta casa como seus conselheiros? Faço parte desse conselho?

_ Sim Júlia!

_ Então eu digo ao senhor que assim que suas filhas estiverem em perigo não medirá esforços pra salva-las! Vamos considerar que aquelas pessoas da estrada precisam de um lugar mais seguro! Agora devemos isso a eles! Afinal de conta somos todos iguais não é mesmo? Temos que reunir informações de quantas casas existem na região da estrada e usar as casas como pontos de acesso para câmeras. Sei que o drone sai para checar várias vezes ao dia, mas precisamos ter sensores em terra! Além da estrada podemos ter mais pontos aliados. E aqui dentro temos vagas para várias funções. Teremos que uma hora ou outra lidar com esses saqueadores. Seria muito, mas muito feio de nossa parte ter tantos recursos e não ajudar essas pessoas. Imagine o que será deles.

_ Entendo! Mas vocês acham que podemos confiar nessas pessoas?

_ Talvez devêssemos tentar! Temos tempo para trabalhar nisso e quem sabe o sistema automático não possa ir além dos muros! Temos muita munição, a produção continua, temos novos projetos. Quem sabe além das proximidades do muro, podemos proteger mais ao longo da estrada.

    Diz Roberto.

_ Vamos mapear as casas e checar o total de integrantes! Depois vamos registrar todos! Essa menininha será a primeira. Qual é o seu nome lindinha?

_ Ingrid! Achei esses documentos na casa. Os pais se chamavam Nicolas e Margareth Silva.

    Diz Júlia.

_ Ingrid será nossa primeira acolhida.

    Diz Belizário em sua tentativa forçada de se redimir.

_ Temos que ir resolver os pais.

    Lembra Paula.

_ Não se importe com isso! Vão descansar e levem essa criança para o hospital. Vou pedir pessoalmente que resolvam isso!

    No dia seguinte todos estavam prontos para o enterro. Belizário diz algumas palavras emocionado.

_ Estamos aqui para homenagear o Nicolas e a Margareth. Ambos são pais dessa linda garotinha. Infelizmente nosso sistema de defesa os localizou e os abateu, mas isso já foi corrigido. Nossos amigos precisaram sair para buscá-la e agora podemos entender que precisamos de mais colaboradores, por isso a partir de hoje receberemos mais pessoas como eles. Infelizmente temos algumas ameaças se aproximando. As informações estão na casa do saber. Agora posso adiantar que não podemos esperar, precisamos nos preparar para tudo.

    Todos ficaram em silêncio por um momento até que foram se dissipando aos poucos. Sobrando apenas Natália, Marina, Maria e Ingrid.

 

    Em uma das cidades ao sul, um jovem chamado Samuel esteve trancado em casa desde o início das notícias.

Ficou com tanto medo que sequer pensou em ir ao mercado buscar por comida, manteve o racionamento até a pouca comida acabar. O tempo foi passando e cada vez mais infectados estavam tomando as ruas. Pensa o porquê de não ter ido ajudar a vizinha enquanto era tempo. Ambos ficaram isolados em suas casas e se comunicavam por suas janelas. A rede caiu antes que pudessem trocar mensagens, eles faziam gestos e pequenos textos com folhas largas. Com o passar do tempo ela resolveu sair na rua e ir de encontro a ele. Escolheu a noite por achar que passaria despercebida na escuridão. Os infectados sentiram seu cheiro muito convidativo. Uma pequena quantidade de infectados foi o suficiente para acabar com seu corpo franzino Ele ouviu cada grito sem fazer nada.

 

    Samuel sobe no telhado e consegue ver uma brecha na rua para o norte. Infelizmente seu corpo está muito fraco, a caminhada seria difícil, então pensa em deixar se entregar ou ir em busca de alguma comida. Ele pega o pequeno caderno e anota a lápis:

 

“ os drones passam por aqui indo para o sul e logo em seguida retornam para o norte. A estrada é muito longa mas pretendo seguir e ver se consigo me guiar neles”

 

    Junta na bolsa alguns pertences. Põe uma faca entre o cinto e arranca na marra uma barra de ferro pesada que faz parte de corrimão da escada. Ele segue até a porta de acesso a rua. Abre bem devagar para evitar qualquer barulho, sai lentamente encostando a porta. Vai abaixado até o vizinho mais próximo e tenta abrir a porta que se encontra trancada. Tenta às janelas em vão, segue tentando a sorte nas casas do caminho, sempre abaixado e vigilante. Chega em uma que finalmente abre. Ao entrar devagar se depara com um homem caído ao chão, percebe uma pistola na mão direita,  sua cabeça teria sido o alvo. Uma situação inesperada para ele. No entanto sua fome o fez ir direto para a cozinha. Ele não acredita no que vê. São tantas coisas que ele não consegue se conter e abre os biscoitos e chocolates do armário sem pena. Guarda o que julga conseguir levar e se despede do morto. Antes de sair coloca um lençol sobre ele, pega a pistola de sua mão e a munição sobre a mesa.

_ Obrigado pela comida!

     Continua na direção norte, até ver vários infectados na esquina. Pensa em retornar a esquerda para a rua de cima, ao virar se depara com três deles.  Ao sentirem a presença de Samuel começam a correr em sua direção com seus gritos abafados. Samuel muito fraco até consegue pular o muro, mas não escapa de uma mordida no calcanhar. Sua adrenalina agora está no pico. Ele pula o outro muro e corre até chegar na estrada. Sua prioridade agora é correr até sair desse lugar, sem notar se foram dois quilômetros e meio de corrida.

 

     Já é noite quando Samuel começa a sentir os efeitos do vírus em seu organismo. Sua cabeça parece explodir de tanta dor e um zumbido ensurdecedor o faz pensar que tem alguma turbina muito grande por perto. Seu objetivo é seguir, sabe que não tem mais jeito mesmo.  Vai se deixando entregar até sentir seu corpo tão fraco a ponto de não mais levantar. Assim permaneceu mais alguns minutos até seu corpo relaxar por completo. Pouco tempo se passa, retorna silencioso parecendo uma pessoa que acaba de acordar de um sono bem profundo. Alguns sons mais agudos e próximos ganham preferência de sua atenção. Depois de uma longa caminhada estrada a dentro percebe o som de um carro que passa para direção norte, apesar de tão rápido serviu de reforço.  Assim permanece até agora, sozinho e retilíneo pela estrada tentando achar um pouco de carne.

 

     Alguns anos atrás uma raposa ficou assustada com os barulhos de dinamites de uma obra próxima. Estava bebendo água quando iniciaram as explosões. Correu tão rápido na direção da floresta externa que achou pequenas brechas por onde se enfiou mata a dentro. Passados alguns minutos se deu conta que estava presa, se forçou mais mata a dentro encontrando um pequeno córrego. Quatro filhotes nasceram alguns dias depois, seis anos se passaram desde então. Atualmente são dezenas de  raposas selvagens. Se adaptaram mata a dentro ao longo desses anos . Os colaboradores não viram mais a movimentação do chip no mapa então a deram como morta. Sabiam que a raposa fugitiva estava prenha mas preferiram acreditar que não sobreviveriam sem os recursos que eram providos diariamente. Enganaram-se. Muitas sequer chegavam a fase adulta, as que conseguiam saíam de seus grupos para criar novos. Sem a presença de seres humanos são diferentes das criadas na propriedade, essas aprenderam a se defender a atacam em bandos maiores por causa da quantidade de porcos selvagens que insistem em brigar por território. Com faro e audição extremamente apurados, não foi difícil para conseguirem alimentos, as raposas têm cardápio amplo, inclusive são boas carniceiras.

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