CAPÍTULO 9

— Costumo passar por aqui quando preciso respirar ar puro.

   Ouvi Robyn dizer aquelas palavras, ela andava de um lado para o outro às margens do rio East enquanto víamos as luzes da ponte do Brooklyn. Momentos antes estivemos em uma pizzaria, onde jantamos pizza com refrigerante, batata frita e com direito a uma salada.

— Já eu... — eu disse chutando pequenas pedras que se estendiam sob os nossos pés — nunca tenho tempo para passar por aqui.

   Robyn parou a centímetros de mim com um olhar duvidoso e agora pensativo, na verdade, esse olhar esteve presente desde que saímos da cobertura, mas não tão explícito, ela parecia estar buscando algo em seu interior ou lutando contra algo forte em sua mente.

— Por que estamos aqui? — perguntei para disfarçar o meu constrangimento, aquele olhar estava me deixando nervosa e com medo.

— Para respirarmos ar puro. — houve inocência em sua voz, uma inocência duvidosa.

— Ah. — assenti cruzando os meus braços.

   Houve um silêncio entre nós, como uma pausa no play e para não ficar mais nervosa com o olhar dela, observei os carros indo e voltando na ponte. Eu sabia que ela olhava apenas para o meu corpo e não para quem eu poderia ser. Se ela se abrisse um pouco eu tentaria me aproximar, conversar e criar um diálogo simples, nada forçado. Desde que nos conhecemos, ela apenas se interessou no prazer, na dominância e nada mais. Eu gostaria de saber mais sobre ela, saber sobre o seu passado e até mesmo da raiva que talvez passava no escritório, mas eu devia seguir as cláusulas no contrato e permanecer fora de sua zona particular.

— Você está com frio? — sussurrou em meu ouvido e eu paralisei.

   Como não ouvi ela se aproximando se eu não estava tão distraída?

— É... — minha voz falhou.

— Sim, você está com frio! — ela mesma respondeu.

— Talvez... só um pouco.

— Vou esquentar você! — disse e eu dei um passo largo para frente, onde e afastei quando ela tentou tocar os meus antebraços. Foi um movimento rápido, como um impulso talvez?

   Robyn não se moveu, mas eu pudia sentir que a minha decisão de me afastar não a agradou nenhum pouco. Arrepios em minha nuca, e sim, eram os seus olhos me examinando e em meio ao novo silêncio, ouvi o barulho das pequenas ondas que chegavam até a margem.

   Estávamos sozinhas ali.

— Devo esclarecer algo a você, Courtney!

   A sua voz séria me fez tremer por dentro, mas resolvi trocar palavras com ela.

— Sim... diga.

— Enquanto for a minha submissa... — meu coração acelerou por ela ter usado aquela palavra, uma palavra que me prendia como se fosse grilhões — você vai receber qualquer tipo de toque meu, sem se impor.

   Robyn certamente me magoou com a sua dureza. Ela era tão aleatória, tanto em diálogos comuns ou em situações comprometedoras. Como sua submissa eu deveria ceder a tudo.

— Você fez coisas que me deixaram irritada... eu pensei que poderia fazer outra coisa para não acabar fazendo o que tenho que fazer,  eu pensei muito, me segurei até agora para não passar dos limites, mas agora... eu vou fazer.

   Fazer o que?

   Estremeci só de imaginar o significado de suas palavras rudes e cheias de intimidação.

— Então... — se aproximou novamente e repousou as mãos em meus ombros os apertando com força, me causando uma leve dor — vá agora para o capô do carro e se sente nele!

— Hum? — me virei assim que tive os ombros soltos.

— Sente-se no capô do carro!

— E o que você fará comigo?

— Já que se impôs ao meu toque e violou cláusulas do contrato — respirou fundo — eu devo puni-la.

— E você vai mudar a minha forma de punição desta vez?

   Me encarou maliciosamente e os seus olhos demonstraram aborrecimento.

— Vou.

— Vai me bater? — meu coração acelerou mais e senti lágrimas se formarem em meus olhos.

— Vou usar um chicote.

   E a minha intuição estava certa, ela iria me punir por eu tê-la tocado e porque me impus ao seu toque.

— Só... — uma dor correu desde o meu quadril até a minha nuca — faça rápido. — pedi e fui para o capô do carro, onde me sentei e fiquei à sua espera.

   Robyn caminhou até a traseira do carro e abriu o porta malas, eu sabia que ela estava fazendo aquilo por causa do barulho, mas eu não imaginei em nenhum momento que ela deixava um chicote em seu carro, a verdade é que nunca pensei que ela poderia ter um. Aquilo certamente seria devido as punições que ela dava em suas submissas anteriores, sendo somente crueldade.

   Robyn voltou e parou em minha frente, onde tocou os meus joelhos com o chicote. Me arrepiei e pude imaginar a dor que aquele objeto assustador poderia causar em minha pele.

   Robyn não se importou com o meu olhar de choro, somente seguiu os seus instintos, fazendo as minhas coxas ficarem expostas enquanto ela subia o meu vestido até a altura da minha cintura.

   Ela alisou o lugar com a mão aberta e me arrepiei novamente. Aquele carinho era aceitável, mas o que viria a seguir, eu jamais desejaria sentir de novo.

   Com o olhar baixo, ela respirou fundo e acertou a ponta do chicote em minha coxa direita, me fazendo gemer de dor e encolher o corpo, aquela chicotada doeu e deixou o ligar vermelho. Pela segunda vez ela repetiu e assim gemi dolorosamente. Nunca na minha vida tive que passar por tamanho sofrimento, nem mesmo quando era uma criança e era castigada pelos meus pais.

   Robyn não olhava para o meu rosto, só para as marcas que deixou em mim e mais uma vez, ela me chicoteou, o que me fez chorar e me encolher mais.

   Robyn parou suspirando, parecia que tudo aquilo que ela fez foi contra a sua vontade porque não me olhou nos olhos em nenhum momento, eu saberia que ela estava satisfeita ao ver o sofrimento em meus olhos, mas não, ela não ousou olhar pra mim, mas será que realmente ela fez contra a sua vontade?

— Courtney? — ela me chamou com o olhar ainda baixo.

— Sim, Robyn? — respondi chorosa e sentindo uma lágrima escorrer em meu rosto.

— Entre no carro e me espere!

   Sem nada dizer, escorreguei no capô, tocando Robin já que ela não se moveu e dei a volta no carro, entrando em seguida.

   Limpei as lágrimas que escorreram e me atentei em Robyn através do espelho. Ela se virou e se abaixou, o que me fez perde-la de vista. Momentos depois ela se levantou, já sem o chicote.

   Aquele objeto assustador desapareceu milagrosamente e mesmo intrigada pelo fato, eu suspirei aliviada.

 

   Será que Robyn o enterrou?

   Vi Robyn ir até a água do rio East, ela se abaixou e fez um movimento, como se estivesse lavando as mãos, tive a certeza daquilo porque ela se virou balançando as mãos.

   É, pelo menos aquele chicote desapareceu, se o visse novamente, eu seria capaz de desmaiar.

   E então ela veio até o carro, onde entrou e me encontrou encarando o porta luvas. Eu não queria olhar em seus olhos. Ela era uma pessoa cruel, que sentia prazer machucando mulheres.

   Continuou um silêncio dentro do carro...

   Ela ligava e desligava o carro, era como se estivesse indecisa de algo. Já eu, só queria me afastar daquele lugar.

   Pensei que nós voltaríamos para a cobertura, assim que ela parasse com aquele movimento repetitivo, que me deixou impaciente, eu, uma pessoa que tinha acabado de ser chicoteada.

   O silêncio foi interrompido com um...

— Nunca mais se imponha a mim!

   Fiquei calada.

— Não seja invasiva!

   Concordei mentalmente.

— Não me toque a não ser que eu ordene!

   Aquilo me irritou profundamente porque já era bem claro pra mim.

— E se eu te fizer perguntas... responda sem rodeios!

   Concordei novamente sem usar palavras.

   Robyn pegou o celular do bolso de sua moletom e o desbloqueou, e o vi pelo reflexo no espelho. Ela parecia procurar algo na galeria do celular, o que me deixou curiosa pra saber o que era.

   E enfim, ela se virou pra mim, fazendo eu olhar fixamente em seus olhos, por ela ter virado o meu rosto através do meu queixo.

— Você violou cláusulas do contrato e eu a puni por isso.

— Foram apenas duas! — disse sem medo porque eu sabia muito bem o que fiz.

— Na verdade, Courtney... — ela apertou o meu queixo — foram três!

   Três?

— Como assim... três? — o três tremeu em minha voz.

— Veja você mesma. — disse virando a tela do celular e clicando no play de um vídeo.

— O que é... — antes de terminar, vi que era uma filmagem muito clara.

   No vídeo, eu e Lindsey estávamos muito próximas e com ela prestes a me beijar, exatamente como aconteceu naquela tarde.

   Intrigada e com vergonha, vi que eu realmente não podia fazer coisas que violassem o contrato e que Robyn teve razão ao me punir, no entanto, eu não me envolvi com Lindsey em nenhum momento, mas a filmagem mostrava claramente os lábios dela tocando os meus de leve.

— Ainda concorda que sejam duas?

— Não. — respondi e virei o meu rosto para encarar o porta luvas, logo que Robyn deixou o meu queixo livre.

— E eu presumo que você não queira repetir a idiotice de beijar aquela mulher de novo, ou qualquer um. — fora rude em suas palavras, era como os meus pais me dando uma ordem.

— Eu não a beijei... ela quase me beijou.

— Mas você demorou bastante tempo para decidir se a beijaria ou não!

— Sim... eu demorei, mas em nenhum momento eu concordei.

— Os lábios dela são nervosos obviamente e tocou os seus, o que você deveria ter impedido!

— Não deixarei que ela se aproxime de novo. — disse com a voz baixa.

— Excelente.

   Uns segundos se passaram e então ela deu a partida no carro, dando ré, se afastando das margens do rio East.

   Mas em meio a tudo aquilo, eu queria poder saber como e em qual momento eu fui filmada. Na biblioteca não tinha câmeras e naquele momento não havia ninguém, então, como ela conseguiu aquele vídeo?

   Enquanto seguíamos pelas ruas de Wall Street, eu massageava a minha coxa, onde recebi chicotadas, ainda estava dolorido e uma massagem seria um alívio momentâneo.

   Mas em um momento, Robyn repousou a mão sobre a minha me causando arrepios e disse:

— Vou fazer isso pra você!

   Hum? Ela vai o que?

   Me chicotear e depois me aliviar não era algo confuso?

— Tire a sua mão e apenas observe!

— Ok. — concordei e fiz como ela ordenou.

   Robyn foi massageando de leve, movimentos lentos e circulares e de fazer sentir uma leve dor e continuou enquanto dirigia atentamente a Mercedes.

   Estava ela tentando se redimir depois que me chicoteou?

   Não sei porque a minha mente produzia aquele tipo de pergunta, sendo que não obteria uma resposta. Ou será que o meu inconsciente queria aquilo e eu estava o impedindo? Querer ser confortada pela mesma mão que me punira?

   O que o seu inconscientemente está tentando alertar, Courtney?

   Raciocina mulher!

— Acho melhor você parar. — disse empurrando a mão de Robyn, que deslizou um pouco em minha coxa chegando ao joelho, mas voltou ao mesmo lugar em seguida.

— Você acha ou... — me olhou rapidamente — ou tem certeza?

— Tenho certeza. — minha voz foi impulsionada pela irritação de lembrar que levei chicotadas.

— Está bem. — ela disse tirando a mão e eu senti arder.

— Obrigada. — disse entre dentes e ali nos calamos.

 

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Comments

Maria Do Carmo Andrade

Maria Do Carmo Andrade

estou amando

2023-08-06

1

NotLiam

NotLiam

Precisamos de mais! Gostei muito, mas quero mais!👍

2023-07-28

2

Ver todos

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