ㅡ Precisamos conversar.ㅡ Retomo a postura e tomo a liberdade de ir até o artista, escutando os meus passos ecoarem pelos arredores.
ㅡ Ah, temos? ㅡ Franziu o cenho, fingindo não lembrar.
Sua voz, repleta de sarcasmo, corta o silêncio, e arrepios percorrem a minha derme. Todavia, eu respiro fundo, buscando ter paciência, pois não quero piorar a situação entre nós, ainda que isso seja meio impossível de acontecer.
ㅡ Sim, temos.ㅡ respondi, convicta.
Estranho o fato do rockstar me encarar tão seriamente, o olhar fixo e crítico, que desperta um sentimento de desconforto.
ㅡ Tem razão, você ainda me deve um pedido de desculpas.ㅡ Brandou, verdadeiramente irritado.
ㅡ Achei que já tivéssemos resolvido essa questão.ㅡ Falei, entediada. Esqueci que Jeon Jungkook ama dificultar tudo e bater na mesma tecla, parece uma criança birrenta.
ㅡ Se tivéssemos, você não teria vindo me procurar.ㅡ Sorriu, impaciente e irônico.
ㅡ Perfeito, então você sabe que eu não vim para me desculpar.ㅡ Devolvi o sorriso, utilizando um tom de seriedade.
Não entendo quando sua risada ácida aparece. Porém, essa não é a minha maior preocupação, no momento. Jungkook, ainda sem responder, faz menção de pegar a garrafa d'água. Aproveito a minha proximidade e pego-a antes, logo tomando um gole enquanto rio internamente da cena.
Com uma sobrancelha arqueada e os braços cruzados, o cantor me observa. Seus olhos de jabuticaba mostram-se completos estranhos, não brilham e nem falam por si só, pelo menos não comigo. Os fios escuros moldam a face oval, cobrindo o brinco prateado, que tintilha sempre que Jeon movimenta a cabeça.
Minha atenção recai sobre o maxilar definido, que abre caminho para o ponto de Adão. O pescoço exposto, vulnerável; tão fácil de marcar que meus dentes coçam. A camiseta deixa o peitoral bem marcado, o que aumenta o meu desejo de arranhá-lo inteiro. O shorts preto expõe as coxas fartas, e meus olhos vão, acidentalmente, parar no volume bastante significativo, que marca o meio de suas pernas. Porra, é só ficar dez anos fora do país e Jungkook se torna um puto de um gostoso? Fala sério!
Sentindo a boca seca, passo a língua entre os lábios, umedecendo-os, e a respiração falha por alguns segundos.
ㅡ Para de me comer com os olhos! ㅡ Jungkook, aproveitando o meu devaneio inesperado, pega de volta a garrafa térmica, matando a sede.
Eu coço a garganta, envergonhada. Amaldiçoo a minha mente suja e os meus instintos femininos, na verdade, amaldiçoou tudo aquilo que me deixa lasciva, procurando ir direto ao ponto.
ㅡ Anyway, o Sr.Baek quer o contrato assinado o mais rápido possível. ㅡ digo, evitando olhá-lo, e ele ri.ㅡ Ou seja, você precisa assinar ainda essa semana.
Jeon vira as costas, andando pela sala para recolher os próprios pertences, e bufo pela falta de interesse ou consideração que tem por mim. Acompanho-o a se agachar, afastando os pensamentos sobre como a bermuda exalta as suas nádegas. Então, ponho-me em seu campo de visão, defronte pro garoto, que, disfarçadamente, olha-me de cima a baixo, sorrindo irônico:
ㅡ E, por quê eu faria isso?
O olhar não demora, e, ao terminar de guardar as coisas, o asiático levanta, andando em direção à saída, com a mochila nas costas. Leva apenas alguns segundos para Jeon adentrar os corredores, dando a mínima se estávamos conversando ou não.
Embora o cantor não aparente estar apressado, eu estou, praticamente, correndo em cima de um salto alto com bico fino, tudo porque preciso alcançá-lo, caso contrário, não conseguirei resolver nada hoje. Estranho, nunca tive dificuldades para andar ao seu lado, sequer me lembro de seus passos serem largos.
ㅡ Porque este feat é importante! ㅡ falei, utilizando o ar que resta em meus pulmões.
ㅡ Pra você! ㅡ O idol rebate, vitorioso, e sua voz grave me causa arrepios.
ㅡ Para ambos.ㅡ Corrijo-o, irritada por precisar me equilibrar, desviar das pessoas que caminham apressadas, e ainda argumentar com esse arrogante.
ㅡ Você diz isso baseado no quê? ㅡ Questiona, cumprimentando os outros de forma educada, todo sorridente, feito não estivesse me torturando e ignorando.
ㅡ Vai ganhar mais fãs, mais reconhecimento, mais views e, consequentemente, mais grana.ㅡ Resumo os benefícios, os quais parecem infinitos.
ㅡ Não, valeu.ㅡ Recusa, algo inacreditável.ㅡ Tenho o suficiente.
ㅡ Nah, come on! ㅡ Arrasto as palavras, batendo os pés, brava.ㅡ Todo mundo sabe que essas coisas, para um artista, nunca são demais.ㅡ Insisto, sentindo o cansaço tomar o lugar, lentamente, da minha disposição.
ㅡ Estou satisfeito! ㅡ fala, com as mãos nos bolsos.
Seguro o elevador, entrando em seguida, onde permito-me descansar um pouco. Olho de relance para a figura masculina, que ri do meu estado atual. As bolhas nos calcanhares parecem que vão sangrar a qualquer momento, os joelhos fracos e o ar rarefeito. Através do espelho, arrumo os meus cabelos e ajeito a minha roupa, torcendo para que os sapatos não estejam arruinados. Infelizmente, as portas se abrem, permitindo que Jungkook volte a me ignorar, indo à procura de seu carro. Lógico, comigo em seu encalço.
ㅡ Pessoas como nós nunca estão satisfeitas.ㅡ Minha voz saiu alta, desajeitada pela falta de equilíbrio, mas audível, tanto que, de imediato, ouço-o estalar a língua, irritado.
Ele continua o caminho, fingindo estar sozinho. Destranca o carro e ameaça dar a volta nele, pronto para ir ao encontro do banco do motorista. Cerro os punhos, determinada a impedir que Jeon, de novo, me deixe falando sozinha.
ㅡ Estou falando contigo, idiota! ㅡ Agarro o seu pulso, farta de correr atrás de Jeon.
De um jeito assustador, breve e repentino, Jungkook vira o tronco em minha direção, o rosto a centímetros, senão milímetros, do meu. As íris castanhas transbordam ódio, o maxilar travado deixa os caninos à mostra, e fico tensa.
ㅡ Pessoas como você não podem ficar satisfeitas. ㅡ Rosnou, o peito estufado, o cenho franzido.ㅡ Não pense que me conhece.ㅡ Termina, soltando-se do aperto.
Um choque de realidade!
Diferente de outras vezes, permaneço quieta. Esqueci que não o vejo há muito tempo e não percebi as mudanças, achando que o coreano é igual a maioria. Não levei em consideração suas diferenças, suas características, não considerei nada. A culpa recai sobre os ombros, arrependida por tratá-lo tão rude, agindo como se nos conhecêssemos desde o nascimento, sendo que, agora, somos apenas estranhos, compartilhando memórias e fragmentos de um relacionamento.
Passamos tortuosos segundos encarando um ao outro, vasculhando o fundo da alma, em busca de vestígios de quem éramos antes. Porém, eu não quero viver com essa dúvida, não para sempre.
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Atualizado até capítulo 42
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