CAPÍTULO 10

   Naquela semana houve dias e noites silenciosas. Primeiramente porque Robyn saia para trabalhar e eu não ouvia os seus movimentos, nem portas abrindo ou do chuveiro e nem mesmo dela se arrastando na cama, soube daquilo porque quando eu acordava, eu não encontrava o corpo quente da mulher cruel e misteriosa ao meu lado.

   Durante as noites eu deitava para dormir e esperava a chegada dela porque talvez eu iria ter que ceder a ela, mas em nenhuma das noites ela me procurou, não me falava nada e se nos cruzassemos uma com a outra no corredor, ela somente me olhava por sobre os ombros e seguia para qualquer cômodo daquela luxuosa cobertura. Eu não sabia o porquê porque daquilo e pensava que o mesmo era por causa das chicotadas que ela me deu ao me punir. Eu não sabia se ela estava me deixando em paz por culpa ou se ela queria me amedrontar, cheia de mistério.

   Estava tudo um pouco confuso.

   E nas noites em que ela deitava na cama, eu sentia a sua mão tocando a minha coxa, sobre o lugar das chicotadas. Mesmo mantendo seu olhar erguido nas manhãs, todas essas noites ela quis me ter em seus braços, repetindo o que fez desde que dormimos juntas pela primeira vez.

   Cheguei na cobertura naquela noite fria de sexta-feira e me surpreendi ao me deparar com Robyn fazendo flexões no meio da sala. Aquela cena era sexy e excitante, mas ela estava bastante concentrada em levantar o peso do seu próprio corpo e nem mesmo olhou pra mim. Seu olhar estava me evitando e tudo o que vinha dela.

   Será que seria tão difícil ter um momento de sua atenção? Será que ela havia encontrado outra mulher e não esperava a hora para me mandar embora com o encerramento do contrato?

   Atravessei a sala ignorando ela, como ela me ignorou e quando cheguei no quarto vi vestidos lindos de diferentes cores e tamanhos. Um preto com um decote próximo da mesinha de centro chamou a minha atenção e sem dúvida os meus olhos brilharam. Sorri de surpresa e me empolguei para toca-los e vê-los mais de perto, no entanto, meu pensamento negativo fez o meu sorriso sumir e os meus ombros caírem. Aqueles vestidos obviamente não eram para mim.

   Me entristeci por um momento e fui até a mesa de cabeceira, ali eu deixava o meu celular e a minha mochila encostada no canto da cama, não me sentia confortável em usar um espaço no closet de Robyn para guardar as minhas coisas, já que ela até aquele momento não tinha falado nada.

   Me despi depois de me espreguiçar, liberando a tensão dos meus músculos que trabalharam o dia inteiro, o que resumia-se em faculdade, apartamento dos meus avós e distância de Lindsey, já que eu não podia deixar ela se aproximar tanto, mas apesar disso, comecei a ser a sua monitora, com ela sentada do outro lado da mesa, uma distância que pedi gentilmente e ela aceitou.

   As minhas roupas ficaram ao lado da cama sobre o chão gelado e eu fui para o banheiro. Eu não me importava em esconder a minha nudes, levando em conta que a proprietária daquela cobertura já conhecia todos os pontos do meu corpo.

   Liguei o chuveiro quente e me enfiei embaixo da água que agora caia sobre mim deslizando pelos meus cabelos e consumindo-me por inteira, e me abracei fortemente.

   Eu estava embaixo daquela água pensando em biologia, e logo uma aleatoriedade invadiu a minha mente, onde pensei em cafés sem açúcar, óleos corporais, roda gigante e em minha conta bancária.

  — Hã? — perguntei para mim mesma e fechei os olhos para tentar pensar em uma coisa de cada vez, mas a minha tentativa foi inútil, porque logo eu me vi pensando em Robyn Miller e em tudo o que tinha acontecido entre nós até aquele bendito momento, já eram três semanas juntas — por assim dizer —. Pensar nela era como se desligar da realidade e até mesmo do meu poder sobre o meu próprio corpo.

   Senti as minhas mãos descerem sobre os meus braços, logo chegando ao fim e invadindo a extensão do meu abdômen, onde repousou por um momento e foi descendo cada vez mais, mais, mais, até que...

— Pare agora!

   E parei com a autoridade daquela voz que permaneceu longe dos meus ouvidos por sete dias. Me arrepiei e voltei as mãos aos meus braços, onde me abracei novamente. Não abri os olhos em nenhum momento, eu não gostaria de encarar Robyn e vê-la me olhando com seriedade, na verdade, eu estava com vergonha do que eu estava prestes a fazer, já que ela havia me alertado.

— Abra os olhos, Courtney! — ela ordenou e pude sentir que ela já estava a centímetros de mim, então obedeci, me paralisando.

   Robyn estava completamente nua na minha frente, com fios de cabelo um pouco molhados por causa do suor, se ela queria me excitar só com aquilo, ela estava conseguindo. O seu corpo era extremamente perfeito, seus braços fortes, seus seios pequenos mostrando os músculos, suas curvas e entradas abaixo do umbigo, suas coxas e pernas grossas, ela era irresistível.

— Agora... — foi se aproximando e eu abri espaço para ela se enfiar embaixo do chuveiro, quase como um impulso, como fiz anteriormente. O meu pensamento era de que ela queria expulsar o suor de seu corpo e sim, acertei, mas a seguir, ela me pegou pela cintura colidindo os nossos corpos.

 

   O seu maxilar ficou sobre a minha cabeça e eu não me movi, eu não queria tocá-la, mesmo estando coladas.

— Abra os braços! — ordenou assim que nos afastamos da água e eu o fiz — agora... olhe pra mim!

   E o fiz, já encontrando os castanhos e temendo o futuro daquele momento. 

— Peço desculpas pelo que fiz com você.

   O que?

   Estou sonhando?

   Pensar em suas palavras era tão intrigante. O que eu deveria fazer ali, segurada pela cintura e com aqueles lábios entreabertos próximos dos meus?

— Eu não sou e nunca fui uma pessoa cruel... eu estava cega e não pude ver que aquilo claramente doeria em você — havia sinceridade em sua voz, a primeira vez enfim.

   Continuei calada tendo flashes daquela punição que me deixou dolorida por três dias.

— Eu nunca mais usarei aquele tipo de coisa para te punir... você tem um corpo perfeito, digno de cuidado e proteção.

— Robyn...

— Courtney... — ela interrompeu o que visivelmente entalou em minha garganta — quero recomeçar com você e espero não te magoar, te decepcionar ou te obrigar a nada.

— Hã?— eu não estava acreditando em suas palavras e o meu coração acelerado não contribuía nenhum pouco.

— Aconteceu algo recentemente em minha vida que me magoou muito, então fiquei triste e sem rumo... a mulher que eu pensei que me amaria até o fim dos meus dias me abandonou, me deixando desacreditada no amor, na paixão, na gentileza e no companheirismo, qualidades e sentimentos que eu deveria ter usado com você desde que te conheci.

  

— Robyn, eu...

— Shh! — tampou minha boca com o polegar, onde me interrompeu novamente.

   Robyn desligou o chuveiro e foi me empurrando delicadamente até eu sentir a umidade e o frio da parede, o que me fez suspirar.

— Eu nunca imaginei que uma submissa me deixaria tão pensativa ou perdida... — foi subindo a mão de minha cintura — você me encantou com o seu jeito obediente e desastrado e eu nunca soube que isso fosse capaz de chamar a minha atenção — e sua mão chegou ao meu maxilar, onde fez um carinho em meu queixo, tirando o polegar da outra mão lentamente — eu evitei você por esses dias por me sentir um lixo e culpada por ter levantado a mão pra você, te punindo de um jeito horrível... eu precisava de alguém e preciso agora e por isso quero que saiba que eu... eu rasguei o contrato.

— O que? — não pude acreditar e acabei enfraquecendo as pernas, tombando para um dos lados, onde ela me segurou.

— Eu rasguei o contrato, Courtney.

— Mas... ainda falta um mês para o contrato vencer.

— Eu sei, mas... o fiz para garantir a você que não será mais punida, como também não será obrigada a nada que você não queira. Não se preocupe com dinheiro... você será recompensada do mesmo jeito... sei que não tem mais um emprego e que precisa ajudar os seus avós, como também pagar a sua faculdade. Você terá liberdade e poderá se expressar.

— Mas Robyn... — ajeitei a minha postura, continuando resgatada em seus braços — nele haviam cláusulas.— minha voz soou meio desesperada.

— Cláusulas essas que você poderá cumprir ou não... eu só exijo que você não se afaste de mim.

— Me dê uma prova... de que tudo o que disse é verdade — pedi, na verdade, eu exigi.

   Robyn pegou minha mão e repousou sobre o seu abdômen molhado, fazendo o mesmo contrair arrepiado. O que acabou me fazendo arrepiar junto.

— Não tenha medo de fazer o que deseja. — ela disse como se fosse um ultimato e aquilo fez o meu temor se afastar, abrindo espaço para o desejo.

   Toquei delicadamente observando cada ponto que se contraia e fui subindo, chegando e chegando aos seios perfeitos, os quais apalpei hesitante e assim minha mão seguiu para o seu pescoço apertando levemente a sua nuca e deixando toques em seus cabelos, fazendo os meus dedos umedecerem mais ainda. Naquele momento comprometedor, já me vi deleitada sobre o desejo e minha mão seguiu para a sua orelha, em seguida para a sua bochecha, fazendo um carinho manso, onde fiz os olhos castanhos se fecharem por alguns segundos e voltarem a olhar para mim.

— Você ainda quer dizer algo? — sussurrei e toquei seus lábios.

— Sim — e ela suspirou tocando o meu rosto com as duas mãos — quero que fique comigo, more comigo, faça amor comigo e... viva livremente.

   Sorri internamente com aquele pedido e confissão. A mulher misteriosa me pedirá algo, algo que eu também desejava da parte dela, mas eu precisava ter certeza de que ela iria seguir com as suas palavras.

   Afastei-me dela, que se aproximou impulsionada, mas parou hesitante me olhando esperançosa.

— E se eu não aceitar? — perguntei seriamente e vi ela abaixar a cabeça pensativa.

   Aquilo mexeu com os batimentos do meu coração e com o produzir de lágrimas que rodeavam em meus olhos ameaçando surgir e escorrer. Aquele momento era único e tocante.

— Você poderá ir... e eu... eu vou voltar a ser infeliz. — respondeu ligando o chuveiro e se enfiando embaixo da água.

   Infeliz. Foi isso que ela escondeu esse tempo todo, ela precisava de consolo, mas como estava cega não soube escolher a melhor forma de encontrar a felicidade. Mas não era apenas isso que ela escondia, tinha algo mais, algo que certamente eu descobriria, ouvindo de seus próprios lábios ou forçando a barra.

— Robyn? — a chamei, ela continuou embaixo da água e não se moveu, só estava calada.

   Eu me aproximei dela e a abracei por trás, empurrando o seu corpo um pouco para longe da água, tendo assim meu corpo junto ao dela.

— Diga Courtney.

— Eu... eu...

— Você?

— Eu aceito tudo.

   Houve um silêncio, mas não fora perturbador, fora como um consolo silencioso que dois corpos compartilhavam.

— Tenho o seu perdão, Courtney? — havia certa animação em suas palavras, o que me fez sorrir contra as suas costas.

— Sim Robyn.

   E assim, nos reconciliamos.

         

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Comments

Gabriela Pereira

Gabriela Pereira

uma pequena sugestão, narra a história através dos olhos da Robyn, ela expondo os sentimentos dela

2024-05-13

1

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